Jean-Claude Juncker, candidato provável da direita europeia à sucessão de Barroso

Congresso do PPE vota sexta-feira o seu candidato, sabendo que mesmo que ganhe as eleições europeias deverá procurar outro nome por pressão dos Governos dos 28.

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Juncker pode ser escolhido para substituir Herman Van Rompuy e não Durão Barroso ERIC FEFERBERG/AFP

As peças do futuro braço-de-ferro entre o Parlamento Europeu (PE) e os Governos da União Europeia (UE) para a sucessão de Durão Barroso na presidência da Comissão Europeia ficarão completas na sexta-feira com a escolha pelos conservadores do Partido Popular Europeu (PPE) do seu candidato ao cargo.

Jean-Claude Juncker, ex-primeiro-ministro do Luxemburgo durante 18 anos, dos quais oito também como presidente do Eurogrupo (os ministros das Finanças do euro) é o aspirante em melhor posição para ser eleito o candidato oficial do PPE no congresso desta quinta e sexta-feira em Dublin. A reunião contará com os líderes dos partidos-membros, incluindo o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, mas igualmente a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, e o vice-primeiro-ministro, Paulo Portas.

A ideia de escolher candidatos à sucessão de Barroso, que termina o mandato no fim de Outubro, partiu das famílias políticas europeias, que, apoiando-se nas disposições do Tratado de Lisboa que atribuem a eleição do presidente da Comissão ao PE, consideram que lhes cabe igualmente a escolha. Os 28 Governos da UE discordam, argumentando que são eles, segundo o tratado, que têm de propor o presidente da Comissão, tendo em conta o resultado das eleições europeias (que decorrem este ano entre 22 e 25 de Maio), cabendo depois ao PE votar a sua investidura.

A escassas semanas do início da campanha eleitoral, este diferendo foi posto em banho-maria, mas terá de ser resolvido possivelmente durante a cimeira extraordinária de líderes da UE prevista para 27 de Maio. Até lá, todas as famílias políticas, exceptuando o PPE, já designaram o seu candidato, que vai ser o chefe de fila da campanha eleitoral dos respectivos partidos em todos os países. Desta forma, defendem os partidários da ideia, os cidadãos europeus poderão identificar-se com a pessoa que irá presidir durante os próximos cinco anos à Comissão Europeia, o órgão executivo da UE.

Os socialistas confirmaram há uma semana o actual presidente do PE, o alemão Martin Schulz, como seu candidato. Os liberais elegeram Guy Verhofstadt, ex-primeiro-ministro belga e presidente da respectiva bancada parlamentar no PE, em detrimento de Olli Rehn, actual comissário europeu responsável pelos Assuntos Económicos e Financeiros e a “cara” da troika de credores internacionais de Portugal, Grécia, Irlanda e Chipre. Os "verdes" optaram pela candidatura dupla da alemã Ska Keller e do francês José Bové. Finalmente, a esquerda seleccionou o grego Alexis Tsipras, presidente do partido Syriza que quer correr com a troika do país.

O risco de o PE entrar em confronto com os Governos, caso estes não escolham o candidato do partido mais votado, é real. Os 28, que recusam ser pressionados, poderão, no entanto, evitar uma crise com o PE se nenhum dos principais partidos (PPE e socialistas, hoje com 274 e 193 eurodeputados, respectivamente) conseguir uma vitória folgada, como parece ser o caso. As  sondagens colocam-nos taco a taco – com uma ligeira vantagem para os socialistas –, o que reforça a ideia de que será preciso encontrar uma figura de compromisso capaz de fazer a ponte entre as duas sensibilidades.

Juncker e Schulz têm assim muito poucas probabilidades de serem nomeados pelos 28, a menos que o seu partido ganhe as eleições por maioria absoluta. Aliás, e inda que esteja bem colocado para ser o candidato do PPE à Comissão, Juncker é sobretudo falado enquanto possível próximo presidente do Conselho Europeu (as cimeiras de líderes da UE), em substituição do belga Herman Van Rompuy, que também termina o mandato no fim do ano. A ideia não entusiasma a Alemanha, o que leva algumas fontes no PPE a considerar que não está excluído que Durão Barroso possa ficar com o cargo.

A busca de compromissos poderá, de resto, ser facilitada pela existência de vários cargos a preencher: além dos presidentes da Comissão e Conselho Europeu, ainda haverá que escolher o alto representante para a política externa da UE, o presidente permanente do eurogrupo, o presidente do PE e até o secretário-geral da NATO. Em caso de vitória do PPE, que, segundo as sondagens, está longe de adquirida, Schulz é visto como um possível futuro alto-representante para a política externa, ou eventualmente, num segundo mandato de presidente do PE.

No congresso do PPE, os partidos-membros terão de se pronunciar na sexta-feira sobre outros dois candidatos: o francês Michel Barnier, actual membro da Comissão Europeia responsável pelo mercado interno e serviços financeiros – muito apreciado no PE pelo seu trabalho de moralização do sector financeiro – e o ex-primeiro-ministro da Letónia Valdis Dombrovski.

Com o prazo para a apresentação de candidaturas encerrado nesta quarta-feira ao meio-dia, o nome do primeiro-ministro da Finlândia, Jirki Katainen, que chegou a ser mencionado, não foi apresentado. O que não quer dizer que não possa ser o próximo presidente da Comissão, já que nenhum dos candidatos oficiais tem grandes probabilidades de vir a ser o escolhido. O mesmo poderá acontecer com o chefe do Governo polaco, Donald Tusk, que aspira, em segredo, ao cargo.

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