A resposta da Inditex à Shein chama-se Lefties e já vende mais do que a Zara

No ano passado, em Portugal, a Lefties atraiu ainda mais compradores do que a Zara. Contudo, a Inditex não divulga os resultados financeiros desta etiqueta mais acessível.

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Loja da Lefties em Istambul, na Túrquia Reuters/DILARA SENKAYA

A Inditex, proprietária da Zara e a maior empresa de fast fashion cotada em bolsa, está a expandir a marca Lefties, centrada na geração Z. Os preços baixos da etiqueta são uma aposta para fazer face à rival chinesa Shein, que está a revolucionar o sistema tradicional da moda.

O rápido crescimento da plataforma chinesa, sem lojas físicas, está a pressionar retalhistas como a Inditex e a sueca H&M a encontrarem formas de responder aos preços ultra económicos da rival. A Zara tornou-se menos competitiva desde que começou a aumentar os preços para proteger as margens de lucro da inflação e como parte de uma mudança de estratégia, em busca de clientes mais sofisticados.

Mas a empresa espanhola não se deixa vencer e, discretamente, está a aumentar as suas etiquetas mais económicas. A expansão da Lefties, que vende calças de ganga a 17,99€, vestidos por apenas 7,99€ e malas de mão a 5,99€, é parte fundamental dessa estratégia.

A Lefties, que começou por ser um ponto de venda dos restos de colecção da Zara, tem agora lojas em 17 países, incluindo Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egipto, México, Portugal, Roménia e Turquia.

O crescimento da marca mostra que a Inditex quer ter uma posição neste segmento de baixo valor, conseguindo simultaneamente aumentar os lucros da Zara — muito maior do que a Lefties em termos de vendas e número de lojas.

A Lefties está a crescer no mercado de origem, o espanhol, bem como no português, numa altura em que muitos consumidores estão a optar por compras mais económicas. Em Espanha, onde a Lefties tem 25 lojas, cresceram de cerca de 3,5 milhões de clientes em 2019 para cinco milhões em 2023, colocando-a logo atrás da Shein, que tem 5,2 milhões, com base em estimativas da empresa de estudos de mercado Kantar.

“A presença da Lefties em vários mercados emergentes mostra que é uma forma de a Inditex chegar a consumidores que podem estar menos dispostos a gastar na Zara”, opina Swetha Ramachandran, gestora da Artemis Fund Managers em Londres, que investe na Inditex.

O impacto da Shein no mercado da fast fashion e a forma como a Inditex pode fazer-lhe face “são temas que continuam a surgir nas reuniões com o gigante têxtil espanhol”, acrescenta a especialista. A Shein, não cotada na bolsa, é a maior retalhista de fast fashion do mundo, com uma quota de mercado estimada em 18%, segundo a Coresight Research.

No Instagram e no TikTok, a Lefties utiliza estratégias semelhantes às da Shein, apresentando micro-influenciadores na maioria das publicações — em contraste com a estética de alta moda das redes sociais da Zara.

“A fazer maravilhas”

Nas contas oficiais da Inditex, a Lefties continua a ser incluída no mesmo relatório de contas da Zara, o que significa que os seus resultados não são públicos. A Inditex não respondeu às perguntas da Reuters sobre os lucros e a estratégia da marca. A empresa só sublinhou que, há mais de duas décadas, que a etiqueta tem vindo a oferecer as suas próprias colecções para mulher, homem e criança.

“Não temos muita informação, mas penso que está a fazer maravilhas porque é a única no segmento de baixo custo com um bom serviço online”, avalia Patricia Cifuentes, analista sénior da Bestinver Securities.

Em Espanha, a rival Primark não tem loja online, enquanto a Shein demora entre dez a 12 dias a entregar as encomendas, o que faz da Lefties uma proposta mais forte, lembra a mesma especialista, acrescentando que a Inditex está a ganhar tempo, optando por manter o desempenho da marca privado. “Normalmente, leva tempo para um retalhista atingir a rentabilidade certa. Além disso, há uma vantagem em manter os resultados escondidos dos concorrentes por enquanto.”

Questionada sobre a Lefties, a Shein declara que não faz comentários sobre outras empresas. O retalhista anuncia que vai abrir este ano “várias” lojas temporárias em toda a Europa, depois de o ter feito em cidades como Berlim, Londres, Paris e Roma no ano passado.

A Primark afirma igualmente que não tece comentários sobre os concorrentes.

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A Lefties quer fazer face à Shein e à Primark Suzanne Plunkett/Reuters

Em Portugal, no ano passado, a Lefties atraiu ainda mais compradores do que a Zara, de acordo com estimativas da Kantar. “Se conseguirem desenvolver um negócio com uma rentabilidade adequada, tudo isso será positivo, desde que não canibalize as restantes marcas”, diz Grace Su, gestora da Clearbridge Investments, com sede em São Francisco, cujo fundo detém acções da Inditex.

No ano passado, a Lefties abriu as suas primeiras lojas na Roménia e na Turquia, e acrescentou lojas nos Emirados Árabes Unidos, onde opera através de parceiros de franchising.

Tudo isto enquanto a Zara e as outras marcas da Inditex, incluindo a Bershka e a Pull&Bear, estão a reduzir o número de lojas a nível mundial. No total, a Inditex tinha menos 585 lojas em 31 de Outubro de 2023 do que um ano antes.

Em Espanha, tal como a Zara, a Lefties concentra-se em grandes lojas nas principais cidades, com o seu espaço mais emblemático a abrir em Madrid no final de 2022.

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