Sonhos de aprendiz, afeição de mestre

Ser formador é confrontarmo-nos com a heterogeneidade. Identifico olhares, posturas, vestuários, estilos de vida distintos que enchem o que mais de belo há na promoção da diferença.

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A educação preenche-nos. Quer sejamos estudantes, com dificuldades pessoais e profissionais e sonhos, ou professores, com a missão de levar e construir conhecimento, a verdade é que a educação ocupa uma parte relevante da nossa vida e permite-nos ver e agir no mundo de forma mais alargada, crítica e transformadora.

É devido a estas potencialidades que dedico tanto tempo à área que amo. Desde Fevereiro deste ano que sou formador numa escola técnico-profissional onde trabalho com rapazes e raparigas nos princípios dos seus 18 anos e até aos 29 para que terminem o ensino secundário, neste caso numa área mais prática. A área que ministro é a Sociologia, na qual abordamos os mais variados temas que produzem efeitos sobre a vida daqueles jovens – a economia, a sexualidade, o ambiente, a família e a escola, a cultura e as artes, a religião, o desporto, as novas tecnologias.

O maior desafio passa por criar uma perspectiva interessante e aplicável ao quotidiano das temáticas que discutimos nas sessões. A actualidade exige que a matéria escolar não passe apenas pela teoria, mas que reconheça na realidade um objecto com o qual se possa relacionar de forma íntima. Por isso é que expomos conhecimentos, jogamos jogos pedagógicos para revisão da matéria, assistimos a vídeos informativos e cómicos acerca dos fenómenos sociais e tentamos tornar a vida escolar e social mais dinâmica.

Para mim é um orgulho a idade com que sou formador – 23 anos. Não só porque, a cada duas horas, me encontro perante pessoas que estão no meu grupo etário, podendo partilhar com elas experiências que permitem que enquadrem e entendam melhor o significado das mesmas, como também me encontro revestido de uma autoridade que promove uma construção de saberes mais rigorosa.

Posso trazer processos de mudança social potencialmente chocantes para os formandos – como fiz há umas sessões relativamente às relações abertas e poliamorosas – levando a que percebam os contornos do que se passa na actualidade e consigam aprender o respeito e a sensibilidade a novas causas.

Por mais que a Sociologia não seja a disciplina mais interessante para eles (porque num curso de desporto, por exemplo, valorizam sobretudo as disciplinas mais físicas) é crucial que aprendam a relacionar-se de forma mais empática e compreendendo os erros que outras gerações anteriores às deles cometeram.

Mas ser formador é também confrontarmo-nos com a heterogeneidade. Com cada turma que asseguro – cinco neste momento – identifico olhares, posturas, vestuários, estilos de vida distintos que enchem o que mais de belo há na promoção da diferença. Tendo em conta que acredito que aqueles “miúdos” – no sentido mais carinhoso do termo – poderão, todos e cada um, chegar longe, isso não implica que os seus caminhos tenham sido iguais.

Os sentimentos, os pensamentos, as vivências que se localizam na sua bagagem são os mesmos com que andam munidos e imprimem nas sessões, cabendo a cada formador aproveitá-los para implicações pedagógicas mais benéficas.

Por tudo isto, desejo a todos os estudantes e formandos e a todos os professores e formadores um ano lectivo recheado de surpresas agradáveis e em que se vão compondo bases para uma nova educação, mais aliada ao bem-estar e ao conhecimento de si e do outro. É a cada um de nós, que vai para a escola e a ela dedica vários anos da sua vida, que se deve o princípio do melhoramento do mundo.

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