Birmânia: Partido de Suu Kyi anuncia vitória nas eleições legislativas

Porta-voz da Liga Nacional para a Democracia diz que o partido conseguiu maioria absoluta. Comissão Eleitoral aind anao divulgou os resultados.

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Criticada no exterior, Suu Kyi é muito popular naBirmânia SHWE PAW MYA TIN/Reuters

O partido que governa a Birmânia, a Liga Nacional para a Democracia (NLD), anunciou nesta segunda-feira ter conquistado lugares suficientes no Parlamento para ter a maioria e manter o poder, apesar de a Comissão Eleitoral não ter concluído a divulgação dos resultados.

“Posso agora confirmar que garantimos mais de 332 lugares. Queríamos garantir 377 no total. Mas provavelmente será mais do que isso”, disse Monywa Aung Shin, uma porta-voz do comité de informações do NLD.

A confirmarem-se, os 332 lugares garantem a maioria absoluta no Parlamento, de 642 lugares.

As declarações foram feitas apesar de não haver dados oficiais fidedignos disponíveis sobre a participação dos eleitores e a Comissão Eleitoral da União havia afirmado anteriormente que poderia demorar até uma semana para divulgar os resultados completos.

Uma vitória no NLD era amplamente esperada, embora se especulasse que a deterioração das relações com partidos representativos de minorias, com os quais o partido cooperou nas últimas eleições de 2015, poderia reduzir os números totais.

Muita da atractividade do NLD é baseada na popularidade da sua líder, Aung San Suu Kyi, vencedora do Nobel da Paz em 1991, que se tornou chefe de facto do Governo com o título de Conselheira de Estado depois das eleições de 2015.

O histórico da sua administração foi misto, na melhor das hipóteses, com o crescimento económico aquém das expectativas e sem um fim à vista para o conflito armado de décadas com as minorias étnicas que procuram mais autonomia.

Porém, entre os seus conterrâneos, Suu Kyi conseguiu manter o apoio que acumulou durante décadas de luta pela democracia contra as ditaduras militares que a precederam.

Fora da Birmânia, a sua reputação caiu a pique em resposta ao fracasso em defender os direitos humanos da minoria muçulmana rohingya do país.

Os apoiantes no exterior ficaram chocados por Suu Kyi não ter feito nada a respeito da brutal campanha contra a insurgência do Exército de Myanmar em 2017, que forçou cerca de 740.000 rohingya a fugir pela fronteira para o vizinho Bangladesh.

Porém, a questão era de pouca preocupação para a maioria dos eleitores, devido ao preconceito profundo contra os rohingya, que muitos consideram imigrantes ilegais do sul da Ásia, apesar de as suas famílias se terem estabelecido no país há gerações, mas poucos têm cidadania ou direitos civis, incluindo o direito ao voto.

Nos últimos meses, Suu Kyi tem projectado, nos media estatais e em directos nas redes sociais, uma imagem forte de liderança enquanto a Birmânia lutava contra um aumento nas infecções por covid-19.

Ao mesmo tempo, as campanhas eleitorais tradicionais, como grandes comícios, foram contidas devido a restrições impostas para impedir a propagação do coronavírus.

Mais de 90 partidos disputaram a eleição e 37 milhões de pessoas puderam votar, incluindo cinco milhões de novos eleitores.

Em 2015, o NLD atingiu uma vitória esmagadora, dando-lhe maioria absoluta e encerrando mais de cinco décadas de governo militar.

O partido de Suu Kyi atraiu críticas de grupos de direitos humanos pela forma como conduziu as eleições, com foco na privação de direitos da minoria rohingya.

“O princípio básico das eleições segundo o direito internacional é o sufrágio universal e igual e não foi o que aconteceu no domingo”, afirmou em comunicado Ismail Wolff, director regional da Fortify Rights, uma organização não-governamental de defesa dos direitos humanos.

Segundo o próprio, “a comunidade internacional deve condenar inequivocamente a privação de direitos dos rohingya e outras nacionalidades étnicas” ou arrisca-se a “abrir caminho para futuras violações” dos direitos humanos.

“Outras preocupações incluem a repressão contínua do governo aos direitos à liberdade de expressão e de reunião pacífica, incluindo a prisão e detenção arbitrária de actores e activistas da sociedade civil”, finalizou o grupo.

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