Os amazonenses pobres que sobrevivem na floresta rica

A floresta da Amazónia está intacta nas zonas distantes. É este idílio que se confronta com a ideia de progresso que troca a floresta pela soja ou pelo gado; ou com a riqueza fácil do garimpo ilegal.

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Um dia depois de largar de Tabatinga, o Sagrado Coração de Jesus faz soar vezes sem conta a sua buzina grave para anunciar a boa-nova a uma cidade recôndita do curso do rio Solimões. No cais de Santo António do Içá, pessoas e famílias agitam-se com a proximidade do barco. Carregadores alinham os infindáveis lotes de mercadorias que vai ser preciso levar para bordo ou deixar em terra — cachos de bananas, caixas gigantes de esferovite com gelo e, provavelmente, peixe, malas, sacos de açaí, um frigorífico, ventoinhas, colunas de som... Dentro do barco, dois homens de meia-idade vindos de Minas Gerais para vender torneiras “e coisas assim” tinham já desmontado as redes onde dormiram na noite anterior e aguardavam pelo momento de sair para o calor húmido e sufocante da manhã. A bordo, entre a gritaria exasperante de uma coluna que debitava música sertaneja, os viajantes olhavam curiosos a azáfama que lhes quebrava a rotina de muitas horas de viagem num rio cor de terra ladeado por dois intermináveis muros de árvores.

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