Bolsa em queda após demissão de António Costa, juros da dívida mantêm-se estáveis

A bolsa portuguesa caiu perto de 3% depois do anúncio de demissão de António Costa. Os juros da dívida a dez anos mantêm-se estáveis e estão a recuar.

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Nuno Ferreira Santos
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Os mercados financeiros já estão a reagir à demissão de António Costa do cargo de primeiro-ministro e, para já, a incerteza trazida por esta notícia está a pressionar bolsa, que chegou a cair mais de 3% durante a sessão desta terça-feira. Ainda assim, os juros da dívida pública permanecem estáveis.

O anúncio de António Costa foi feito ao início da tarde desta terça-feira, depois de, ainda de manhã, ter sido noticiado que estavam em curso buscas da PSP em diversos ministérios e na residência oficial do primeiro-ministro. No centro das investigações estão os negócios do lítio e do hidrogénio verde, existindo suspeitas da prática de crimes de corrupção e tráfico de influências.

Entre os suspeitos, está o próprio primeiro-ministro, que está a ser investigado num processo autónomo, no âmbito de um inquérito instaurado no Supremo Tribunal de Justiça. Dizendo-se "surpreendido" por lhe ter sido instaurado um processo-crime, António Costa apresentou demissão, que já foi aceite pelo Presidente da República, um acto que, à luz da Constituição, implica a demissão do Governo. Marcelo Rebelo de Sousa irá reunir-se com o Conselho de Estado na quinta-feira para decidir sobre os passos seguintes.

É neste contexto que, agora, os investidores vão reagindo à incerteza política. Na sessão desta terça-feira, o índice PSI chegou a cair mais de 3%, logo após o anúncio da demissão de António Costa, e acabou por encerrar a sessão a perder 2,54%.

A pressionar a bolsa portuguesa estiveram, sobretudo, a Mota-Engil, que registou uma queda superior a 5%, e a Galp, que recuou 4,5%. Também a Greenvolt e o BCP, que desvalorizaram mais de 3%, pesaram sobre a bolsa, que acabou por encerrar sem qualquer cotada em alta (o melhor desempenho foi o da Ibersol, que caiu 1,19%).

Em sentido contrário, o mercado de dívida mantém-se estável, com os juros da dívida portuguesa nos prazos de referência a registarem quedas. Os juros da dívida a dez anos recuaram em torno de três pontos base (ou 0,3 pontos percentuais) e negociaram em 3,380%. A queda é, ainda assim, menos acentuada do que a que se verifica noutros casos, como o de Espanha, que, durante esta sessão, viu os juros da dívida a dez anos caírem mais de sete pontos base.

As próximas sessões, esperam os analistas, deverão ser marcadas por alguma volatilidade, própria de momentos de incerteza política. "A instabilidade, quer seja económica ou política, tende sempre a afectar o desempenho dos mercados de capitais e, desta vez, não foi diferente", refere Henrique Tomé, analista da XTB, reconhecendo que "o mercado obrigacionista não parece ter reagido de forma tão volátil como a bolsa".

Mas ressalva: "Ainda assim, a actual situação poderá trazer períodos de maior volatilidade [nos juros da dívida], fazendo com que estas voltem a subir, dada a actual instabilidade política que pode vir a viver-se no país e o risco de perda de credibilidade nos mercados internacionais."

(Notícia actualizada com as cotações de fecho)

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