Tiago Oliveira eleito secretário-geral da CGTP por maioria de votos

De mecânico de pesados a secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira é visto como uma pessoa afável, “determinada e firme”. Foi eleito com 107 votos a favor e 25 em branco para o mandato de 2024 a 2028.

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Tiago Oliveira assume a liderança da CGTP nos próximos quatro anos, sucedendo a Isabel Camarinha LUSA/ANTÓNIO COTRIM
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Tiago Oliveira, 43 anos, actual coordenador da União de Sindicatos do Porto (USP) e próximo do PCP, foi eleito na madrugada deste sábado secretário-geral da CGTP, com 107 votos a favor e 25 votos em branco. A eleição teve a participação de 132 (dos 147) elementos do conselho nacional da Intersindical e foi realizada após o encerramento dos trabalhos do primeiro dia do 15.º congresso da Intersindical, que está a decorrer no Seixal.

Na mesma altura foi também eleita a nova comissão executiva da CGTP para o mandato de 2024 a 2028, tendo conseguido 104 votos a favor e 29 em branco.

Tiago Oliveira garantiu que a central sindical vai continuar a combater "todo o tipo de atropelos cometidos contra quem trabalha" e "lutar por uma política diferente".

"Vamos sair deste congresso mais fortalecidos com a certeza de que a luta dos trabalhadores será uma constante", sublinhou o novo secretário-geral que sucede a Isabel Camarinha, afastada dos órgãos da central sindical por estar próxima da idade da reforma.

O novo secretário-geral defendeu ainda que terá de haver um espírito de unidade para responder aos desafios do futuro. "Para ultrapassar os desafios e alcançar os objectivos será sempre em unidade, no local de trabalho, a falar com os trabalhadores, a mobilizá-los e a trazê-los para junto de nós", afirmou, citado pela Lusa.

Mecânico de pesados, Tiago Oliveira, é considerado uma pessoa afável, determinada e firme, garantindo quem o conhece que não vacilará perante os problemas.

Casado e com uma filha de 20 anos a terminar a faculdade, o novo secretário-geral tem desenvolvido até agora a sua actividade sindical no Norte do país. A partir de agora, vai passar a andar entre Lisboa, onde está sediada a CGTP, e São Mamede de Infesta (Matosinhos), onde reside. O facto de não se mudar para a capital não será um problema para o cumprimento das funções inerentes ao cargo de líder da maior central sindical do país, asseguraram fontes sindicais à Lusa.

O novo líder da CGTP "tem muitas qualidades humanas e sindicais" e uma delas é ser "determinado e firme", disse o histórico sindicalista João Torres, que trabalhou com Tiago Oliveira na direcção da USP.

Filho do também sindicalista Américo Oliveira, nasceu em Matosinhos, onde concluiu o 9.º ano de escolaridade e frequentou um curso profissional de electromecânica que lhe abriu as portas da Auto Sueco, na Maia, quando tinha apenas 17 anos. Cinco anos depois, foi eleito delegado sindical pelos colegas da empresa.

Passou a ser sindicalista a tempo inteiro em 2006 quando ingressou na direcção do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Norte (Site-Norte) e, mais tarde, sucedeu a João Torres no cargo de coordenador da USP, onde estava há 14 anos.

"Conheço o Tiago há quase 20 anos e sempre vi nele qualidades humanas e sindicais que me agradavam. É muito coerente, um jovem curioso, humilde, solidário e muito preocupado com os outros, de relacionamento muito fácil", afirmou João Torres.

Apesar de ser uma pessoa "de quem é fácil gostar e ficar amigo", o novo líder da intersindical "não vacilará" perante os patrões ou o Governo na luta pelos direitos dos trabalhadores, assegurou João Torres.

Também Sérgio Sales, dirigente do Site-Norte, destacou "a capacidade diplomática e para o diálogo" de Tiago Oliveira e a sua vontade de "fazer pontes" entre os dois lados da barricada, realçando o contributo do sindicalista na luta dos trabalhadores contra a privatização da Efacec.

Além da Efacec, os camaradas de Tiago Oliveira destacam a sua participação nas greves da extinta Petrogal, em Leça da Palmeira, e nos protestos realizados na Cerâmica de Valadares, além das realizadas na Auto Sueco, empresa onde decorre uma greve por melhores condições de trabalho.

Tiago Oliveira é o terceiro secretário-geral do Norte, tal como Manuel Carvalho da Silva, que assumiu a liderança da central com 34 anos de idade e que esteve na à frente da CGTP entre 1986 e 2012, e Armando Teixeira da Silva (1974-1986).

O novo secretário-geral da CGTP é próximo do PCP, integrando o comité central do partido, tendo sido eleito pela CDU nas últimas eleições autárquicas para a assembleia de freguesia de São Mamede de Infesta e Senhora da Hora.

De acordo com dados do último congresso, realizado em 2020, a CGTP representava 556 mil trabalhadores em todo o país. Os dados do actual mandato ainda não são conhecidos e apenas se sabe que “mais de 110 mil” pessoas sindicalizaram-se entre 2020 e 2024, ficando aquém da meta de 120 mil.

A CGTP é constituída por dez federações sindicais, 22 uniões e 79 sindicatos filiados. Agrega ainda cerca de 40 sindicatos que, não sendo filiados, convergem com a intersindical face a objectivos comuns, segundo dados da intersindical.

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