Morreu o encenador franco-argentino Jorge Lavelli

Um nome do teatro que “fez história” pelo seu “inconformismo estético” e que tanto trabalhou os clássicos quanto os dramaturgos do seu tempo. Tinha 90 anos.

Foto
Jorge Lavelli na sua casa de Paris, Dezembro de 1979 Bertrand LAFORET/Getty Images
Ouça este artigo
00:00
03:03

Um dos mais importantes encenadores das últimas décadas, o franco-argentino Jorge Lavelli, morreu na noite de domingo para segunda-feira em Paris aos 90 anos. Multipremiado, “fez história”, segundo o diário argentino Clarín, sobretudo quando levou Europa fora os grandes textos de Molière, Tchékhov, Shakespeare, Pirandello ou Claudel pondo-os em cena com “grande inconformismo estético”, como descreve o diário espanhol El País.

A notícia do óbito foi confirmada pela Embaixada da Argentina em França à agência France Presse e também pela sua mulher, a actriz e sua frequente colaboradora artística Dominique Poulange, citada pelo diário espanhol El País. É este jornal que cita Lavelli, radicado em França desde os anos 1960, dizendo que para ele “o teatro deve ser vivo, profundo, ligeiro, inesperado, real e sonhado. Nunca aborrecido nem pretensioso. Jamais professoral, nem conformista, nem servil. O teatro foi inventado para poder falar da vida e da morte.”

Será sepultado no cemitério Père-Lachaise, famosa última morada de alguns dos mais importantes nomes das artes, em Paris. Deixa uma obra vasta, entre teatro e ópera, depois de uma vida encetada em 1932 em Buenos Aires e que rapidamente se centrou em França, para onde foi como bolseiro em 1960. Estudou nas escolas dramáticas de Charles Dullin e Jacques Lecoq e logo em 1963 começava a dar nas vistas com a produção de Mariage, de Witold Gombrowicz, no Théâtre Récamier, que logo foi premiada.

Um dos seus principais papéis, numa carreira com largas dezenas de entradas no drama, na farsa, na ópera e tocando autores tão distintos quanto Tony Kushner e Bertolt Brecht, Ionesco ou Mozart, foi desempenhado entre 1987 e 1996. Foi quando assumiu a direcção do Théâtre de La Colline, um dos seis teatros nacionais franceses, que nasceu precisamente com Lavelli e que marcou uma geração. É, por exemplo, uma das referências do encenador português António Lagarto, que em 2004 elogiava no PÚBLICO como sob a sua direcção, a sala se virou para as novas dramaturgias num lugar "onde não existia nada”.

Nessa altura já se tinha naturalizado francês (1977) e trabalhava e trabalharia tanto com os clássicos quanto com os novos dramaturgos ocidentais como, elenca a AFP, Eugène Ionesco, Fernando Arrabal, Lars Noren, Pierre Bourgeade, Serge Rezvani ou Raúl Damonte Botana (que assinava como Copi) – foi com uma obra de Copi, Une Visite Inopportune, e outra de Federico García Lorca, Le Public, que abriu as portas à criação na La Colline.

O El País destaca que, nessa Meca europeia do teatro que é o Festival de Avignon, mostrou em 1969 uma nova forma de teatro musical com Orden, de Pierre Bourgeade e Girolamo Arrigo, o que por seu turno foi a sua porta de entrada para a encenação lírica.

Em Portugal, por ocasião de Lisboa – Capital da Cultura, levou à cena Os Jornalistas (que no original de Arthur Schnitzler se trata do texto Pintassilgo e Pimpinela) no Teatro D. Maria II, em 1994. Trabalhou também com o encenador e ex-director do Teatro Nacional São João no Porto, José Wallenstein.

Sugerir correcção
Comentar