O que é o Sistema de Foguetes de Artilharia de Grande Mobilidade que os EUA vão enviar para a Ucrânia?

Washington finalmente decidiu-se a enviar os MLRS para a Ucrânia no esforço de guerra no Leste, mas com alcance limitado a 80 km e com o compromisso expresso dos ucranianos de que não os usarão para atacar alvos na Rússia.

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Os M142 HIMARS que os EUA vão enviar para a Ucrânia estão equipados com seis foguetões teleguiados Tech. Sgt. Patrick Evenson/Departamento de Defesa dos EUA

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, concordou em fornecer à Ucrânia sistemas avançados de lançamento de rockets de médio alcance que podem atacar com precisão alvos russos como parte de um novo pacote de ajuda de armas à Ucrânia avaliado em 700 milhões de dólares (652 milhões de euros), que deve ser apresentado esta quarta-feira.

“O objectivo da América é directo: queremos ver uma Ucrânia democrática, independente, soberana e próspera com os meios para se defender e dissuadir novas agressões”, disse Biden. “Não procuramos uma guerra entre a NATO e a Rússia” nem uma escalada no conflito, acrescentou. Os sistemas que os EUA vão enviar para a Ucrânia são móveis e podem atingir alvos com precisão a uma distância que pode ir até 80 quilómetros.​

O que são os Himars - Sistemas de Foguetes de Artilharia de Grande Mobilidade?

Tanto a Ucrânia quanto a Rússia já usam sistemas de lançamento múltiplo de foguetes (MLRS, na sigla inglesa), mas nunca nenhum como esta nova arma constituída por uma unidade móvel que lança, simultaneamente, vários mísseis guiados com precisão.

O sistema M142 Himars (High Mobility Artillery Rocket System) que Washington vai enviar para Kiev é uma versão modernizada, mais leve e mais ágil do que o M270 MLRS, utilizado, desenvolvido na década de 1970 pelas forças americanas e aliadas.

Estes sistemas usam seis tubos pré-carregados com mísseis teleguiados (enquanto que o M270 contém apenas dois), ou um tubo maior com um míssil táctico - Sistema de Míssil Táctico do Exército (Atacms). Mas os EUA não disponibilizaram este último tipo de míssil com alcance de até 300 quilómetros.

É tripulado por uma equipa pequena e os tubos podem ser removidos e substituídos por outros novos em minutos e sem a ajuda de outros veículos, ao contrário dos actualmente utilizados. Mas os militares precisam de formação específica para os manobrar.

Vários países membros da NATO já possuem estes sistemas, sendo que a Polónia e a Roménia foram os últimos a adquiri-los aos Estados Unidos.

Por que constituem uma mais-valia para o exército ucraniano?

Os Himars trarão às forças militares da Ucrânia a capacidade de atacar a linha da frente russa a uma distância maior e, consequentemente, com mais segurança para o armamento e para os seus soldados, por estar a coberto da artilharia russa.

Os mísseis guiados por GPS que os Himars disparam têm um alcance duas vezes superior aos que os EUA forneceram à Ucrânia anteriormente.

Além disto, estes novos sistemas poderão também atacar os depósitos de mantimentos russos e contribuir para aumentar as dificuldades de logística que os analistas dizem que os russos vêm sofrendo ao longo deste conflito.

Um alto funcionário da defesa dos EUA, citado pelo Guardian, afirma que os Himars podem ser um “divisor de águas” num momento da guerra em que as forças da Ucrânia estão a ser fustigadas pela artilharia russa no Donbass. Ainda assim, a mesma fonte não está convencida que venham a mudar o curso da guerra de um momento para o outro. “Os Himars vieram tornar o cenário mais igual”, concluiu.

Por que razão Washington decidiu enviar apenas os foguetes de médio alcance?

Foram longos os debates na administração norte-americana sobre o envio de sistemas de longo alcance, mas, pela falta de consenso, optou-se por enviar apenas os de médio alcance. O perigo de uma escalada do conflito retraiu Washington.

Esta discussão surgiu no seguimento dos pedidos insistentes do Governo ucraniano, incluindo do Presidente Volodymyr Zelensky e do ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmitro Kuleba, para que os EUA e os seus aliados fornecessem à Ucrânia os MLRS, para que a sua artilharia pudesse atingir alvos a maior distância e com precisão.

Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido, foi um dos grandes apoiantes da ideia do envio de sistemas de longo alcance, referindo que seria uma aposta ofensiva que, na sua opinião, seria uma melhor opção que a de tentar chegar a um acordo de paz com o Presidente russo, Vladimir Putin.

Johnson pediu aos EUA e aos países aliados que tomassem esta decisão rapidamente tendo em conta o avanço rápido das forças russas no Leste da Ucrânia.

Para Washington se decidir a enviar os Himars para a Ucrânia, Kiev teve de dar garantias de que não usaria as armas para atacar alvos dentro do território Rússia, segundo um alto funcionário dos EUA citado pela Reuters.

Qual a reacção russa à chegada dos Himars à Ucrânia?

A Rússia criticou este novo pacote de ajuda de armamento dos EUA e disse que a decisão do Governo de Joe Biden de fornecer sistemas avançados de rockets e munições para a Ucrânia vai ser extremamente negativa para o conflito e que vem aumentar o risco de um confronto directo.

O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Ryabkov, disse à agência de notícias estatal RIA, citada pela Reuters, que Moscovo vê a ajuda militar dos EUA à Ucrânia “de forma extremamente negativa”.

“As tentativas de apresentar a decisão como contendo um elemento de ‘autocontenção’ são inúteis”, disse Ryabkov. “O facto de os Estados Unidos estarem ligados a um reforço extremamente grande de armas ao regime de Kiev é uma coisa óbvia.”

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