Caso FTX: Sam Bankman-Fried declarado culpado de todas as acusações

Fundador da plataforma de criptomoedas FTX, que entrou em colapso em 2022, arrisca-se a uma pena máxima de 110 anos de prisão por roubar milhões de clientes.

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SBF, Sam Bankman-Fried, fundador da FTX Reuters/EDUARDO MUNOZ

Sam Bankman-Fried, fundador da plataforma de criptomoedas FTX, foi declarado culpado dos sete crimes de fraude, desvio de fundos e lavagem de dinheiro de que estava acusado. A decisão dos jurados no Tribunal Federal de Manhattan, em Nova Iorque, Estados Unidos, foi anunciada esta quinta-feira. O antigo multimilionário de 31 anos arrisca-se a uma pena máxima de 110 anos de prisão. A sentença será conhecida a 28 de Março de 2024.

Ao cabo de um mês de julgamento e quatro horas de deliberação, o júri considerou Bankman-Fried culpado do desvio e ocultação de oito mil milhões de dólares (7,5 mil milhões de euros) pertencentes aos clientes da FTX. A plataforma faliu há um ano, depois de a CoinDesk, uma publicação especializada no mercado das criptomoedas, ter levantado dúvidas sobre as contas da Alameda Research, fundo de investimento associado à FTX: parte dos fundos seriam compostos pela criptomoeda da própria empresa, a FTT, pelo que não havia dinheiro “real” suficiente para cobrir os depósitos dos clientes. No espaço de dias, o pânico gerado pela revelação levou grande parte dos clientes a resgatar os seus fundos de uma das maiores plataformas mundiais de criptomoedas, com os restantes investidores a ficarem sem acesso ao dinheiro que haviam depositado (há milhões de lesados em todo o mundo, incluindo em Portugal). A FTX declarou falência, Bankman-Fried pediu desculpa no antigo Twitter e fugiu para as Baamas, onde acabou por ser detido.

As investigações das autoridades judiciais e dos reguladores financeiros que se seguiram confirmaram a suspeita de que Bankman-Fried não só estava a par da natureza fraudulenta da FTX, semelhante a um esquema em pirâmide, como terá utilizado os fundos dos seus clientes em benefício próprio, tanto em apostas especulativas no mercado das criptomoedas como no financiamento de campanhas eleitorais de aliados políticos.

Durante o julgamento, o réu sempre negou ter roubado os seus clientes, admitindo, contudo, falhas internas no controlo de risco financeiro. “Pensávamos que estávamos a construir o melhor produto do mercado”, disse. A acusação, no entanto, considerou que Bankman-Fried agiu deliberadamente para conseguir “dinheiro, poder e influência”, acreditando que “as leis não se aplicavam a ele”. Três testemunhas-chave — Caroline Ellison, ex-namorada de Bankman-Fried e CEO da Alameda, e Gary Wang e Nishad Singh, ex-executivos da FTX — declararam-se culpadas e convergiram na caracterização do fundador da plataforma como o líder de uma conspiração criminosa.

Formado no MIT e filho de professores de Direito e Ética da Universidade de Stanford, visto como um jovem génio e conhecido até ao julgamento pelo seu estilo informal, Bankman-Fried (ou S.B.F., como também era conhecido) tinha cultivado uma extensa rede de influência no sistema político-mediático norte-americano, tendo feito inúmeros donativos para campanhas eleitorais de candidatos do Partido Democrata que, em teoria, poderiam legislar de forma favorável aos seus investimentos. Era presença frequente em Washington, onde era ouvido por congressistas e senadores como uma autoridade em questões do universo das criptomoedas e da blockchain.

Era também conhecido como um dos principais promotores de uma filosofia utilitarista da filantropia, o altruísmo efectivo, que preconiza a aplicação de donativos da forma mais eficiente, com maior impacto e a longo prazo, não sem controvérsia, a que têm aderido alguns dos maiores multimilionários do sector tecnológico.

Caído em desgraça, o fundador da FTX junta-se agora a uma galeria de grandes criminosos financeiros norte-americanos que inclui Bernie Madoff e Jordan Belfort. Bankman-Fried irá a julgamento em 2024 para responder a outros seis crimes relacionados com o colapso da FTX. Aguardará pelo desenrolar do processo e pela sentença do primeiro julgamento atrás das grades, numa prisão em Brooklyn.

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