Bebé rohingya morreu sufocada com gás lacrimogéneo em campo de refugiados na Índia

Centenas de refugiados da minoria muçulmana foram detidos pela polícia nos últimos dois dias no Norte da Índia e podem ser deportados para a Birmânia, onde a ONU considera que sofreram um genocídio.

Foto
A Junta Militar da Birmânia é acusada de genocídio contra os rohingya EPA/MAUNG LONGLAN
Ouça este artigo
00:00
03:53

Uma bebé de apenas cinco meses morreu quando refugiados rohingya tentavam fugir da prisão no estado de Jammu e Caxemira, sob administração da Índia, onde estão há mais de dois anos. Neste centro, há pelo menos 270 detidos em greve de fome desde Abril. Quando alguns refugiados tentaram escapar, “a polícia atacou o centro de detenção, um espaço confinado, com gás lacrimogéneo”, descreve a Rohingya Human Rights Initiative. Esta terça-feira, activistas denunciam ainda a detenção arbitrária de 74 refugiados rohingya, no estado de Uttar Pradesh, acusados de ali viverem “ilegalmente”.

De acordo com a organização Rohingya Human Rights Initiative, a bebé, filha da refugiada Namina Khatoon e nascida no centro, morreu depois de inalar o gás, sem ter recebido quaisquer cuidados médicos. A morte da bebé rohingya, que aconteceu já há alguns dias, foi divulgada esta terça-feira no jornal The Guardian, um dia depois de ser denunciada no Twitter pela ONG que tenta defender os membros desta minoria muçulmana na Índia.

Aconteceu em Hiranagar, uma antiga prisão a que as autoridades chamam agora centro de detenção: os rohingya que ali se encontram, explica o diário britânico, foram detidos em Março de 2021, depois de terem sido acusados de viverem ilegalmente na Índia. E apesar de serem reconhecidos como refugiados pelo ACNUR (Alto Comissariado da ONU para os Refugiados), dois dos detidos em Hiranagar já foram deportados dali para Birmânia, de onde fugiram inicialmente.

Refugiados são também os 55 homens, 14 mulheres (uma delas grávida) e cinco crianças que viviam em seis distritos de Uttar Pradesh, no Norte do país, que a polícia deteve esta terça-feira, acusando-os de terem “atravessado ilegalmente a fronteira”, relata o site da Al-Jazeera.

Só que, segundo a Rohingya Human Rights Initiative, todos viviam na região há dez anos, altura em que fugiram na perseguição no seu país. “Só têm pedido abrigo”, disse ao canal o director da ONG, Sabber Kyan Min, explicando que muitos têm trabalhado a recolher lixo. Outros 200 refugiados foram detidos na segunda-feira, no mesmo estado.

“Estas pessoas estão em greve de fome. Estão a dizer ‘somos refugiados, porque é que nos detém e não nos dizem nada [sobre a nossa libertação]?”, afirmou o mesmo Sabber Kyan Min sobre a situação em Hiranagar​, citado pelo Guardian. “São famílias em detenção – não fizeram nada de mal.”

No domingo, a ONG divulgou um vídeo de um casal de refugiados em algemas num funeral: segundo os activistas, são os pais da bebé no seu enterro. Das 271 pessoas que se sabe estarem em Hiranagar, 144 são mulheres e crianças.

Estes são apenas os últimos casos a reflectir os maus-tratos e a discriminação a que os rohingya estão sujeitos na Índia. A Human Rights Watch diz que há cerca de 40 mil rohingya a viver na Índia, incluindo 20 mil registados pelo ACNUR. Em Jammu, descreve o grupo de direitos humanos, "desde 2016 que são alvo de grupos ultranacionalistas hindus, como parte dos ataques crescentes contra aos muçulmanos na Índia”, com muitos a pedirem que sejam expulsos.

A situação dos rohingya tem-se tornado mais complicada à medida que se aproximam as eleições legislativas do próximo ano. O Bharatiya Janata (BJP), no poder, diz que se prepara para deportar milhares.

Na Birmânia, para onde a Índia deportou pelo menos 12 rohingya desde 2018, “alegando que partiram de forma voluntária”, 600 mil membros da comunidade permanecem “confinados” em campos e aldeias, sujeitos a um “sistema de apartheid, perseguições e grave privação de liberdade”. Os abusos, sublinha a Human Rights Group. Pioraram desde 2021, quando os militares regressaram ao poder através de um golpe.

As Nações Unidas dizem que as repetidas campanhas militares contra os rohingya tiveram “intenção genocida”. A Junta Militar da Bimânia é acusada de genocídio e as audiências deviam ter começado o ano passado no Tribunal Penal Internacional.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários