Alexei Navalny está preso numa remota colónia penal no Árctico

Após três semanas sem contacto com os seus apoiantes, Navalny estará agora detido numa das prisões mais duras da Rússia.

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Alexei Navalny está detido desde 2021, ano em que regressou à Rússia Reuters/YULIA MOROZOVA
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O líder oposicionista russo Alexei Navalny, que está preso desde 2021, foi localizado numa colónia penal a norte do Círculo Polar Árctico, informou esta segunda-feira, 25 de Dezembro, a sua porta-voz, depois de os seus apoiantes terem perdido o contacto com ele durante três semanas.

Navalny foi localizado na colónia penal IK-3, em Kharp, na região de Yamal-Nenets, cerca de 1900 quilómetros a nordeste de Moscovo, disse a porta-voz Kira Yarmysh, adiantando que o advogado do político russo conseguiu vê-lo na segunda-feira. “Alexei está bem”, acrescentou Yarmysh.

Os aliados de Navalny, que se preparavam para a sua esperada transferência para uma colónia de “regime especial”, o grau mais severo do sistema prisional russo, disseram que ele não era visto pelos advogados desde 6 de Dezembro e deram o alarme sobre o possível destino.

“Muito obrigado aos nossos apoiantes, activistas, jornalistas e meios de comunicação social que se preocupam com o destino de Alexei e que não se cansam de escrever sobre a situação”, declarou o advogado de Navalny, Ivan Zhdanov.

A nova prisão de Navalny, conhecida como a colónia “Lobo Polar”, é considerada uma das colónias penais mais duras da Rússia, onde a maioria dos prisioneiros foi condenada por crimes graves. Os invernos são rigorosos: as temperaturas devem cair para cerca de 28 graus negativos na próxima semana.

Cerca de 60 quilómetros a norte do Círculo Polar Árctico, a prisão foi fundada na década de 1960 como parte do que foi outrora o sistema Gulag de campos de trabalhos forçados soviéticos, de acordo com o jornal Moskovsky Komsomolets.

"As condições lá são duras”, disse Leonid Volkov, um assessor de Navalny, lamentando que seja difícil comunicar com os prisioneiros detidos naquele local remoto.

O advogado Zhdanov disse que os apoiantes de Navalny tinham enviado 618 pedidos de informação sobre a sua localização e sugeriu que as autoridades russas queriam isolar Navalny antes das eleições presidenciais de Março.

Navalny, que estava detido numa colónia penal 235 quilómetros a leste de Moscovo, diz que foi preso porque é visto como uma ameaça pela elite política russa. Como prisioneiro, não pode concorrer às eleições.

O político oposicionista nega todas as acusações pelas quais foi condenado e classifica o sistema judicial russo como profundamente corrupto. A Rússia diz, por sua vez, que ele é um criminoso condenado.

Navalny, agora com 47 anos, ganhou a admiração da oposição russa por ter regressado voluntariamente à Rússia em 2021, vindo da Alemanha, onde tinha sido tratado àquilo que os testes laboratoriais ocidentais mostraram ser uma tentativa de envenenamento com Novichok, uma arma química altamente tóxica, fabricada nas décadas de 1970 e 80 na União Soviética.

Navalny afirma ter sido envenenado na Sibéria em Agosto de 2020. O Kremlin negou ter tentado matá-lo e afirmou não haver provas de que tenha sido envenenado com um agente nervoso.

Os apoiantes vêem-no como um possível futuro líder da Rússia, embora não seja claro o apoio popular que Navalny tem dentro do país.

O Kremlin acusa Navalny e os seus apoiantes de serem extremistas com ligações à CIA, que dizem estar a tentar desestabilizar a Rússia. O seu movimento político foi proibido pelas autoridades, obrigando muitos dos seus seguidores a fugir para o estrangeiro.

No mês passado, Navalny lamentou o péssimo estado dos dentes dos reclusos nas prisões russas.

“A má nutrição, a falta de alimentos sólidos, muitos doces (os alimentos mais acessíveis), muito chá forte, fumar e a ausência total de cuidados dentários são os factores que os afectam", afirmou na altura.

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