Detido suspeito de incêndio na Calheta e no Porto Moniz

Fogo permanece activo em várias frentes. Autoridades pedem que se evitem levadas daqueles concelhos. Suspeito de atear incêndio tem 45 anos e foi apanhado em flagrante a incendiar a sua própria casa

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"Foi dos incêndios que mais fustigaram o nosso concelho desde que há memória", diz autarca LUSA/HOMEM DE GOUVEIA
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Reuters/NACHO DOCE
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A Polícia Judiciária deteve esta sexta-feira um suspeito de ter ateado um incêndio em área florestal no concelho da Calheta, que depois se propagou à área do concelho de Porto Moniz. O detido, de 45 anos, vai ser interrogado este sábado por um juiz de instrução que lhe irá aplicar as respectivas medidas de coacção.

Segundo o PÚBLICO apurou junto de fonte da Judiciária, o suspeito foi detido em flagrante delito quando estava a atear fogo à sua própria residência, no concelho da Calheta. A polícia já suspeitava deste homem, que está referenciado pelas autoridades por este tipo de crimes, estando a tentar contactá-lo, quando detectou fumo a sair da sua habitação.

A pronta actuação dos inspectores terá evitado danos de maior na residência, tendo o suspeito sido de imediato detido. A PJ ainda não conseguiu encontrar qualquer motivo para o alegado autor ter ateado o incêndio florestal.

O fogo que lavra no concelho de Porto Moniz, Madeira, perdeu intensidade, mas “não está completamente controlado”, disse esta manhã o presidente da autarquia, Emanuel Câmara. “O incêndio continua, não se pode dizer que a situação está resolvida. Não posso considerar que os fogos estão dominados, pois a qualquer momento reacendem-se, daí a activação do Plano de Emergência Municipal.”

As chamas também continuam a consumir o concelho da Calheta, informou o PÚBLICO, o comandante dos bombeiros locais, Jacinto Ferrão, por volta das 15h. "Nas zonas habitacionais o fogo está quase extinto, havendo apenas alguns reacendimentos esporádicos. A parte mais problemática é nas zonas altas dos Prazeres e do Arco da Calheta", afirma o responsável operacional dos voluntários da Calheta. O incêndio está a afectar uma zona de urze, estando longe da floresta indígena da Madeira. "O fogo não pode nem vai chegar lá", garante Jacinto Ferrão.

De acordo com Emanuel Câmara, as chamas foram combatidas durante toda a noite, depois de se terem alastrado durante a tarde de quinta-feira a toda a zona alta do concelho, onde o fogo cercou a freguesia das Achadas da Cruz, transitando para os sítios dos Lamaceiros e Santa e para a encosta sobranceira à vila de Porto Moniz.

“A primeira preocupação foram as pessoas e depois os bens”, disse. A situação mais grave foi a de uma senhora, nas Achadas da Cruz, que sofreu algumas queimaduras. Várias pessoas pernoitaram, por precaução, na escola secundária do Porto Moniz e no salão paroquial da igreja local, entre as quais um grupo de alunos do 1.º ciclo, impedidos de regressar a casa nas zonas altas.

Lar evacuado

A estrutura residencial de idosos foi encerrada e os 39 utentes transferidos para instalações no concelho vizinho de São Vicente."Na sequência do incêndio que afecta o concelho do Porto Moniz e levou à evacuação do Lar da Fundação Mário Miguel, situado nos Lamaceiros, a Secretaria Regional de Inclusão Social e Cidadania assegurou, em articulação com o Instituto de Segurança Social da Madeira, o realojamento imediato dos 39 idosos do lar", avançou a Secretaria Regional de Inclusão Social e Cidadania, em comunicado.

A decisão foi tomada no decurso da tarde de quinta-feira. "De referir que 12 dos utentes foram acolhidos na Associação Crescer Sem Risco e os restantes no Centro Paroquial e Social de Ponta Delgada, entidades que são apoiadas pelo Governo Regional e cuja primeira preocupação foi, desde a primeira hora, assegurar todas as condições de conforto e segurança para os utentes transferidos", lê-se na nota de imprensa.

Assistidas 57 pessoas

Cinquenta e sete pessoas receberam assistência médica até às 11h00 desta sexta-feira devido aos incêndios que assolam os concelhos da Calheta e Porto Moniz, indicou o secretário da Saúde e Protecção Civil, adiantando que 127 operacionais continuam no terreno.

Em conferência de imprensa no Serviço Regional de Protecção Civil, no Funchal, Pedro Ramos apresentou o ponto da situação dos três fogos que permanecem activos nos municípios de Câmara de Lobos, Calheta (zona oeste) e Porto Moniz (costa norte), indicando que 400 pessoas não têm ecletricidade nas residências e 33 estão deslocadas por motivos de segurança.

Das 57 pessoas que receberam assistência médica, quatro foram transferidas para o Hospital Dr. Nélio Mendonça, no Funchal, incluindo um bombeiro por inalação de fumo durante o combate às chamas.

Levadas fechadas

As câmaras de Porto Moniz (costa norte) e da Calheta (zona oeste) activaram os respectivos planos municipais de emergência e protecção civil. As autoridades decidiram esta sexta-feira encerrar várias levadas e veredas e apelam a que não se circule nas zonas montanhosas.

Num comunicado divulgado pelo Governo Regional da Madeira, é dito que o Instituto das Florestas e Conservação da Natureza encerrou percursos pedestres classificados “devido à ocorrência de incêndios florestais”. Assim, foram fechadas as levadas das 25 Fontes (Calheta), Risco (Calheta), Alecrim (Calheta), Cedros (Porto Moniz) e Moinho (no concelho da Ponta do Sol, vizinho a norte de Porto Moniz e a oeste da Calheta).

As autoridades fecharam ainda as veredas da Lagoa do Vento (Calheta) e do Fanal (Porto Moniz) e o Caminho Real do Paul do Mar (Calheta). Também as áreas de lazer da Fonte do Bispo, Cruzinhas, Fanal e Rabaçal se encontram encerradas.

Produtores deverão ser compensados

O Governo da Madeira prometeu providenciar alimentação gratuita para os animais dos produtores agropecuários dos concelhos afectados. O secretário regional da Agricultura, Humberto Vasconcelos, adiantou que estes poderão dirigir-se ainda esta tarde à Estação Zootécnica da Madeira e ao Mercado dos Prazeres, respectivamente, para recolher alimentação para os animais.

O executivo (PSD/CDS-PP) vai também compensar os produtores pelos animais que perderam. "Nós temos conhecimentos já de muitos animais que morreram", apontou, acrescentando que "é importante pagar esses animais aos produtores". Há ainda apicultores que registaram perdas, que serão também apoiados.

Humberto Vasconcelos realçou que "ainda é muito cedo para falar em valores", assegurando que "o Governo está preparado a nível do orçamento para dar uma resposta eficaz aos agricultores, aos produtores pecuários". O governante deu ainda conta de que parte da Feira Agropecuária do Porto Moniz foi consumida pelas chamas "com mais de 50% dos pavilhões completamente destruídos".

Câmara de Lobos sob controlo

O fogo deflagrou inicialmente na quarta-feira, cerca das 18h, na freguesia dos Prazeres, concelho da Calheta, tendo alastrado durante a noite à freguesia contígua da Fajã da Ovelha e, posteriormente, às freguesias da Ponta do Pargo e das Achadas da Cruz, esta já no concelho de Porto Moniz. Já na quinta-feira, deflagrou outro incêndio numa zona florestal da Quinta Grande, Câmara de Lobos.

O incêndio que lavra em Câmara de Lobos, município contíguo ao Funchal a oeste, é considerado o menos grave dos três que assolam a Madeira. Continua activo, mas “está controlado”, informou o presidente da autarquia, Pedro Coelho. “Não há perigo para habitações, vamos aguardar que nas próximas horas seja dado como extinto”, disse. O incêndio está a ser combatido por dez operacionais das corporações de bombeiros de Câmara de Lobos e da Ribeira Brava, com apoio de quatro veículos.

Contingente do continente

O governo da Madeira declarou na quinta-feira a situação de contingência devido aos incêndios que lavram na região, activando, assim, o Plano Regional de Emergência de Protecção Civil, anunciou o Serviço Regional de Protecção Civil.

Esta sexta-feira de manhã partiu para a Madeira um contingente da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC), chefiada pelo comandante sub-regional de Emergência e Protecção Civil de Coimbra, Carlos Tavares, integrando 64 operacionais, dos quais 54 bombeiros da Força Especial de Protecção Civil, seis elementos da estrutura de comando da ANEPC e quatro elementos do Instituto Nacional de Emergência Médica.

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