Canadá quer abater os peixes-dourados que vivem fora dos aquários. “Eles comem tudo”

O peixe-dourado é dos peixes de estimação mais comuns. Nos aquários não crescem mais do que cinco centímetros, mas cá fora tornam-se gigantes. Face ao descontrolo, o Canadá já os está a rastrear.

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A invasão da espécie não nativa tem causado problemas na Alemanha, Estados Unidos da América, Austrália, Reino Unido, França e Canadá Pexels
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Após um inusitado episódio em França, em que um pescador encontrou um peixe-dourado com mais de 30 quilos, chegou a vez de o Canadá alertar para o problema inerente à libertação dos aparentemente inofensivos peixes-dourados na vida selvagem. Quanto aos peixes que já foram libertados nos lagos do país, optou-se pelo rastreio e futuro abate. Esta invasão daquela que é considerada uma espécie não nativa também tem causado problemas na Alemanha, nos Estados Unidos da América, na Austrália e no Reino Unido.

Em aquários, esta espécie nativa do leste asiático (de nome científico Carassius auratus) não cresce mais que uns cinco centímetros. Mas o cenário muda quando o animal está em liberdade. Além do crescimento exponencial da reprodução, as dimensões atingidas — por não haver uma limitação de alimento — fazem com que o peixe domine outras espécies e cause perturbações nos ecossistemas. Como se tornam demasiado grandes — a maioria chega facilmente aos 40 centímetros —, os peixes-dourados conseguem escapar aos predadores na cadeia alimentar.

Ao The New York Times, a bióloga marinha Christine Boston esclarece que os peixes “podem comer tudo”, desde algas e plantas aquáticas, necessárias para o abrigo de espécies nativas, a ovos e invertebrados. “Eles comem tudo e de tudo”, comentou. Para a bióloga canadiana, a solução para controlar esta espécie passa pela captura através de redes especializadas ou uma “pesca eléctrica”, capaz de atordoar os peixes.

O problema é especialmente evidente no porto de Hamilton, na ponta oeste do lago Ontário, a 56 quilómetros de Toronto, a maior cidade do Canadá. Desde os anos 2000 que tem havido nessa zona "um aumento destes peixes-dourados invasores, identificados durante testes de controlo", lê-se num estudo (de que Christine Boston é a autora principal), publicado em Novembro na revista científica Journal of Great Lakes Research.

Mesmo com a contaminação industrial da baía, uma das áreas mais degradadas entre os cinco grandes lagos no Centro-Leste da América do Norte, a população de peixes-dourados mostra-se resistente. Além de tolerarem grandes flutuações da temperatura das águas, a espécie também se adaptou às águas pouco oxigenadas.

O rastreio dos peixes-dourados analisado nesse estudo começou com a captura de 19 adultos, nos quais os investigadores colocaram uma etiqueta localizadora. Partindo da análise do percurso dos 11 peixes que sobreviveram depois disso, foi já possível descobrir os principais sítios de desova. Numa só estação, uma fêmea pode libertar óvulos várias vezes — a serem fertilizados, externamente, pelo peixe-dourado macho.

Texto editado por Claudia Carvalho Silva

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