Astronauta russo bate recorde da presença humana no espaço – mais de 878 dias

Oleg Kononenko ainda deverá prolongar este recorde até meados de 2024 – e chegar aos 1000 dias no espaço. Apesar da experiência, o russo garante que ir ao espaço não tem ficado mais fácil.

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Oleg Kononenko antes da partida para a missão que o tornou recordista, já no ano passado MAXIM SHEMETOV/EPA
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O russo Oleg Kononenko bateu um novo recorde mundial para o tempo total já passado no espaço, ultrapassando o seu compatriota Gennady Padalka que esteve mais de 878 dias em órbita.

Às 8h30 (hora de Portugal continental) deste domingo, Oleg Kononenko ultrapassou esta barreira, anunciou a agência espacial russa Roscosmos. O astronauta russo deverá atingir um total de 1000 dias no espaço a 5 de Junho deste ano e, no final de Setembro, chegará aos 1100 dias – essa é a expectativa, pelo menos.

“Eu voo para o espaço para fazer a minha coisa favorita, não para quebrar recordes”, disse Oleg Kononenko à agência de notícias russa Tass, numa entrevista desde a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), onde está a orbitar a 423 quilómetros da Terra. “Estou orgulhoso das minhas conquistas, mas estou ainda mais orgulhoso por este recorde de presença humana no espaço continuar a ser detido por um cosmonauta russo.”

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O russo Oleg Kononenko suplanta o recorde de outro russo, Gennady Padalka MAXIM SHEMETOV/EPA

O russo de 59 anos arrebatou a liderança de Gennady Padalka, que esteve 878 dias, 11 horas, 29 minutos e 48 segundos no espaço – no total de todas as suas missões e não de forma continuada.

A antiga União Soviética assustou o Ocidente no início da era espacial ao tornar-se o primeiro país a lançar um satélite para a órbita da Terra – o Sputnik 1, em 1957 – e também o primeiro humano a viajar para o espaço, com o voo de Iuri Gagarin em 1961.

A queda da União Soviética, em 1991, deixou o programa espacial da Rússia com cortes enormes de financiamento e corrupção. Mais recentemente, os responsáveis pela política espacial sob as ordens de Vladimir Putin, Presidente da Rússia, prometeram restaurar a força dos programas espaciais, apesar de ainda subsistirem vários problemas – em Agosto, a tentativa de regresso da Rússia à Lua esbarrou na superfície do satélite terrestre.

Ir ao espaço não ficou mais fácil

Oleg Kononenko faz exercício físico com regularidade para contra-atacar os efeitos da ausência de peso (provocada pela quase inexistente gravidade), mas foi ao regressar ao planeta Terra que percebeu quanto tinha perdido da vida.

“Não me sinto deprimido ou isolado”, afirma. “Só ao voltar para casa é que percebo que, durante centenas de dias sem mim, as crianças cresceram sem o pai. Ninguém me vai devolver estes dias.”

Agora, os astronautas podem usar videochamadas e mensagens para manter o contacto com os familiares, mas a preparação para cada novo voo espacial tornou-se mais difícil devido aos avanços tecnológicos.

“A profissão de cosmonauta é cada vez mais complicada. Os sistemas e as experiências são cada vez mais complicados. E, repito, a preparação não tem ficado mais fácil”, admite.

Oleg Kononenko sonhava ir ao espaço quando era criança e inscreveu-se num instituto de engenharia antes de começar o treino para se tornar astronauta. A primeira ida ao espaço foi em 2008.

A viagem actual à ISS foi lançada no ano passado, a bordo do foguetão Soiuz MS-24. A ISS é um dos poucos projectos internacionais em que Estados Unidos e Rússia ainda trabalham juntos. Em Dezembro, a Roscosmos anunciou que o programa de voos conjuntos com a NASA tinha sido prolongado até 2025.

As relações noutras áreas dissiparam-se desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, há quase dois anos, em que os Estados Unidos responderam com o envio de armas para a Ucrânia e repetidas sanções à Rússia.

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