Ex-presidente de Harvard admite erros mas diz que foi vítima de uma “guerra” contra a “sociedade americana”

Acusada de anti-semitismo e de plágio, Gay escreveu um artigo de opinião a explicar os contornos da saída da presidência da universidade e a denunciar “ameaças” e uma “armadilha bem montada”.

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Claudine Gay apresentou a demissão na terça-feira Reuters/KEN CEDENO

Um dia depois de ter anunciado a demissão da presidência da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, não resistindo a uma enorme polémica sobre limites da liberdade de expressão e discurso anti-semita, e a acusações de plágio, Claudine Gay escreveu um artigo de opinião, publicado pelo New York Times, a explicar os contornos da sua decisão.

Assumindo que cometeu erros, diz que tem sido alvo de “ameaças de morte” e de incontáveis insultos racistas, baseados “em estereótipos reciclados e gastos sobre o talento e o temperamento” dos negros, e defende que a campanha que foi montada contra si, por activistas políticos do movimento conservador norte-americano, que rotula de “oportunistas”, é algo que “ultrapassa uma universidade ou um líder”.

“Isto foi apenas um pequeno conflito numa guerra alargada para desmantelar a confiança pública nos pilares da sociedade americana”, denunciou. “Instituições credíveis de todo o tipo – desde agências de saúde a organizações noticiosas – vão continuar a ser vítimas de tentativas coordenadas para por em causa a sua legitimidade e para arruinar a credibilidade dos seus líderes.”

Acusada de membros do Partido Republicano e por organizações judaicas de tolerar o discurso anti-semita na universidade, na sequência do ataque do Hamas contra civis e militares de Israel, a 7 de Outubro, e de não condenar directamente o movimento islamista palestiniano, Gay, e outras duas presidentes de universidades prestigiadas dos EUA, recusaram-se a afirmar, numa audição no Congresso norte-americano, que as mensagens anti-semitas e que eventuais apelos ao genocídio dos judeus proferidos nos campus universitários violavam as regras e os códigos de conduta das instituições.

Admitindo que errou na sua abordagem em resposta ao ataque do Hamas, a primeira presidente negra de Harvard – que abandona o cargo ao fim de apenas seis meses – disse, no entanto, que caiu “numa armadilha bem montada” no Congresso.

“Sim, cometi erros. Na minha resposta inicial às atrocidades de 7 de Outubro, devia ter afirmado com mais firmeza aquilo que todas as pessoas de boa fé sabem: que o Hamas é uma organização terrorista que pretende erradicar o Estado judeu”, escreveu. “E, numa audição no Congresso, no mês passado, caí numa armadilha bem montada. Fui negligente e devia ter articulado de forma clara que os apelos ao genocídio do povo judeu são abomináveis e inaceitáveis, e que iria utilizar todas as ferramentas à minha disposição para proteger os alunos desse tipo de ódio.”

“Mais recentemente, os ataques focaram-se no meu percurso académico. Os meus críticos encontraram casos nos meus escritos académicos em que algum material foi duplicado, sem as devidas referências. Acredito que todos os estudiosos merecem crédito total e adequado pelo seu trabalho. Quando tomei conhecimento dos erros, solicitei prontamente as correcções às revistas que publicaram os artigos sinalizados, de forma consistente como foram tratados casos semelhantes de professores em Harvard”, informou ainda.

Denunciadas pelo activista Christopher Rufo e pelo jornalista Christopher Brunet, da revista The American Conservative, através do site conservador Washington Free Beacon, as acusações de plágio basearam-se em trabalhos de Gay em que, segundo o New York Times, a ex-presidente de Harvard “não foi acusada de roubar ideias, mas sim de copiar linguagem de outros académicos, com pequenas alterações para substituir palavras ou frases, ou para as ordenar de forma diferente”.

“Nunca deturpei os resultados das minhas investigações, nem nunca reivindiquei créditos pelas investigações de outros”, assegurou Gay “Além disso, os erros de citação não devem escamotear uma verdade fundamental: defendo com orgulho o meu trabalho e o seu impacto.”

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