Manuel Heitor: “Portugal investe ainda muito pouco no espaço”

Antigo ministro defende necessidade de reforçar verba para o espaço e vê nesta uma área estratégica para o país. Primeiro satélite português lançado desde 1993 leva o seu nome até à órbita da Terra.

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Manuel Heitor realça o caminho feito nos últimos cinco anos e iniciado durante o seu mandato José Coelho/LUSA
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No lançamento do primeiro satélite português em mais de 30 anos também há espaço para surpresas – e das boas. Manuel Heitor, antigo ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (entre 2015 e 2022), recebeu a notícia ao mesmo tempo de todos os outros na sala do centro tecnológico Ceiia, em Matosinhos: as iniciais do seu nome tinham sido escolhidas para nomear o satélite português lançado esta segunda-feira para o espaço. O MH-1, o outro nome do Aeros, chegou esta segunda-feira à órbita da Terra para ser o primeiro de muitos. Ao PÚBLICO, realça o trabalho iniciado durante o seu mandato e a necessidade de continuar a trabalhar para aproveitar o espaço – e, com isso, criar mais e melhor emprego.

Agora, há um satélite a caminho do espaço com o seu nome.
Foi uma surpresa, mas mais do que o meu nome temos de olhar para o futuro. O reforço das parcerias com as grandes universidades norte-americanas e o lançamento de uma estratégia para o espaço há cinco anos dão agora resultados. Mas este caminho já tinha começado, em 1999, com a participação de Portugal na Agência Espacial Europeia, com a criação na Ciência Viva de um programa para o espaço e com a criação do Ceiia.

Este é um percurso e o que aprendemos é estar sempre a pensar no futuro para construir o presente. Isto às vezes é difícil em termos políticos, mas o que fizemos em 2018 foi reforçar o MIT-Portugal [parceria com o Instituto de Tecnologia do Massachusetts] e lançar a estratégia do espaço para fazer novas coisas em Portugal – sobretudo para criar novos empregos e melhores empregos.

O espaço é hoje o sector mais desejado por todas as economias para criar melhores empregos, para garantir a segurança das nossas sociedades e a sua sustentabilidade ambiental e económica. Este [satélite] é só um pequeno passo e participar no sector do espaço é absolutamente crítico para qualquer sociedade futura. Isto é um pequeno passo num desafio enorme, e nós lançámos esse desafio em 2018: chegar a 2030 com dez vezes mais facturação do espaço e chegar aos 500 milhões de euros [em 2020, a facturação do espaço era de 40 milhões de euros].

Para isso há a meta de lançar 30 satélites até 2026 e o papel central do Atlântico na estratégia espacial portuguesa.
O espaço é uma questão claramente global, não se faz num só país. Portugal é um país de dimensão média que investe ainda muito pouco no espaço. As ligações com universidades como o Instituto de Tecnologia do Massachusetts, como se viu hoje [esta segunda-feira] aqui, são absolutamente críticas para penetrarmos nestes ambientes porque sozinhos não fazemos nada.

Quando criei a Agência Espacial Portuguesa foi para promover o espaço e integrar Portugal no contexto europeu – e é esse o nosso desafio.

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O momento do lançamento do satélite português Rui Oliveira

Este satélite foi lançado pela SpaceX, na Califórnia. Porquê? Porque não há lançadores europeus neste momento, não há nenhuma instituição ou empresa europeia que lance satélites. Portugal tem um posicionamento atlântico muito crítico e esta colaboração com os Estados Unidos é muito importante. Ao mesmo tempo temos de reforçar o contexto europeu e ajudar ao reforço deste contexto.

Este satélite vai durar três anos e é um satélite experimental e, portanto, o importante é vir o MH-2, o MH-3… E, como disse, o MH para mim é multiple hackathons, ou seja, múltiplos desafios. Testar novos desafios, novas tecnologias. Cada novo conhecimento científico no espaço são mais empregos criados. E o que se fez aqui ao longo dos anos foi criar centenas de novos empregos para jovens em Portugal. O espaço é nova ciência que cria empregos e, portanto, dá qualidade de vida às populações.

Sublinhou o investimento no espaço. Nesta altura de eleições fala-se muito em áreas estratégicas. O espaço é uma delas?
Claro que é. Mas as áreas estratégicas têm de ser os mercados a definir, não têm de ser os governos. São os mercados, são as pessoas, é a sociedade.

O que vimos ontem e hoje [domingo e segunda-feira] aqui é que os jovens querem mais espaço. Hoje há vários cursos de engenharia aeroespacial, mas para o espaço todas as áreas contribuem: é preciso história, sociologia, engenharia mecânica ou medicina. O espaço não é apenas engenharia aeroespacial, é uma conjugação de diferentes áreas que criam melhores empregos, mais bem pagos e com maior retorno económico. É esta evolução para áreas de grande desenvolvimento económico que temos de fazer.

Hoje é um pequeníssimo passo. Muito importante, mas pequeníssimo. E temos de ter a humildade de perceber que temos de continuar a fazer mais e melhor.

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