Ucrânia admite superioridade russa na batalha pelo Donbass

Apenas 5% da região de Lugansk se mantém em mãos ucranianas, diz o governador local, assumindo a retirada das suas tropas. Zelensky pede mais armas ao Ocidente.

Foto
A cidade de Kramatorsk tem sido um dos alvos dos bombardeamentos russos Reuters/CARLOS BARRIA

As tropas russas hastearam esta quinta-feira a bandeira da autoproclamada República Popular de Donetsk no edifício governamental em Lyman, assinalando a conquista de mais uma cidade no Donbass. Dali estão a cerca de 30 quilómetros de Sloviansk e a outros tantos de Kramatorsk, duas importantes cidades do Leste ucraniano que em 2014 chegaram a ser bastiões das forças separatistas pró-russas.

Ainda mais para Leste, a Rússia conseguiu novos ganhos territoriais e o cerco a Severodonetsk vai-se fechando pouco a pouco. Sergii Haidai, governador da região de Lugansk, admite que a Ucrânia já só controla 5% daquele território, depois de na última semana os russos terem feito progressos visíveis. “É óbvio que os nossos homens estão lentamente a retirar-se para posições mais fortificadas. Precisamos de ganhar a guerra, não a batalha”, afirmou, como que antecipando a derrota na região.

O Estado-maior das Forças Armadas ucranianas também reconheceu a superioridade russa na actual fase da ofensiva. “Sim, o inimigo tem neste momento a vantagem em [poder de] aviação e artilharia, mas estamos a fazer tudo o que nos é possível”, disse o general Oleksii Gromov em Kiev.

Depois de um mês em que os seus avanços no Donbass foram relativamente pequenos, as forças russas parecem agora estar a conseguir sobrepor-se às defesas ucranianas. Nesta fase, a guerra é sobretudo posicional, marcada por muitos ataques aéreos e de artilharia e não tanto por combates terrestres entre soldados. E esta forma de confronto está a ser custosa para a Ucrânia. Segundo Volodymyr Zelensky, entre 50 a 100 soldados morrem todos os dias.

“É uma alta taxa de baixas”, avalia Michael Kofman, analista militar americano especializado nas Forças Armadas da Rússia e da antiga União Soviética. “Os recentes ganhos russos no Donbass, apesar de uma vantagem militar relativamente pequena, sugerem que as forças da Ucrânia sofreram um desgaste significativo”, escreveu, questionando: “As forças ucranianas vão conseguir lançar um grande contra-ataque no futuro próximo ou os dois lados vão enfrentar um certo grau de exaustão?”

A seu ver, ainda “é demasiado cedo para fazer previsões sobre como a batalha pelo Donbass vai terminar” porque “a Ucrânia pode perder território a curto prazo, mas a Rússia tem grandes problemas em manter o esforço militar a longo prazo”. Por esse motivo, avalia Kofman, “a guerra pode tornar-se longa”.

Zelensky pede mais armas

Apesar de a distância entre ambas as cidades não ser grande, entre Lyman e Sloviansk passa o rio Donets, que se tem revelado um importante obstáculo ao avanço russo. Os soldados ainda não o transpuseram e há duas semanas registaram-se mesmo pesadas baixas numa tentativa fracassada em Bilohorivka. Por outro lado, antecipando as movimentações inimigas, as tropas ucranianas passaram os últimos dias a criar novas trincheiras em redor de Sloviansk e Kramatorsk, onde se concentra grande parte do esforço defensivo actual.

No seu balanço da guerra perante a imprensa, o general Oleksii Gromov não perdeu a oportunidade para renovar o apelo à doação de armas ocidentais. “O fornecimento de armas modernas pelos países parceiros vai acelerar a nossa vitória”, declarou.

Horas antes tinha sido Zelensky a queixar-se de que o Ocidente não estava a fazer o suficiente para ajudar a Ucrânia. “Armas, a política de sanções e a unidade dos nossos parceiros em relação à adesão da Ucrânia na União Europeia: é isto que nos pode dar força na defesa da nossa terra”, escreveu o Presidente ucraniano depois de ter recebido a visita da primeira-ministra finlandesa, Sanna Marin.

Zelensky também atacou os que lhe pedem para fazer concessões territoriais em troca da paz. Num vídeo publicado na quarta-feira à noite no seu Facebook, visou particularmente Henry Kissinger, antigo secretário de Estado norte-americano que pediu “sensatez” à Ucrânia, e o The New York Times, que publicou um editorial que defendia a mesma ideia. “O que quer que seja que a Rússia faça, há sempre alguém que diz ‘vamos ponderar os seus interesses’. Aqueles que aconselham a Ucrânia a dar qualquer coisa à Rússia, essas ‘grandes figuras geopolíticas’, nunca vêem as pessoas comuns, os milhões que vivem no território que eles propõem trocar por uma paz ilusória”, acusou.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários