Quinta noite de protestos violentos em Madrid contra amnistia a independentistas catalães

Multidão tentou invadir a sede do PSOE na noite de terça-feira e envolveu-se em confrontos com a polícia. Em causa estão as negociações entre socialistas e independentistas.

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Protestos espalharam o caos pelo centro de Madrid Reuters/SUSANA VERA
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Pela quinta noite consecutiva, milhares de pessoas organizaram manifestações em frente à sede nacional do Partido Socialista Operário de Espanha (PSOE), em protesto contra a promessa de uma amnistia aos independentistas catalães, negociada no âmbito da formação do novo Governo. A marcha de terça-feira à noite terminou numa batalha campal entre manifestantes e polícia.

A reacção às negociações entre o partido liderado por Pedro Sánchez e as forças independentistas catalãs está no limiar do radicalismo. Na noite passada, centenas de pessoas envolveram-se em confrontos violentos com a polícia antimotim numa tentativa de furar o cordão das autoridades que cercava a sede do PSOE, na Rua Ferraz, no centro de Madrid.

Este tem sido o epicentro das manifestações que desde sexta-feira têm agitado a capital espanhola e que na terça-feira atingiram o ponto mais alto, até ao momento. As marchas têm sido convocadas através das redes sociais por vários grupos de direita radical e falangistas, contando com o apoio do Vox, de extrema-direita, e de algumas figuras do Partido Popular (PP).

As primeiras horas da manifestação de terça foram pacíficas – já na noite anterior tinha havido uma carga policial. No entanto, um grupo numeroso, conotado com organizações de direita radical, segundo a imprensa espanhola, deslocou-se da sede do PSOE até à Gran Via, a principal avenida de Madrid, chegando a cortar o trânsito durante algum tempo. A partir daí, o grupo rumou até à sede do Congresso dos Deputados, mas foram impedidos pelas barreiras metálicas erguidas pela polícia.

Depois de passarem alguns minutos ali concentrados, o grupo voltou a deslocar-se até à Rua Ferraz para regressar à sede do PSOE, enquanto ia cometendo actos de vandalismo pelo centro de Madrid.

Os gritos de ordem subiam de tom, indicando a crescente tensão entre os manifestantes. “O nosso Presidente é um delinquente”, “Pedro Sánchez, morre”, “Puigdemont para a prisão”, eram alguns exemplos, citados pela imprensa espanhola. Ao mesmo tempo, viam-se bandeiras ligadas a organizações falangistas e um grupo chegou a entoar o hino da Divisão Azul, a unidade de voluntários espanhóis que lutou pela Alemanha nazi durante a II Guerra Mundial.

Foi então que os primeiros confrontos começaram, quando um grupo tentou furar o cordão da polícia antimotim que protegia a sede do PSOE. A polícia recorreu a granadas de gás lacrimogéneo e balas de borracha para dispersar a multidão, enquanto os manifestantes mais radicais incendiavam bicicletas, trotinetes e caixotes do lixo.

Ao todo, houve 39 feridos, entre os quais 30 agentes policiais, e sete detenções. A polícia está convicta de que as manifestações vão continuar, pelo menos enquanto durar o processo de negociações entre Sánchez e os partidos catalães.

O líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, condenou as cenas de violência nas ruas de Madrid, mas não deixou de responsabilizar Sánchez. “Quando pretendes amnistiar a violência, não podes dar nenhum exemplo nem nenhuma lição a todos nós que condenamos a violência”, afirmou.

Já o líder do Vox, Santiago Abascal, que chegou a participar em algumas das manifestações dos últimos dias, responsabilizou o Governo em funções, em específico o ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, pela violência. “Em primeiro lugar, porque é o que ele e Sánchez pretendiam, com as ordens de carregar e gasear os manifestantes pacíficos na segunda-feira. E, em segundo lugar, porque pretende amnistiar o terrorismo das ruas”, disse Abascal.

Pedro Sánchez tem estado envolvido em negociações com os principais partidos independentistas catalães – a Esquerda Republicana da Catalunha e o Juntos pela Catalunha – para garantir o seu apoio para poder vir a ser investido como chefe de Governo. Em cima da mesa está a possibilidade de ser concedida uma amnistia aos dirigentes políticos que foram condenados a penas de prisão pelo envolvimento no referendo de 2017, considerado ilegal pela justiça espanhola.

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