António Costa entre potenciais sucessores de Charles Michel no Conselho Europeu

São vários os nomes que já circulam, entre os quais o de António Costa, se os Socialistas Europeus tentarem, em 2024, garantir a presidência do Conselho Europeu.

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António Costa com Charles Michel Nelson Garrido
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António Costa reúne vários apoios para suceder a Charles Michel, apesar de manter que a possibilidade de assumir a presidência do Conselho Europeu é neste momento "especulativa". Muitos nomes são já apontados como possíveis sucessores do liberal belga Charles Michel à frente do Conselho Europeu, entre os quais o do ainda primeiro-ministro português, António Costa, mas tudo dependerá dos resultados das eleições europeias de Junho.

A decisão de Charles Michel, anunciada pelo próprio no último fim-de-semana, de abandonar a presidência do Conselho Europeu já no Verão, e não em Novembro no final do seu segundo mandato de dois anos e meio, dada a intenção de se candidatar às eleições europeias à frente dos liberais belgas francófonos do MR, antecipou a sempre muito animada “corrida” aos lugares de topo das instituições da União Europeia (UE).

Tradicionalmente, a distribuição dos cargos institucionais de topo na UE é decidida em função dos resultados das eleições para o Parlamento Europeu, devendo reflectir o equilíbrio político saído das urnas e assegurar também a diversidade geográfica e de género, e tem sido negociada em “pacote”, com a escolha, em simultâneo, dos presidentes da Comissão, do Conselho Europeu, do Parlamento Europeu, e ainda do Alto Representante para a Política Externa (a chefia da diplomacia europeia) e da presidência do Banco Central Europeu (BCE).

Sendo assim impraticável o nome do sucessor, ou sucessora, de Charles Michel ser decidido antes de conhecidos os resultados das eleições europeias, que decorrem entre 6 e 9 de Junho, o anúncio de Michel tem o condão de lançar informalmente as grandes manobras de bastidores e colocar pressão sobre as grandes famílias políticas nas suas escolhas sobre os seus candidatos, assim como sobre a própria presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, que tem mantido o “tabu” sobre se irá ou não recandidatar-se ao cargo.

Com as sondagens a apontarem para uma acentuada subida da extrema-direita, o que poderá provocar uma alteração profunda no equilíbrio de forças no seio da UE e a colocar até em causa o tradicional entendimento entre as forças de centro-direita e centro-esquerda na distribuição dos lugares de topo, é no entanto expectável, de acordo com todos os estudos de opinião, que o Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, mantenha a sua hegemonia e volte a ganhar as eleições, e os Socialistas Europeus sejam, como habitualmente, a segunda força mais votada.

A confirmarem-se tais resultados, o PPE terá direito, em teoria, a manter a presidência do executivo comunitário, há muito nas suas mãos e da qual não abdicará, enquanto os Socialistas Europeus podem legitimamente aspirar a ficar, no novo ciclo institucional, com a presidência do Conselho Europeu, que, após as eleições europeias de 2019, permitiram que ficasse nas mãos de um liberal (Charles Michel), ainda que o Renovar Europa tenha sido apenas a terceira força política europeia mais votada há cinco anos.

São vários os nomes que já circulam, entre os quais o de António Costa, no cenário de os Socialistas Europeus desta feita, e como tudo indica, “apontarem” à presidência do Conselho — após na última legislatura terem ficado “apenas” com a chefia da diplomacia europeia, atribuída a Josep Borrell, e repartido com o PPE a presidência do Parlamento Europeu, que na primeira metade da legislatura foi exercida pelo italiano David Sassoli, até à sua morte por razões de saúde.

António Costa continua a ser um nome muito falado em Bruxelas e que reúne vários apoios para suceder a Charles Michel, apesar da demissão do cargo de primeiro-ministro devido uma investigação judicial sobre a instalação de um centro de dados em Sines e negócios de lítio e hidrogénio que levou o Ministério Público a instaurar um inquérito autónomo no Supremo Tribunal de Justiça em que é visado, e de manter que a possibilidade de assumir a presidência do Conselho Europeu é neste momento “especulativa”, pois o que vai acontecer não depende de si, “mas de outras instâncias”.

Recentemente, a edição europeia do Politico — publicação atentamente lida em Bruxelas, incluindo pelos decisores políticos – comentava que Costa, a figura com maiores probabilidades entre os socialistas europeus de vir a ocupar um lugar de topo, “não foi considerado culpado de nada e ainda pode vir a reclamar um emprego em Bruxelas”, até porque “não seria a primeira vez que um alto funcionário da UE seria nomeado depois de ter estado envolvido num escândalo”.

A publicação lembrava, designadamente, que, em Julho de 2014, Jean-Claude Juncker foi eleito presidente da Comissão Europeia um ano depois de se ter demitido do cargo de primeiro-ministro luxemburguês no âmbito de um escândalo que envolveu os serviços secretos do país, alegadamente por condutas impróprias sob a sua supervisão, e também a sua sucessora no Berlaymont, Von der Leyen, viu-se envolvida num escândalo quando era ministra da Defesa alemã, com alegações de que contratos lucrativos do seu ministério foram adjudicados a consultores externos sem a devida supervisão.

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