O que são os ATACMS, os mísseis de longo alcance que os EUA devem enviar para a Ucrânia?

ATACMS podem ter um alcance superior a 300 quilómetros. Relutância dos EUA em fornecer o sistema à Ucrânia está relacionado com o receio de que possa atingir a Rússia.

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Utilização de um sistema ATACMS na Coreia do Sul, em 2017 Reuters/8TH UNITED STATES ARMY
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Na sequência da visita do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a Washington D.C., na quinta-feira, a Administração Biden está a dar passos concretos para fornecer mísseis de longo alcance ATACMS à Ucrânia, segundo os media norte-americanos.

Várias pessoas familiarizadas com as discussões em curso disseram ao Washington Post que a Casa Branca está próxima de um anúncio sobre a decisão e que os EUA vão entregar uma versão do sistema de mísseis que espalha explosivos mais pequenos – o fornecimento de armas de fragmentação dos EUA à Ucrânia, desde Julho, já é objecto de controvérsia.

Washington tem-se mostrado relutante em fornecer ATACMS, em parte devido às preocupações relacionadas com o seu alcance máximo – podem muito bem atingir a Rússia.

Mas a medida representaria a mais recente num padrão de decisões ao longo do conflito: acordos para fornecer à Ucrânia armas cada vez mais complexas ou poderosas, que estavam retidas por precaução, nomeadamente devido à possibilidade de uma escalada com a Rússia.

Eis o que se sabe sobre os ATACMS, os Sistemas Mísseis Tácticos do Exército [Army Tactical Missile Systems, no original] que os EUA estão perto de enviar para a Ucrânia:

O que são os ATACMS?

Dependendo da versão que os EUA decidirem enviar, os ATACMS podem ter um alcance máximo de 190 milhas [cerca de 306 quilómetros], mais do dobro dos mísseis Tochka-U da Ucrânia, da era soviética.

A Lockheed Martin, que fabrica os ATACMS, produz 500 unidades do sistema por ano, mas a sua venda é exclusiva a um grupo de países, que não inclui a Ucrânia.

O Reino Unido e França forneceram à Ucrânia mísseis de cruzeiro, para serem lançados a partir de aviões, com um alcance de 140 milhas [225 quilómetros]. Já os ATACMS são disparados a partir de terra.

Os ATACMS versão “cluster” espalham centenas de explosivos individuais numa área. As munições de fragmentação, que estão proibidas em grande parte do mundo, são alvo de críticas por parte de grupos de direitos humanos, que argumentam que são potencialmente indiscriminadas e que podem deixar para trás reminiscentes por explodir, perigosos para civis.

Por que é que os EUA resistiram a enviar ATACMS para a Ucrânia e o que é que mudou agora?

O Pentágono resistiu a fornecer ATACMS à Ucrânia por receio que os mísseis pudessem atingir o território russo – uma preocupação que os responsáveis ucranianos catalogaram como paternalista.

A recusa de Washington decorre do receio de que o fornecimento daquelas armas – que Moscovo já disse que ultrapassaria uma linha vermelha – possa agravar o conflito e levar a um confronto EUA-Rússia.

Para além disso, os EUA definiram um stock fixo de ATACMS. Enviar alguns para a Ucrânia reduzirá o armazenamento norte-americano sem que possa haver uma reposição rápida. O Pentágono também explicou que a Ucrânia dizia que tinha necessidades mais urgentes que os ATACMS.

A variante “cluster”, que se distingue da variante com ogiva simples ou “unitária”, é comparativamente abundante nos armazéns dos EUA, mas já não é a preferida, situação que pode torná-la uma opção mais atractiva para ser enviada para a Ucrânia – a Reuters foi o primeiro órgão noticioso a dar conta das discussões sobre o envio de ATACMS com ogivas “cluster”.

Em Maio de 2022, Biden disse aos jornalistas que Washington não iria “enviar para a Ucrânia sistemas de mísseis que poderiam atingir a Rússia”. Um ano depois, em Maio de 2023, o Presidente dos EUA alterou a sua posição, assumindo, pela primeira vez, que o fornecimento de ATACMS “ainda estava em cima da mesa”.

A mudança de ideias sobre o tema, nesta semana, surge numa altura em que a contra-ofensiva ucraniana, lançada em Junho, faz progressos lentos contra as defesas russas no Sudeste da Ucrânia.

O que é o HIMARS?

Os ATACMS podem ser disparados a partir de HIMARS – Sistema de Foguetes de Artilharia de Grande Mobilidade [High Mobility Artillery Rocket System, no original –, que os EUA têm estado a enviar para a Ucrânia desde o ano passado. Até ao momento, os EUA só forneceram mísseis teleguiados, com alcance de 50 milhas [80 quilómetros], para aquele sistema.

A Ucrânia afirmou que os HIMARS estavam a “mudar o jogo”. Leves e facilmente transportáveis, deram mobilidade às forças ucranianas no campo de batalha.

O HIMARS M142, de longe o sistema mais avançado que Washington forneceu a Kiev, é leve e é acoplado a um veículo com rodas, garantindo mais agilidade no terreno a quem o opera.

O sistema representa uma ameaça tal paras as operações de Moscovo que o ministro russo da Defessa, Serguei Shoigu, ordenou aos seus comandantes que dessem prioridade a alvejá-lo e a destruí-lo.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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