Como o sono dos ursos pode dar pistas sobre como fintar doenças

Cientistas descobriram que ursos diminuem a quantidade de uma proteína no sangue para evitar coágulos durante a hibernação. Os estudos com esquilos também podem ajudar a evitar doenças em humanos.

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A hibernação nos ursos tem pistas sobre o sono nos humanos KAI PFAFFENBACH/Reuters

Uma equipa de cientistas nos países europeus nórdicos, nos Estados Unidos e Canadá está a entrar em tocas de ursos hibernados e a estudar esquilos à beira de morrerem congelados para apurar como é que os humanos podem aprender com aqueles animais a evitar problemas de saúde como os coágulos sanguíneos, lesões cardíacas e a perda de massa muscular.

Os esforços parecem estar a chegar a bom porto, conta o jornal The Washington Post: Ole Frøbert, um cardiologista do Hospital Universitário de Örebro​ (Suécia) e investigador da Universidade de Aarhus (Dinamarca) descobriu que uma proteína responsável pela coagulação do sangue, a HSP47, circula em menor quantidade no Inverno nos ursos quando hibernam.

A mesma proteína também foi detectada em menores quantidades na circulação sanguínea de pessoas com lesões na medula espinhal — explicando porque é que, apesar de estarem paralisadas ou com os movimentos limitados, não desenvolvem mais coágulos sanguíneos em comparação com as pessoas sem lesões.

Do outro lado do oceano, nas Grandes Planícies entre os Estados Unidos e o Canadá, a cientista veterinária Ashley Zehnder, co-fundador da Fauna Bio, está a desenvolver um produto que procura melhorar a função cardíaca em doentes que sofreram lesões. É o resultado de uma investigação feita com esquilos-terrestres-rajados, cuja temperatura corporal fica pouco acima dos zero graus Celsius durante a hibernação no Outono e Inverno.

Estes esquilos movem-se a cada uma ou duas semanas e depois caem novamente naquele estado de conservação de energia durante os meses frios — mas a sua função cardíaca não sai prejudicada. De acordo com os estudos de Ashley Zehnder, o motivo reside em genes que são activados quando a hibernação acaba para reparar o coração à medida que o organismo volta a aquecer.

Outra investigação sobre os esquilos-terrestres-rajados, desenvolvida por Hannah Carey na Universidade de Wisconsin (Estados Unidos), já tinha descoberto que estes animais têm microrganismos intestinais que transformam os subprodutos químicos produzidos pelas células em aminoácidos que ajudam a manter a massa muscular, mesmo depois de longos períodos de hibernação.

O tema ainda é recebido com cepticismo na comunidade científica, lamentaram os investigadores em declarações ao The Washington Post, com muitos cientistas a defenderem formas tradicionais de estudar os animais — em ambiente laboratorial. Mas o interesse está a crescer: até a agência espacial norte-americana NASA tem financiado estudos da hibernação em animais, na esperança de que esses dados possam ser aplicados na saúde humana. Era uma mais-valia na exploração espacial porque permitiria conservar o organismo dos astronautas em viagens longas, como a que a NASA está a preparar até Marte.

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