Expectativas no começo do novo ano

A crise económica e financeira e a instabilidade emocional envolvem-nos em novas pandemias que já se anteviam desde há um bom tempo.

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"Um ano lectivo é um livro em branco que se escreve a várias mãos" Jose Fernandes/Arquivo
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O ano lectivo começa e muitas são as perguntas sobre as expectativas para o novo ano. Para a maior parte dos intervenientes são de esperança; são boas expectativas sobre o que o novo ano lectivo pode trazer no pessoal e no colectivo.

Quando perguntamos aos alunos o que esperam do novo ano, temos como resposta o terem melhores notas e portarem-se melhor. É como se fosse um compromisso de intenções onde se incluem a eles mesmos, aos professores e aos pais. As boas notas e o bom comportamento dependem essencialmente deles, mas os outros intervenientes, como sejam os professores, têm a sua parte no processo: propor trabalhos que estejam à altura das aquisições feitas, estabelecer regras claras e sensatas, ser empático, acompanhar o processo de crescimento e aprendizagem, entre outras.

São raros os alunos que falam nas greves dos professores ou na sua situação familiar, económica ou social. Parecem contar com o que sabem ter e com eles próprios.

Os pais, os agentes educativos e os líderes escolares fazem recair as suas expectativas sobre as greves dos professores, a desejada estabilidade para que os alunos consigam ter equilíbrio na escola, nas suas aprendizagens e uma rotina onde consigam por em prática a sua autonomia e liberdade, tão essenciais à superação das exigências necessárias que os fazem progredir para a próxima etapa e alicerçam as competências que promovem o desenvolvimento pessoal e cognitivo.

Um ano lectivo é um livro em branco que se escreve a várias mãos. As expectativas podem ser variadas, dependendo do ponto de partida de cada um.

O problema da falta de professores é para alguns líderes escolares uma grande preocupação. Para os professores, na sua generalidade, a carreira profissional e remuneratória continua a estar na ordem do dia e a sua resolução faz parte das expectativas para mais este ano, incluindo fazer o que estiver ao seu alcance, de forma conjunta e organizada, que contribua para alcançar as suas expectativas.

Para os pais e famílias, as expectativas são as de que existam professores colocados em todas as disciplinas e que as exigências destes sejam satisfeitas para que os filhos consigam estudar de forma equilibrada e tranquila.

Mais greves dos professores estão anunciadas e muitos lugares nos conselhos de turma aguardam por estes profissionais. As famílias, na generalidade, fizeram a sua parte na preparação da rotina diária. O que significa que na maioria dos conselhos de turma estão professores por colocar e que a ausência destes na sala de aula, devida a greves, está, de novo, iminente.

As expectativas de esperança neste período pós pandemia covid-19, da qual já não nos queremos lembrar, de regresso ao normal ou ao ‘novo normal’ aspirava à rotina de anos anteriores, mas a crise económica e financeira e a instabilidade emocional envolvem-nos em novas pandemias que já se anteviam desde há um bom tempo: a previsibilidade da falta de professores não é de hoje assim como o congelamento da carreira docente não aconteceu ontem.

A inflação e a crise financeira que afectam outros sectores como o da saúde e da habitação, por exemplo, fizeram o resto, e as greves e reivindicações aí estão. Os salários dos professores portugueses está abaixo da média dos países da OCDE. A educação é a base da cultura e da sociedade. Restabelecer a dignidade da profissão que impacta o futuro, em termos remuneratórios e de carreira, é fundamental para que as expectativas para este ano, de todos os outros envolvidos no processo educativo possam ser cumpridas.

Saibam também os professores fazerem-se ouvir e conseguirem alcançar os seus objetivos, salvaguardando o bem mais precioso da sociedade: as crianças e os jovens, que são os nossos alunos, a sua aprendizagem e crescimento.

Um bom ano lectivo para todos!

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