Contestação ao golpe militar na Birmânia ganha força com apoio de professores e alunos

“Não vamos deixar que a nossa geração sofra sob esta ditadura militar”, dizem os estudantes que saíram às ruas para contestar o golpe de Estado e demonstrar apoio a Aung San Suu Kyi. Autoridades começaram a deter manifestantes.

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Estudantes fazem a saudação dos três dedos após serem detidos pela polícia Reuters/STRINGER
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Ruas de Rangum estao enfeitadas com balões vermelhos, cor do partido de Aung San Suu Kyi Reuters/STRINGER
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Professores e alunos em protesto em frente à Universidade de Dagon, em Rangum LYNN BO BO/EPA

O movimento de resistência ao golpe de Estado na Birmânia começa a ganhar força, com centenas de professores e estudantes a saírem às ruas para se juntarem à campanha de desobediência civil e manifestarem apoio ao Governo deposto pelos militares.

Naqueles que já são considerados os maiores protestos desde que os militares assumiram o poder na passada segunda-feira, estudantes de duas universidades de Rangum, com laços vermelhos na lapela, ergueram cartazes, entoaram cânticos de apoio à “'mãe’ Aung San Suu Kyi” e fizeram a saudação de três dedos, um sinal de resistência usado pelo movimento anti-governamental na vizinha Tailândia.

“Acreditamos que teremos de liderar este movimento”, disse à AP o estudante Miin Han Htet. “Todas as pessoas, incluindo os estudantes, terão de derrubar a Junta Militar. Teremos de garantir que as juntas não voltam a aparecer na próxima geração”, acrescentou.

“Não vamos deixar que a nossa geração sofra sob esta ditadura militar”, garantiu à AFP Min Sithu, outro estudante que saiu à rua esta sexta-feira.

Os jovens foram acompanhados pelos professores, que se juntaram a uma campanha de desobediência civil iniciada por médicos e profissionais de saúde, abandonando os postos de trabalho durante várias horas ou entrando mesmo em greve total.

“Enquanto cidadã, não posso aceitar este golpe militar”, disse à AFP Win Win Maw, professora na Universidade de Rangum. “Temos de resistir a esta ditadura.”

Funcionários de vários ministérios também aderiram ao protesto na capital birmanesa, Naypyidaw, parando de trabalhar durante algumas horas enquanto usavam o mesmo laço vermelho - cor da Liga Nacional para a Democracia (NLD), partido de Suu Kyi – que se viu ao longo do dia na lapela de estudantes, professores e médicos.

A NLD, que venceu as eleições legislativas de Novembro com maioria absoluta, enfurecendo os militares, declarou apoio aos protestos em curso e prometeu auxiliar quem fosse detido pelas autoridades.

Detenções

As campanhas de desobediência civil têm sido coordenadas nas redes sociais, por isso os militares decidiram bloquear o acesso ao Facebook e, esta sexta-feira, começaram a sentir-se perturbações no Twitter. Contudo, a medida não parece estar a surtir efeito, não só porque os protestos simbólicos continuam, como as ruas, enfeitadas de laços e balões vermelhos, começam a ser palco das primeiras manifestações expressivas.

As autoridades birmanesas começaram a fazer detenções. Em Mandalay, a segunda maior cidade do país, pelo menos 30 pessoas foram detidas na sequência dos protestos das três últimas noites, quando muitos birmaneses foram às suas varandas bater em tachos e panelas para contestar o golpe militar.

Desde o golpe de Estado de segunda-feira, liderado pelo general Min Aung Hlaing, que decretou um estado de emergência de um ano e assumiu a liderança do país até novas eleições serem convocadas, já foram detidas mais de 150 pessoas, incluindo activistas que contestaram o golpe, políticos, membros do Governo deposto e manifestantes. 

Entre elas, além de Suu Kyi e do Presidente Win Myint, que não são vistos em público desde segunda-feira, está Win Htein, de 79 anos, uma das figuras mais influentes da NLD.

“Nunca tive medo deles porque não fiz nada de errado em toda a minha vida”, disse Win Htein à Reuters após ser levado pela polícia na manhã desta sexta-feira, horas depois de ter criticado publicamente o golpe de Estado e de ter acusado os militares de estarem a levar a Birmânia “para o caminho errado”.

“Eles não gostam daquilo que tenho dito. Têm medo do que estou a dizer”, disse à BBC Win Htein, que, tal como Aung San Suu Kyi, passou vários anos preso devido à sua oposição ao regime militar que vigorou na Birmânia entre 1962 e 2011.

A nível internacional, a pressão sobre os militares aumenta, tendo o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovado uma resolução a exigir a libertação dos líderes políticos e civis, apesar de não condenar explicitamente o golpe militar, um tom mais brando adoptado para garantir o apoio da China e da Rússia. Os Estados Unidos, por seu lado, estão a equacionar sanções individuais.

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