Salário mínimo exige resposta “agora” e não em 2028, defende novo líder da CGTP

Valorização dos salários é a prioridade da central sindical para o mandato de quatro anos que agora começa, sublinha Tiago Oliveira. CGTP defende salário mínimo de mil euros já em 2024.

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Tiago Oliveira foi eleito secretário-geral da CGTP na madrugada de sábado para um mandato de quatro anos LUSA/MIGUEL A. LOPES
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O novo secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira, defende que é preciso dar resposta imediata para aumentar o salário mínimo nacional e não remeter para 2028, como propõem alguns partidos candidatos às legislativas de 10 de Março.

Tiago Oliveira, que foi eleito líder da intersindical no sábado, afirma que os partidos devem responder "no concreto, no essencial e no agora", sobre quanto vão aumentar o salário mínimo nacional (SMN), actualmente nos 820 euros, em vez de apresentarem propostas apenas para o final da legislatura, como é o caso do PS ou da Aliança Democrática, que têm como meta os mil euros em 2028.

"Faz-me falta a mim no fim do mês, pagar a casa agora, não é daqui a quatro anos. Eu tenho de pôr a minha filha na escola agora, não é daqui a quatro anos. Porque é que temos de falar sempre no dia de amanhã? Foquemo-nos no agora e naquilo que é a resposta às necessidades que temos hoje em dia", realça, em entrevista à Lusa.

Tiago Oliveira lembra que a CGTP reivindica mil euros para o SMN já em 2024 e também um aumento geral dos salários em, pelo menos, 150 euros, tendo em conta a subida do custo de vida.

A valorização dos salários é, aliás, a prioridade da central sindical para o mandato de quatro anos que agora começa, além de um conjunto de reivindicações "a que é mesmo urgente dar resposta", como o problema da desregulação dos horários de trabalho.

"Vivemos numa actualidade em que se está a tentar passar uma imagem de normalização do trabalho aos fins-de-semana e aos dias de feriado, uma completa desregulação entre a vida pessoal e familiar, uma área a que temos de dar resposta e a que vamos estar atentos", assegura, acrescentando ainda que o combate à precariedade será também um dos desafios da intersindical.

A intervenção da CGTP vai ser sobretudo nos locais de trabalho, porque, diz, a resposta "parte sempre da base, da organização dos trabalhadores no seu próprio local de trabalho", onde o confronto entre a entidade patronal e o trabalhador mais se faz sentir.

Segundo vinca, "é aí que esse confronto tem de ser dado, porque é aí que está a luta de classes", mas também na rua para exigir ao Governo que sair das eleições do dia 10 de Março "uma reversão daquilo que têm sido as políticas seguidas ao longo destes últimos 40 anos".

Tiago Oliveira, que até agora era coordenador da União de Sindicatos do Porto, afirma-se preparado para agarrar a liderança da maior central sindical do país, até porque nunca teve a vida facilitada no confronto laboral com as entidades patronais do Norte.

"Nunca tive a sorte, hei-de ter, talvez um dia, mas até hoje nunca tive, de me sentar à mesa com um patrão a negociar um caderno reivindicativo em que o patrão estivesse disponível para alguma coisa, por isso, não tenho problema nenhum nesse aspecto", conta.

Já questionado sobre se o surgimento de movimentos inorgânicos de contestação pode retirar força aos sindicatos, Tiago Oliveira reafirma que estes movimentos surgem "por existir descontentamento, por existir trabalhadores sem resposta aos problemas, o que não inviabiliza nem um, nem outro".

"Aquilo que temos de analisar relativamente aos movimentos inorgânicos é, para já, muitas vezes, quem os promove, com que intuitos e qual o objectivo desses movimentos. Mas, no nosso entender, aquilo em que acreditamos é que os trabalhadores encontrarão sempre nos sindicatos da CGTP o seu aliado, o seu interlocutor", afirma.

Segundo o sindicalista, "a ideia de que cada um por si, sozinho", consegue alcançar os seus objectivos "é uma completa mentira", até porque se sabe "quem é que tem a faca e o queijo na mão e quem é que está à procura de trabalho para pagar a casa, a alimentação e pôr os filhos na escola".

A CGTP representa mais de 550 mil trabalhadores no país, tendo nos últimos quatro anos registado 110 mil novas sindicalizações, 15% das quais são jovens até aos 30 anos, segundo o relatório de actividades da intersindical.

Para este período pré-eleitoral, Oliveira defende que, mais do que reivindicar direitos, é preciso "vestir a farda do trabalho" e lembrar aos trabalhadores quem é que esteve ao lado deles nos últimos anos.

"Aquilo que temos de fazer enquanto CGTP, agora mesmo, nesta discussão das eleições de 10 de Março, é falar com os trabalhadores de política [...], dizer-lhes que é preciso olhar para quem somos enquanto trabalhadores, vestir a nossa roupa de trabalho, vestir o meu fato-de-macaco mecânico, que é o que sou na Auto Sueco, e perguntar quem é que está do meu lado, quem é que, durante anos, esteve do meu lado", anota.

“É tudo política”

Nesta entrevista à Lusa, Tiago Oliveira argumenta que é preciso estar em contacto com os trabalhadores, nos plenários, nas empresas, e lembrar que "é tudo política".

"Quando falamos da Agenda do Trabalho Digno, quando falamos que o nosso salário é baixo, que o horário de trabalho está completamente desregulado, quando saímos de casa e queremos ir ao centro de saúde e não temos médico, quando queremos pôr o nosso filho na faculdade e não temos capacidade para tal, o que é isto? São tudo decisões políticas", sublinha o sindicalista.

Rejeitando que a CGTP tenha em marcha uma espécie de campanha eleitoral nos locais de trabalho, Tiago Oliveira assegura tratar-se antes de fazer "uma discussão daquilo que interessa de facto aos trabalhadores", nomeadamente "falar sobre o seu caderno reivindicativo" e, ao mesmo tempo, questionar como é que se vão resolver os problemas.

"Quem é que está do meu lado? Quem é que durante anos esteve do meu lado? Quem é que tem uma política condizente com a minha, com quem eu sou como trabalhador?" – estas são as questões que devem ser colocadas aos trabalhadores, defende, acrescentando que "houve culpados" na política "durante 40 anos".

Tiago Oliveira, que é próximo do PCP (integra o comité central do partido), considera que esta "não é uma boa altura para reivindicar direitos", mas sim para se estar atento "àquilo que são os programas dos partidos".

Já sobre a questão de, no congresso da intersindical realizado no fim-de-semana, os cinco sindicalistas da corrente socialista terem ficado por opção fora da comissão executiva da CGTP, Tiago Oliveira diz que o assunto deverá ser ultrapassado em breve, recusando a ideia de que há rupturas entre os dirigentes da central.

"Houve um conjunto de camaradas que tomou essa decisão, e aquilo que foi dito e que está a ser trabalhado é para que tudo volte a estabilizar-se, a normalizar-se, e acredito que o mais brevemente possível isso vai ser conseguido", afirma.

Tiago Oliveira foi eleito secretário-geral da CGTP na madrugada de sábado para um mandato de quatro anos, com 107 votos a favor de um total de 132 elementos do conselho nacional que participaram na votação e com 25 votos em branco.

A eleição foi realizada após o encerramento dos trabalhos do XV Congresso da CGTP, que decorreu na Torre da Marinha, Seixal, distrito de Setúbal, nos dias 23 e 24 de Fevereiro.

O conselho nacional elegeu ainda a nova comissão executiva da CGTP, com 104 votos a favor e 29 em branco. Este órgão da central sindical é composto por 147 dirigentes, tendo votado 133.

Tiago Oliveira é mecânico de pesados na Auto Sueco e tem 43 anos, pelo que poderá fazer mais do que um mandato como líder da CGTP.

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