A UMA leva uma Missa do Galo ao bar Passos Manuel, no Porto

Este sábado acontece o primeiro capítulo das 4 Missas Campais, projecto em que o colectivo UMA convoca artistas para repensar o lugar do ritual na cultura contemporânea.

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A UMA foi criada em 2020 por Joana Magalhães, Mafalda Lencastre e Maria Inês Marques montagem PÚBLICO
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A primeira de 4 Missas Campais, da plataforma UMA, acontece no Passos Manuel, no Porto paulo pimenta
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Independentemente da fé ou da heresia, a plataforma UMA convida toda a gente a juntar-se às 4 Missas Campais, projecto que parte da tradição da missa campal – enquanto cerimónia realizada ao ar livre, fora da igreja ou outros locais de culto – para propor uma “actualização de convenções e modos ritualísticos milenares” face ao “contexto da cultura contemporânea e de práticas urbanas”. A primeira, uma Missa do Galo antecipada, é este sábado no bar, clube e sala de cinema Passos Manuel, a partir das 23h30.

A decorrer até Junho em vários espaços do Porto, 4 Missas Campais será activado por quatro artistas: a criadora e performer Beatriz Garrucho, a artista e actriz Diego Bragà, o músico e artista visual Jonathan Uliel Saldanha e a artista multidisciplinar Odete, aqui com o seu projecto The Cursed Assembly.

Cada artista/ colectivo está encarregue de uma cerimónia, cuja atribuição fica em segredo até ao momento das performances. Além da Missa do Galo, assinalar-se-á a Sexta-feira Santa (29 de Março no Museu do Porto - Reservatório), o Dia do Trabalhador (1 de Maio no Zero Box Lodge) e a Missa de Saudação ao Verão (21 de Junho, no Pérola Negra).

Este projecto integra um novo ciclo de criação e programação da UMA, Chá das 5, “dedicado a pensar o ritual do encontro íntimo, político, activista, secreto, espiritual”, explicam Joana Magalhães, Mafalda Lencastre e Maria Inês Marques, criadoras que fundaram este colectivo interdisciplinar em 2020. Nesta “invasão do calendário litúrgico e cultural vigente”, a UMA quer, juntamente com as/os artistas convidadas/os, reinterpretar o que pode ser um ritual.

“No seu livro On Connection, Kae Tempest reflecte sobre a importância da criação artística, e respectiva partilha pública, como motores de encontros colectivos e de uma profunda conexão afectiva”, exemplifica o colectivo. “Tempest sustenta a sua tese com estudos científicos que comprovam os efeitos anímicos e fisiológicos de rituais comunitários. Face ao excesso contemporâneo de comunicação sem comunidade, os rituais afirmam-se, inversamente, como comunidade sem comunicação.”

A escolha das/os artistas para dirigir as cerimónias teve a ver com o facto de trabalharem “sobre o poder do ritual na convocação de diferentes possibilidades de metamorfose”, aponta a UMA. O colectivo The Cursed Assembly dedica-se a investigar as dimensões somáticas e sobrenaturais da historiografia, da política e da magia. Jonathan Uliel Saldanha desenvolve, através de construções cénicas e sonoras, performances onde procura “uma espécie de recall ao corpo e à psique, à memória e ao sonho” (palavras do próprio), tendo já criado uma “via-sacra” em igrejas com o espectáculo Sancta Viscera Tua (2014). Diego Bragà leva a cabo uma pesquisa performativa e cinematográfica sobre “a arquivística do desejo não normativo e práticas de magia”. Beatriz Garrucho trabalha frequentemente “sobre o prazer feminino e práticas milenares”.

“Foi-lhes dada total liberdade criativa para reintrepretarem estas festividades e, do que podemos antecipar, o som irá ter um papel preponderante”, adiantam Joana Magalhães, Mafalda Lencastre e Maria Inês Marques. “A nível dramatúrgico, e mesmo litúrgico, interessa-nos a ideia de distância cerimonial, de mistério – conceito central no paradigma judaico-cristão”, acrescentam. “Dentro das práticas ritualísticas ocidentais, a missa tem uma dimensão preponderante na criação de uma liturgia de atenção quotidiana, informando a nossa relação com os objectos, a palavra, a imagem e o tempo.”

De resto, cada missa irá convocar e provocar relações diferentes entre sacerdote/sacerdotisa e público, sendo que cada espaço implicará níveis de proximidade distintos. Estes tornar-se-ão em “espaços de culto contemporâneo”, diz a UMA – “espaços propícios à imersão, desorientação, catarse, expurgação e prazer”.

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