Biden diz que a decisão de enviar bombas de fragmentação para a Ucrânia foi “difícil”

Presidente dos Estados Unidos disse que a decisão de enviar bombas de fragmentação para a Ucrânia foi “difícil”, mas necessária. Vários democratas de destaque estão contra Joe Biden.

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Joe Biden disse que o envio de bombas de fragmentação para a Ucrânia não é definitiva EPA/SHAWN THEW

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que foi "difícil", mas necessária, a decisão de enviar bombas de fragmentação para a Ucrânia, como parte do novo pacote de ajuda militar, já que "os ucranianos estão a ficar sem munições". É um argumento que não convence alguns dos mais importantes democratas no país.

Numa entrevista à CNN, que será transmitida na íntegra este sábado, o chefe de Estado norte-americano destacou que esta não é uma decisão definitiva, mas que vai vigorar enquanto o país garantir o abastecimento suficiente de artilharia de calibre 155 milímetros (mm), amplamente utilizada pelos sistemas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

"Esta guerra é sobre munições, e eles [os ucranianos] estão a ficar sem elas. Nós temos pouco", disse o chefe de Estado norte-americano. Insistiu ainda que esta foi uma decisão acertada com os aliados, apesar das reservas da Alemanha e das críticas da organização Human Rights Watch (HRW).

O subsecretário de Defesa norte-americana, Colin Kahl, em conferência de imprensa, também afirmou que o envio de munições vai ser uma "ponte" enquanto os Estados Unidos e os aliados europeus ampliam a produção de projécteis de 155 mm. Vão ser enviadas "num prazo relevante para a contra-ofensiva", disse um funcionário do Pentágono.​

Só que as bombas de fragmentação são proibidas em mais de 100 países. Estas bombas libertam um grande número de pequenos projécteis que podem matar indiscriminadamente numa área ampla. Aquelas que não explodem representam um perigo por décadas após o término de um conflito.

Essa é a base de todas as críticas que estão a ser endereçadas a Joe Biden, inclusivamente por legisladores do próprio partido. Betty McCollum, membro da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos e do subcomité de fundos para a defesa, disse que a decisão de Joe Biden "é desnecessária e um erro terrível".

"O legado das bombas de fragmentação é a miséria, a morte e a dispendiosa limpeza, gerações após a sua utilização", argumentou Betty McCollum: "Estas armas deviam ser eliminadas dos nossos stocks, não despejadas na Ucrânia."

Barbara Lee, membro do painel da Câmara dos Representantes que financia o Departamento de Estado, também se disse "alarmada" com a decisão num tweet publicado depois do anúncio. Jim McGovern, membro do Comité de Regras da Câmara, considerou que o envio destas munições representa uma ruptura com os aliados da NATO, como o Reino Unido, França, Alemanha e Espanha.

Chrissy Houlahan, veterana da Força Aérea e membro da Câmara dos Serviços Armados, emitiu um comunicado em que contesta o argumento de que a Ucrânia deve utilizar as mesmas tácticas que a Rússia — a justificação que Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional norte-americano, apresentou.

Para ela, isso seria "confundir as linhas de elevação moral": "Desafio-nos a todos a lembrarmo-nos que esta guerra vai acabar e que os pedaços da Ucrânia terão de ser reconstruídos. A História recorda não só quem ganha uma guerra, mas também como é que uma guerra é ganha."

Entretanto, o Kremlin também reagiu ao anúncio. O embaixador russo nos Estados Unidos considerou que a cedência de bombas de fragmentação pelos norte-americanos à Ucrânia é "um gesto de desespero" e uma assunção de que o país liderado por Joe Biden é "impotente".

"Eles não querem admitir os seus próprios erros e o fracasso das tentativas das forças ucranianas de conduzir uma ofensiva contra regiões russas. Daí esta última loucura da parte deles", considerou Anatoly Antonov em declarações citadas pela TASS (a agência estatal russa).

Anatoly Antonov considerou que as​ "​provocações americanas estão realmente fora de escala" e "estão a aproximar a humanidade de uma nova guerra mundial": "Os Estados Unidos estão tão obcecados com a ideia de derrotar a Rússia que não percebem a gravidade das suas acções. Estão apenas a aumentar o número de vítimas e a prolongar a agonia do regime de Kiev​​".

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