Morreu o historiador francês Emmanuel Le Roy Ladurie, autor da História do Clima

Antigo professor do Collège de France e presidente da Academia Francesa, o autor Emmanuel Le Roy Ladurie morreu aos 94 anos. Foi um pioneiro no estudo do impacto histórico das questões ambientais.

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Emmanuel Le Roy Ladurie (1929-2023) fez parte da chamada Écoles des Annales, que privilegiou a abordagem económica e social da investigação histórica Claude Truong-Ngoc/Wikimedia Commons

O historiador francês Emmanuel Le Roy Ladurie, antigo professor do Collège de France, ex-presidente da Academia Francesa e autor da pioneira História do Clima, morreu na quarta-feira, aos 94 anos, anunciou a família nesta quinta-feira.

Discípulo do historiador Fernand Braudel, autor de A dinâmica do capitalismo, Emmanuel Le Roy Ladurie fez parte da chamada Écoles des Annales, que privilegiou a abordagem económica e social da investigação histórica.

O autor foi um dos protagonistas da corrente Nova História e destacou-se como precursor de uma abordagem que ficou conhecida por "micro-história", pela atenção a aspectos antropológicos. Publicou obras como Montaillou, cátaros e católicos numa aldeia francesa 1294-1324, publicada em Portugal pelas Edições 70.

Nascido em Les Moutiers-en-Cinglais, na Normandia, em Julho de 1929, Ladurie formou-se na Escola Normal Superior de França e doutorou-se em Letras.

Ladurie foi titular da cadeira de História da Civilização Moderna no Collège de France, durante cerca de 30 anos, professor da Universidade de Paris-VII, administrador geral da Biblioteca Nacional de França, presidente do Instituto de História Social e da Academia Francesa, além de ter dirigido a Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais.

Das desigualdades ao ambiente

Os seus interesses levaram-no a escrever sobre o mundo rural, as desigualdades e a preocupar-se com questões ambientais e o seu impacto no campo histórico, tendo publicado uma História do Clima em 1967, numa abordagem pioneira da história da Europa Ocidental, Central e do Norte e dos Estados Unidos.

"Os historiadores não se interessaram por isso na época, riram-se de mim, chegaram a dizer que era uma ciência falsa", disse Ladurie à AFP em 2009. "Admito que estou preocupado com os meus filhos e netos no próximo século", confessou então à agência francesa de notícias, que hoje retoma essa entrevista ao historiador.

Em 2020, Ladurie publicou uma edição aumentada e com novo prefácio da sua Histoire du climat depuis l'an mil, sublinhando a importância de se conhecer o clima do passado, a influência das alterações climáticas na paisagem, nas colheitas e nos principais movimentos sociais, assim como a necessidade de o aquecimento global ser abordado pela História.

Emmanuel Le Roy Ladurie destacou-se igualmente na defesa da memória do Holocausto, tendo combatido as teorias negacionistas surgidas desde o final da II Guerra Mundial.

Ladurie era membro honorário da Academia das Ciências dos Estados Unidos e da Academia do Japão, entre outras instituições, e foi colunista do jornal Le Monde, e das revistas Le Nouvel Observateur, L'Express e Le Figaro littéraire.

Além de Montaillou, cátaros e católicos numa aldeia francesa 1294-1324, está também publicado em Portugal o livro Os camponeses do Languedoc, pela Editorial Estampa.

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