Françoise Hardy apela à legalização da eutanásia em carta aberta a Macron

É a segunda vez que a cantora de “Tous les Garçons et les Filles” apela à aprovação de legislação que permita a morte assistida em França.

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Françoise Hardy tem 79 anos e está doente há duas décadas DR

A cantora e compositora francesa Françoise Hardy escreveu uma carta aberta a Emmanuel Macron, na qual lança um apelo para que a eutanásia seja legalizada em França. Submetida a dezenas de tratamentos de radioterapia nas últimas duas décadas, a artista de 79 anos tem um cancro no sistema linfático e um cancro na faringe. Não é a primeira vez que Hardy se pronuncia sobre a morte medicamente assistida.

“A maioria das pessoas deseja que a eutanásia seja legalizada”, escreve na carta publicada no jornal La Tribune Dimanche, reabrindo a discussão sobre a legalização da morte medicamente assistida naquele país. “Esperamos que permita que os franceses muito doentes possam pôr fim ao seu sofrimento quando sabem que não há alívio possível”, apela. A voz de “Tous les Garçons et les Filles” dá o exemplo da sua mãe, que sofria da doença de Charcot-Marie-Tooth, uma patologia rara que afecta os nervos motores e os sensitivos, e que não tem cura. “Graças a dois médicos corajosos e compreensivos, ela não teve que testemunhar o fim de uma doença incurável”, escreve.

Em 2021, a artista — que está doente há cerca de 20 anos, mas viu o seu estado de saúde deteriorar-se nos últimos dois anos, levando-a a anunciar o fim da sua carreira — também se pronunciou publicamente sobre a eutanásia, pedindo a sua legalização. Agora, dirige-se directamente ao Presidente francês, pedindo-lhe “empatia”, numa altura em que o Governo está a preparar um projecto-lei que deverá ser conhecido em Fevereiro.

Fragilizada pela deterioração progressiva do seu quadro clínico, a voz de Le Temps de L'Amour revela dificuldades em comer e em respirar, sofrendo perturbações de equilíbrio e memória. “Devido à minha visão deteriorada, infelizmente já não posso ler nem ver televisão. Quando encontrava um bom filme, era a melhor maneira de desligar”, confessa na carta.

Eutanásia e suicídio assistido

Nos últimos anos, a legalização da eutanásia e do suicídio assistido tem sido amplamente discutida em França. Se, em 2021, uma proposta de lei que visava a legalização da morte assistida foi rejeitada, em 2022, Emmanuel Macron prometeu lançar o debate sobre o tema durante o seu segundo e actual mandato.

A eutanásia remete para o acto de tirar a vida a alguém a pedido, de modo a acabar com o seu sofrimento. Mas existe outra alternativa, como a preconizada na vizinha Suíça, o suicídio assistido, onde cabe ao doente tomar os fármacos letais e por fim à sua vida. Em Setembro do ano passado, o realizador franco-suíço Jean-Luc Godard “morreu pacificamente na sua casa [na Suíça] rodeado pelos que lhe eram mais queridos”. Aos 91 anos, optou pelo suicídio assistido não porque estivesse doente, mas porque “estava simplesmente exausto”, disse uma amiga da família ao jornal Libération.

Poucos meses depois, então com 86 anos, o actor Alain Delon, também franco-suíço com residência na Suíça, anunciou que queria ter o mesmo fim. O protagonista de O Sol por Testemunha teve um acidente cardiovascular em 2019. “A partir de uma certa idade, uma pessoa tem o direito de sair tranquilamente, sem passar por hospitais, injecções e o resto…”, disse num documentário intitulado Alain Delon face au monde.

Em Portugal, a lei, promulgada em Maio pelo Presidente da República, estabelece que “a morte medicamente assistida só pode ocorrer por eutanásia quando o suicídio medicamente assistido for impossível por incapacidade física do doente”. Contudo, a regulamentação da lei foi adiada para o próximo governo.


Texto editado por Bárbara Wong

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