Linha SOS Família-Adopção respondeu a 97 apelos, mas foram poucos os jovens adoptados a pedir ajuda

Aos pais adoptivos é recomendado que partilhem “o mais cedo possível” a informação sobre a origem da criança para que ela sinta que “sempre soube”.

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Os poucos jovens que ligam procuram saber como aceder às suas origens Manuel Roberto (arquivo)
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Os pais adoptivos, que procuram aconselhamento, correspondem a cerca de metade das 97 pessoas que contactaram a Linha SOS Família-Adopção. Esta linha foi lançada em Maio de 2021, enquadrada na Linha SOS Criança, também do Instituto de Apoio à Criança (IAC), e as 97 pessoas são referentes ao período entre a data de lançamento e o final de 2023.

Nestes serviços, os contactos são designados por "apelos". No caso de pais adoptivos, os apelos andam muito à volta de "saber como lidar com os filhos adolescentes quando há dificuldades de comportamento, de comunicação ou escolares, mas também da questão da revelação de serem filhos adoptados", expõe Fernanda Salvaterra, psicóloga clínica, investigadora especializada em adopção e responsável pelo lançamento desta linha no IAC. "Com algumas falamos mais do que uma vez e marcamos presencialmente", diz a psicóloga.​

A Linha SOS Família-Adopção é uma linha telefónica, anónima e confidencial para famílias adoptivas (na fase pós-adopção) e profissionais que necessitem de aconselhamento especializado e suporte emocional. Quem atende pode ser a própria responsável, uma psicóloga ou uma mãe adoptiva de dois filhos, que encaminha para Fernanda Salvaterra quando a situação carece de aconselhamento.

"Nalguns casos marca-se o aconselhamento presencial”, porque, como diz a especialista, são muitas vezes situações em que "as pessoas não querem o anonimato, querem é ajuda".

Abaixo das expectativas

Este balanço de 97 pessoas em dois anos e oito meses de existência ficou, até agora, aquém das expectativas, não apenas nos números mas na origem dos apelos.

“Esperava mais apelos de jovens, de 14, 15 ou 16 anos, em famílias adoptivas, e o que temos são jovens já adultos que foram adoptados em criança. Penso que isso tem a ver com o facto de estarmos a falhar na divulgação. Temos de ir às escolas e divulgar juntamente com a Linha SOS Criança”, com folhetos ou cartazes, explica Fernanda Salvaterra.

"Nalgumas situações, porém, são jovens adultos adoptados que telefonam à procura de informações sobre como aceder aos dados da família de origem”, continua a psicóloga. Entre estes, estão três "com acompanhamento psicológico no IAC".

Quando o contacto é para saber informações sobre como adoptar uma criança – o que corresponde, sensivelmente, à outra metade do total de contactos –​, "os pedidos são encaminhados para os serviços adequados”, acrescenta.

Dar conhecimento "o mais cedo possível"

Em 2019, nos 30 anos da SOS Criança, criada em 1989, o seu coordenador, o psicólogo Manuel Coutinho, dizia ao PÚBLICO que este serviço tinha sido “inovador por dar, pela primeira vez, a voz à criança” sem necessidade de intermediação de um adulto. No caso da SOS Família-Adopção, Fernanda Salvaterra destaca o espaço dado às pessoas, que “se sentem compreendidas e [podem falar] sem julgamentos”.

Na brochura explicativa do serviço prestado com esta linha especializada, são também oferecidas recomendações. Entre essas, é atribuída aos pais adoptivos "a função" de "dar abertura à criança para explorar as questões relacionadas com a adopção quando as mesmas surgirem ao longo do seu desenvolvimento" e é dito que "o conhecimento de que é adoptada introduz na criança a ideia de qualquer coisa diferente sobre si própria".

E, para quem possa ter dúvidas, esclarece-se que "este momento [de dar conhecimento] é da responsabilidade dos pais adoptivos", devendo a informação "ser partilhada o mais cedo possível com a criança, para que ela sinta que 'sempre soube'".

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