Navalny está desaparecido há uma semana: “Pode estar em qualquer lado”

Sem notícias do opositor político russo, familiares e amigos suspeitam de que tenha sido transferido para outra prisão. EUA e UE assumem “preocupação”, Kremlin critica interferência “inaceitável”.

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Navalny está detido desde 2021 e foi condenado a mais de 30 anos de prisão. Representantes denunciam "motivações políticas" Reuters/EVGENIA NOVOZHENINA
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Os familiares e amigos de Alexei Navalny não têm notícias suas há sete dias e suspeitam de que tenha sido transferido – ou que esteja a ser transferido – para uma nova prisão de alta segurança, possivelmente no interior da Rússia.

Detido desde 2021 e condenado por vários crimes, como fraude, apoio a uma “rede extremista” ou violação de liberdade condicional, que o activista e opositor político e os seus aliados dizem resultar de um processo de “perseguição” com “motivações políticas”, Navalny encontra-se desde meados do ano passado na colónia penal de IK-6, em Melekhovo, a mais de 230 quilómetros a leste de Moscovo.

Uma vez que foi condenado, no Verão, a mais 19 anos de prisão – que acrescem à pena de 11 anos e meio que já estava a cumprir – os seus representantes admitiam a possibilidade de Navalny ser transferido para uma colónia de “regime especial”, que a Reuters descreve como o “nível mais severo do sistema prisional” da Federação Russa.

A confirmar-se esta hipótese, é provável que o destino do activista político seja longe de Moscovo. O processo de transferência de prisioneiros pelo vasto território russo costuma demorar vários dias, sendo feito, na maioria dos casos, através de comboio.

“Ele pode estar em qualquer lado. E, pior, pode ser transferido durante várias semanas”, lamentou, citado pela AFP, Leonid Volkov, aliado de Navalny, que teme pelo já frágil estado de saúde do prisioneiro.

Depois de ter dito, na segunda-feira, que Navalny já não se encontrava na prisão de Melekhovo, a sua porta-voz, Kira Iarmish, recorreu esta terça-feira ao X (antigo Twitter) para explicar que as autoridades prisionais justificaram a não-comparência do opositor político numa sessão de tribunal, por videoconferência, com um “problema de electricidade”. E acrescentou que tinha informações que apontavam para a sua transferência.

“Um funcionário da colónia penal IK-6 disse que o Alexei abandonou a colónia, mas que não sabia, alegadamente, para onde tinha sido transferido”, escreveu na rede social, insistindo nas “motivações políticas” do processo. “Levaram-no assim que [Vladimir] Putin anunciou a nomeação [como candidato à presidência da Rússia, nas eleições de Março]. Uau, que coincidência...”, zombou Iarmish.

O desaparecimento de Alexei Navalny motivou reacções de “preocupação” da Casa Branca e da União Europeia.

Na segunda-feira, John Kirby, conselheiro de Segurança Nacional do Governo norte-americano, apelou à “libertação imediata” do opositor político. “Ele nunca devia sequer ter sido preso”, atirou.

Esta terça-feira, o alto-representante para a Política Externa e Segurança da UE, Josep Borrell, disse que as “notícias altamente preocupantes” sobre o “desaparecimento” de Navalny “há sete dias” justificam uma tomada de posição do Kremlin.

“A liderança política russa é responsável pela sua segurança e saúde na prisão e será responsabilizada por elas”, escreveu no X. “A UE reitera o seu apelo à libertação imediata e incondicional [de Navalny] por um encarceramento politicamente motivado.”

Em resposta, o Governo russo disse que não lhe cabia “monitorizar os movimentos dos prisioneiros individuais” e criticou as posições do Ocidente sobre o caso.

“Estamos a falar de um prisioneiro que foi considerado culpado ao abrigo da lei e que está a cumprir a sua sentença. Consideramos que qualquer interferência, incluindo dos EUA, é inaceitável e impossível”, afirmou Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, citado pela Reuters.

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