O PoSat-1 descolou em 1993: já não comunica, mas ainda está em órbita

A colocação do primeiro satélite português no espaço já foi há 30 anos. As promessas de um segundo PoSat não se cumpriram, mas o trabalho serviu de exemplo à nova fuga para o espaço de Portugal.

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Parte da equipa responsável pelo PoSat-1 com o pequeno satélite ao centro ARQUIVO PESSOAL DE CARVALHO RODRIGUES
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O momento de festa com a partida do primeiro satélite português para o espaço já celebrou 30 anos – estávamos na madrugada (em Portugal) do dia 26 de Setembro de 1993. Não houve continuação imediata na estratégia espacial portuguesa, mas esta segunda-feira Portugal volta a levar outro satélite para o espaço, o Aeros.

Se tudo correr bem, será o segundo satélite português a entrar em órbita. E, lá, também poderá “encontrar” o PoSat-1 lançado há três décadas, mas que continua a navegar na órbita terrestre, apesar de já não comunicar com a Terra desde 2016 – quando estavam previstos apenas sete anos de vida. Esta primeira experiência, alicerçada na indústria portuguesa (por exemplo, a Efacec e a Marconi) e no Ministério da Indústria e Energia do Governo de Cavaco Silva, demonstrou a sua utilidade sobretudo no final dos anos 1990, quando foi utilizada pelos militares portugueses para a transmissão de mensagens na Bósnia ou em Angola, por exemplo.

O legado do PoSat-1 é definido pela geração treinada à época e que hoje continua a trabalhar na área do espaço, seja o presidente da Agência Espacial Portuguesa, Ricardo Conde, ou Ivo Vieira, director executivo da LusoSpace, empresa portuguesa no domínio do espaço.

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Deodato Cardoso, um dos responsáveis pelo PoSat-1, a instalar o satélite no foguetão Ariane 4, em 1993 DR

Portugal não teria a capacidade de construir boa parte de um satélite, como hoje será possível, pelo que a tecnologia foi contratada à Universidade de Surrey, no Reino Unido. À boleia do foguetão europeu Ariane 4, o sucesso do primeiro satélite fez anunciar a hipótese de se construir um segundo satélite e, até, criar uma rede de satélites portugueses. “Uns meses antes do lançamento, em Junho de 1993, foi apresentada ao Governo a construção de uma rede de 23 satélites, chamada ‘NetSat’, para garantir que em cima de Portugal teríamos sempre três satélites a garantir as nossas comunicações”, relembrou Fernando Carvalho Rodrigues ao PÚBLICO, em Setembro do ano passado.

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Fotografias tiradas pelo satélite PoSat-1 a Portugal Arquivo pessoal de Carvalho Rodrigues

O processo caiu por terra com a mudança de Governo e a falta de investimento. A presença portuguesa no espaço voltava ao ponto de partida. Ou, melhor, quase ao ponto de partida, uma vez que havia o PoSat-1 a ser ponto de referência nas ambições de Portugal. Além do apoio às tropas portuguesas, o satélite português incorporava um sensor de estrelas com maior precisão do que a maioria dos satélites à data.

No entanto, além da formação de engenheiros portugueses e do apoio aos militares, o legado do PoSat-1 não é muito rico. A falta de continuidade será culpada disso. Nos 30 anos subsequentes, Portugal entrou na Agência Espacial Europeia, estudou-se a hipótese de instalar uma pequena indústria espacial e, por fim, em 2019 criou-se a Agência Espacial Portuguesa. Entretanto, nasceram dezenas de empresas ligadas ao sector, tal como os cursos de ensino superior direccionados para o espaço e aguarda-se a exploração da base espacial de Santa Maria, nos Açores.

Hoje, o objectivo é bastante mais ambicioso. Até ao final de 2026, Ricardo Conde quer ter 30 satélites portugueses no espaço. O primeiro será o Aeros, a lançar esta segunda-feira na Califórnia (EUA), e que inaugurará este lote de objectos espaciais portugueses a entrarem na órbita terrestre.

Ainda este ano, esperam-se mais dois lançamentos de satélites portugueses. O próximo poderá ser o ISTSat-1, um satélite criado por estudantes e professores do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, e com o qual pretendem criar um radar mais fidedigno para a aviação na Terra. Viajará a bordo do primeiro voo do novo foguetão europeu, o Ariane 6. Em Outubro deverá ser lançado o primeiro de 12 satélites da constelação VDES, liderada pela empresa LusoSpace, com o intuito de melhorar o sistema de comunicações marítimas. É uma nova era para Portugal e, desta feita, dificilmente será outra oportunidade perdida.

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