Desenvolvimento urbano além da metrópole. Uma vista de Angola

O consenso internacional atribui às cidades um papel de destaque no desenvolvimento humano. Mas pouco se sabe sobre as cidades à sombra da metrópole. Angola é um exemplo instrutivo deste fenómeno.

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Cidade do Huambo, Angola AMPE ROGÉRIO/Lusa
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Rumo ao grande objetivo de “desenvolvimento sustentável”, as cidades arcam com uma pesada responsabilidade: cabe-lhes assegurar crescimento económico, facilitar modos de vida adaptados às exigências de uma crise climática e atenuar desigualdades sociais através de um planeamento justo. Estas não são tarefas fáceis.

Quem se debruçar sobre as grandes perguntas atuais do âmbito urbano, sejam elas a habitação, a mobilidade ou a política participativa, constatará que nem todos os tipos de cidades estão igualmente representados. Frequentemente, os círculos académicos e políticos centram-se nas cidades mais emblemáticas, mais globais e supostamente de maior importância – as metrópoles.

A minha investigação tem como objetivo colmatar esta lacuna no nosso conhecimento relativo ao contexto político das cidades para além dos limites da metrópole, nomeadamente em sistemas urbanos que já estão fortemente voltados para um único centro dominante. Na ciência política, este contexto político é frequentemente designado por “governação”. Quer dizer que não são só os governos locais que moldam as cidades, mas também as instituições nacionais ou internacionais e até mesmo atores privados. No meu projeto, pretendo explorar esta complexidade no caso marcante de Angola.

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Luanda, Angola Saul Loeb/Reuters

Quem é que governa fora de Luanda?

Nas últimas décadas, Angola tem sido um dos países com maior ritmo de urbanização do mundo. Atualmente, cerca de 22 milhões de pessoas vivem nas suas cidades, mais de oito milhões das quais na capital. As repercussões do colonialismo, da guerra prolongada e da reconstrução, concentrada em Luanda, resultaram numa predominância notória da metrópole face ao resto do país.

No entanto, é na vasta rede das ditas cidades secundárias de Angola, com cidades como Benguela, Huambo ou Lubango, onde a maioria urbana reside e onde existe grande potencial para diversificar a economia nacional e melhorar as condições de vida dos cidadãos.

Com este projeto ambiciono compreender melhor os fatores que determinam o desenvolvimento destas cidades em comparação com Luanda. Para o efeito, avalio dados fiscais, analiso o contexto legal e faço entrevistas com vários atores governamentais e não governamentais nos diferentes níveis de governação: internacional, nacional e local.

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O investigador Daniel Tjarks DR

No final do meu trabalho, pretendo responder aos seguintes quesitos: quais os atores relevantes no âmbito urbano em Angola, qual o tipo de poder que exercem e como é que esta constelação de poder varia nas diferentes cidades do país.

Os resultados da minha investigação podem estabelecer uma base de informação para futuras políticas urbanas em Angola. Além disso, espero contribuir para o avanço da compreensão científica dos sistemas urbanos que se centram numa única cidade dominante e, em última análise, ajudar a aclarar um aspeto negligenciado do desenvolvimento humano – o que acontece fora das cidades que mais captam a nossa atenção.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Estudante de doutoramento do programa de Estudos do Desenvolvimento no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa e bolseiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT)

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