Centeno não vê risco de espiral salários-preços na Europa

Governador do Banco de Portugal faz análise em que diz ser pouco provável o risco de os aumentos salariais prolongarem o problema da inflação.

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Mário Centeno, governador do Banco de Portugal Nuno Ferreira Santos
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Numa altura em que os mercados começam a apostar numa viragem da política monetária na zona euro, Mário Centeno defende que o mercado de trabalho europeu está a contribuir para a estabilidade de preços e minimiza o risco de uma escalada dos preços provocada pela subida dos salários, aquele que tem sido um dos grandes receios revelados por outros responsáveis do Banco Central Europeu.

Numa análise publicada a nível individual (a segunda deste género, tendo a primeira sido centrada na evolução da economia portuguesa), o governador do Banco de Portugal dá a sua opinião sobre a forma como a evolução do mercado de trabalho na zona euro está a influenciar tanto o desempenho da economia, como a evolução da inflação.

Centeno assinala o crescimento que se tem vindo a verificar no número de emprego na zona euro (mais nove milhões desde a pandemia) e explica esse fenómeno, afirmando que as reformas, tanto no mercado de trabalho como institucionais, realizadas na zona euro “conduziram a um mercado de trabalho mais flexível e dinâmico, baixando o custo de criar novos empregos”.

É por isso que o ex-ministro das Finanças acredita que são limitados os riscos de que se concretizem os receios de existência de efeitos de segunda ordem nos salários, isto é, que aumentos salariais significativos tornem a inflação alta um problema mais persistente.

“O mercado laboral, apoiado pelas políticas europeias seguidas durante a pandemia, abriu o caminho para um padrão salarial mais alinhado com a estabilidade de preços”, afirma Mário Centeno na sua análise, e acrescenta que, “olhando para a frente, há poucas razões para antecipar a existência de espirais salários-preços na zona euro”.

Esta confiança revelada pelo governador, que é um dos membros do conselho do BCE, acontece numa altura em que, nos mercados financeiros, se começa a apontar para a possibilidade de a autoridade monetária da zona euro, depois de desde Julho do ano passado ter estado a subir taxas de juro, começar agora a inverter o rumo da sua política. Os indicadores revelam que os investidores estão à espera de que uma primeira descida das taxas de juro ocorra em Abril.

Para já, contudo, entre a generalidade dos responsáveis do BCE, incluindo a sua presidente, Christine Lagarde, o discurso continua a ser o de que o actual nível de taxas de juro é para manter por algum tempo. E Mário Centeno, na sua análise, tem o cuidado de também não fugir totalmente a esta mensagem.

O governador diz que “não há motivos para complacência” e assinala que “a política monetária tem estado a fazer o seu trabalho, embora com o seu habitual intervalo de tempo”. “Temos de ter paciência”, diz, aconselhando que sejam seguidos “os princípios de reconhecer os dados, reportar as opções, e reagir apenas se necessário”.

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