Dinossauro “estranho” e parecido com um pássaro de pernas longas surpreende cientistas

O Fujianvenator seria um dinossauro semelhante a uma ave, mas dificilmente poderia voar. Características estranhas do fóssil podem vir a dar mais pistas sobre a origem das aves.

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Ilustração do dinossauro descoberto agora na China Chuang Zhao

Há cerca de 148 a 150 milhões de anos, um “bizarro” dinossauro do tamanho de um faisão, semelhante a um pássaro de pernas alongadas e braços com uma estrutura parecida a asas, habitou o Sudeste da China. A anatomia intriga os cientistas e aponta para que este dinossauro fosse um velocista ou tivesse um estilo de vida similar às aves pernaltas (como os flamingos).

Esta quarta-feira, um estudo publicado na revista Nature mostra que os cientistas descobriram o fóssil deste dinossauro, do período Jurássico, na província de Fujian. O nome ficou cunhado como Fujianvenator prodigiosus e é um fóssil que poderá dar novas pistas sobre a evolução da origem das aves.

Se o Fujianvenator, com a sua mistura curiosa de características, deve ser classificado como uma ave ou não, dependerá do que considerarmos uma ave, refere Min Wang, paleontólogo da Academia Chinesa de Ciências responsável pelo estudo publicado esta quarta-feira. Como descrever este animal? “Diria ‘bizarro’. O Fujianvenator está longe de ser semelhante a qualquer pássaro moderno”, respondeu Min Wang.

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O Fujianvenator teria pernas longas e, possivelmente, penas ao longo do corpo CHUANG ZHAO

Na evolução dos dinossauros, há um marco distintivo quando os terópodes – pequenos dinossauros bípedes com penas – deram origem a aves no final do período Jurássico, nomeadamente à ave mais antiga que conhecemos, o Archaeopteryx, que viveu há cerca de 150 milhões de anos, na Alemanha.

O Fujianvenator é membro de um grupo chamado avialae, que inclui todas as aves e os seus parentes mais próximos de dinossauros não-aviários, explica Min Wang. Apesar do início comedido, as aves sobreviveram ao ataque do asteróide que condenou os restantes dinossauros não-aviários à extinção, há 66 milhões de anos.

Um fóssil enigmático

O fóssil do Fujianvenator, descoberto em Outubro do ano passado, está bastante completo, mas não tem o crânio, nem as patas do animal – o que dificulta a interpretação da sua dieta alimentar e do estilo de vida que tinha. O osso da perna do Fujianvenator, a tíbia, tem o dobro do comprimento do osso da coxa, o fémur. Esta proporção é única entre os terópodes, um grupo que inclui todos os dinossauros carnívoros, como o Tyrannosaurus rex.

“O membro anterior é geralmente construído como se fosse a asa de um pássaro, mas com três garras nos dedos, algo que não existe nas aves modernas. Mas não é possível determinar se o Fujianvenator conseguia voar ou não. Tendo em conta as características do seu esqueleto, é provável que não fosse muito competente no voo”, acrescenta Min Wang.

“O fóssil não preserva penas, pelo que não sabemos se as teria. No entanto, os parentes mais próximos e quase todos os terópodes aviários conhecidos têm penas, e as penas são amplamente distribuídas entre os dinossauros. Pelo que não seria surpreendente se o Fujianvenator tivesse penas”, diz o investigador chinês.

Atendendo à anatomia das suas pernas longas, os cientistas propuseram dois estilos de vida possíveis: correr muito rápido ou passear normalmente em ambientes pantanosos, como os flamingos ou as garças modernas. “Apostaria que era um velocista”, defende Min Wang.

Os cientistas estão à procura de perceber melhor a origem das aves, bem como dos dinossauros não-aviários que têm características semelhantes às aves. “O Fujianvenator representa mais uma prova interessante da ampla distribuição de vários dinossauros similares a aves, que vivem quase ao mesmo tempo e partilham habitats muito semelhantes com as próprias aves”, refere Zhonge Zhou, também paleontólogo na Academia Chinesa de Ciências e co-autor do estudo publicado.

Os capítulos iniciais da história das aves continuam obscuros devido à escassez de fósseis. Após a descoberta dos fósseis do Archaeopteryx, uma ave do tamanho de um corvo, com dentes, uma longa cauda ossuda e sem bico, já no século XIX, há um interregno de 20 milhões de anos sem fósseis de aves. “Uma coisa é certa. Ainda há uma grande lacuna entre a ave mais antiga que conhecemos e a segunda ave mais antiga”, sintetiza Zhonge Zhou.

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