“Já várias pessoas me disseram que o livro tinha ajudado os filhos a comer”

Luísa Villar pegou na sua experiência de avó para escrever Não Se Brinca com a Comida, um livro repleto de ideias para as crianças se entreterem à mesa, de preferência, com os avós e os pais.

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MATILDE FIESCHI
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Foi em casa que Luísa Villar, mãe de dois filhos e também avó, começou a escrever histórias com a comida para entreter os seus quatro netos, que serviram de inspiração para escrever um livro repleto de ideias para avós, pais e crianças se divertirem à mesa. Apesar de, em 2021, ter escrito Mesaluisa: Receitas e Mulheres de Todos os Tempos, que já esgotou a sua primeira edição, agora o Não Se Brinca com a Comida ganhou vida quando percebeu que partilhar as suas histórias seria “algo valioso”.

O PÚBLICO esteve com Luísa Villar no seu espaço no Pátio da Ribeira, em Lisboa, onde recebe turistas para provarem a gastronomia portuguesa e conhecerem um pouco mais do que é Portugal e os seus costumes. A autora é também apresentadora de Mesaluísa, no canal SIC Mulher, onde convida celebridades como Rita Blanco, Ricardo Pereira ou Lúcia Moniz para conversarem e confeccionarem com ela algumas receitas.

Agora, neste livro não há receitas. "São passos para dispor a comida. É organizar os alimentos de uma certa forma no prato. É transformá-los em personagens”, explica. Aos 62 anos, Luísa Villar sente-se realizada e tem planos, para um dia, quando se reformar. A ex-publicitária, apresentadora e autora é mãe dos artistas Luísa e Salvador Sobral.

Qual a razão para ter escolhido este título?
Não fui eu que escolhi. Foi a minha filha. A minha filha ajuda-me muito na parte criativa e eu estava aflita com nomes. Passado uma hora, disse-me tudo. Não tenho mérito nenhum

Depois do Amar Pelos Dois…
Pois, por isso por que me vou cansar? Ligo-lhes [aos filhos] e eles dizem-me! (risos)

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Luísa Villar é mãe de Luísa Sobral e Salvador Sobral MATILDE FIESCHI

Como surgiu a ideia de criar histórias e personagens e relacioná-las com a comida?
Já fiz um primeiro livro em que também faço isso exactamente. Eu gosto disto, gosto muito de escrever. E desde que tenho netos gosto de escrever histórias para eles e por isso achei: “Já que eu crio um personagem de uma pêra ou de uma maçã, aquele merece viver um bocadinho mais do que os cinco minutos em que eles vão estar ali a comer”. Então, pensei que era engraçado criar uma história à volta desses personagens. E depois achei que seria engraçado não acabar a história, para os miúdos estarem mais envolvidos. Há muitas histórias que não acabam, ficam a meio para serem eles a acabarem enquanto estão a comer.

Para criar o livro inspirou-se nos seus filhos e netos?
Inspirei-me nos meus netos. Comecei a desenhar só porque sim, mas quando o [neto] mais velho começou a comer comida normal, eu comecei a fazer bonecos com a comida. E depois os miúdos são muito exigentes. Cada vez me pediam mais e um dia diziam-me: “Avó, hoje tem de ser uma tartaruga Ninja!” e eu ia para a Internet pesquisar e desenhava em papéis. Às tantas, comecei a criar um manual, já era quase eu que me desafiava e fazia cada vez mais. Tirava sempre fotografias e mandava para a minha filha e para o meu genro. Comecei também a mostrar às minhas amigas que diziam: “Tu devias publicar isso, porque é giríssimo, nós também gostávamos de fazer.” E pensei: “Porque não?”, já que tenho isto tudo, posso ir buscar mais e partilhar. Falei com a minha editora e ela disse logo: “Boa ideia, acho isso incrível, porque não há ideias assim.” E depois comecei, mas foi uma trabalheira… Uma coisa é fazer para os netos, outra coisa é a sério.

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A proposta do último livro de Luísa Villar é criar histórias à volta da comida MATILDE FIESCHI

Como é que se põe os miúdos a comer coisas de que não gostam?
Eu devo dizer que não tenho esse problema. Os meus netos comem tudo, acho que até comem minhocas (risos). Já várias pessoas me disseram que o livro tinha ajudado os filhos a comer. Acham divertido.

Os avós têm tempo para fazer este tipo de ideias com os seus netos?
Eu penso que os avós têm muito mais tempo do que os pais. Porque os pais querem despachá-los e metê-los na cama. E os avós têm mais disponibilidade de tempo e de cabeça, porque isto demora. Não é nada difícil, mas tem de se ter paciência e tempo. Eu não fiz isto enquanto mãe, estou a fazer agora enquanto avó.

Escreveu um livro, em 2021, Mesaluísa: Receitas e Mulheres de todos os Tempos. O que serviu de motivação para escrever o Não se brinca com a comida?
Foi exactamente os meus netos e os netos das minhas amigas. Elas pedirem-me para eu partilhar as coisas que tinham feito e explicar como é que se fazia. Nós fazemos uma coisa para nós e depois, de repente, pensamos que isso pode ser mais do que para nós, que pode sair e tornar-se algo valioso para partilhar com as outras pessoas. Não é nada muito difícil, mas depois de feito é fácil.

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Durante décadas, Luísa Villar trabalhou em Marketing e Publicidade MATILDE FIESCHI

Pelo seu espaço já passaram várias celebridades, qual a mais memorável?
Para mim, o Chico Buarque porque faz parte da minha geração. Ele veio aqui jantar, mais o Ney Matogrosso e o Caetano Veloso. O Chico era assim, para mim, uma coisa do outro mundo.

Já passou por outras áreas como comunicação, marketing e publicidade. O que a motivou a focar-se na gastronomia?
Sempre gostei de cozinhar. Para me relaxar, eu cozinho. Quando deixei a publicidade e o marketing, achei que podia fazer algo neste espaço. Falo quatro línguas, gosto de cozinhar, de conversar e pensei que juntando estas coisas podia ganhar dinheiro. Pensei em juntar tudo e ser feliz a fazer isto: adoro estar aqui, adoro conhecer pessoas novas e eu cozinho porque realmente gosto de cozinhar. Não estou aqui chateada. Depois fui de um extremo ao outro, ou seja, em publicidade e marketing, a nossa vida é um inferno, os clientes nunca estão contentes, está sempre tudo mal, é um stress horrível. Aqui só tenho pessoas que estão de férias, felizes. Portanto, é o oposto! Os clientes estão felizes, adoram-me, não reclamam com nada (risos). Estão aqui porque querem, estão a comer o que querem, porque são eles que escolhem. Por isso, eu passei do pior que há para o melhor que há! Estou feliz.

A autora não é cozinheira de profissão, mas gosta muito de cozinhar MATILDE FIESCHI
Antes dos turistas, Luísa Villar já tinha o espaço que fica na Avenida 24 de Julho, em Lisboa MATILDE FIESCHI
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A autora não é cozinheira de profissão, mas gosta muito de cozinhar MATILDE FIESCHI

Como surgiu a ideia de promover a culinária portuguesa junto dos turistas?
O meu filho ganhou a Eurovisão [em 2017] e coincidiu quando ele teve um problema de saúde, portanto eu também deixei de trabalhar quando ele ficou doente. Fiz ali um interregno na minha vida profissional e quando ele ficou bom, fiquei um bocado: “O que é que eu vou fazer agora?” Estava há cinco anos sem trabalhar e até foram os meus filhos que me incentivaram. Já tinha este espaço, por isso arranquei com este projecto, em Maio de 2018, quando veio a Eurovisão a Lisboa. Os meus filhos ajudaram-me a promover, porque é muito difícil divulgar um projecto destes junto dos turistas. Ajudaram-me junto dos fãs da Eurovisão e pronto, a partir daí começou a crescer.

Que diferença sente em cozinhar para a sua família e para um programa de televisão?
Para mim, é igual serem muitos ou poucos (risos). Não sinto diferença nenhuma porque tenho uma coisa óptima: finjo que as câmaras não existem. Não tenho nenhum stress. Trabalhei muito com televisão e com as marcas dentro dos programas.

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Luísa Villar acredita que os avós têm mais tempo do que os pais para desenvolver actividades com as crianças MATILDE FIESCHI

Pensa que a forma como nos alimentamos em criança influencia como nos alimentamos em adultos?
Completamente, aliás, eu tenho um exemplo. Na casa da minha mãe não se comia cebola. Não entrava cebola, portanto eu não gostava e sofri muito na minha juventude. Enquanto somos pequenos não faz mal porque não comemos fora, a partir dos 10 anos, comecei a sofrer porque ia para a casa de amigas e tinha vómitos ao comer cebola, era uma coisa horrível. Hoje em dia já como cebola. Com os meus filhos pensei: "Não vou fazer isso, eles vão comer de tudo." Eu não gosto de quase nada! Não gosto de alho, coentros, peixe, cebola... É horrível. Mas a minha mãe é que tem a culpa, porque não nos dava nada disso, portanto nós temos de nos habituar. Aliás, no meu programa de televisão convidei duas pediatras especializadas em alimentação infantil e elas disseram-me: "As crianças têm de ser habituar a comer tudo.”

Qual o objectivo deste livro?
O objectivo deste livro é que todas as avós e mães brinquem com os miúdos à mesa. Se eles se divertirem tanto como me diverti, estou feliz. Acho que tem três partes: primeiro, nós pensarmos no que vamos fazer; segundo, fazer com os miúdos; e terceiro, contar a história, já sentados à mesa. São três momentos importantes e por isso, sinceramente, acho que este livro vai vender bem.

No seu espaço, Luísa recebe turistas vindos de todo o Mundo MATILDE FIESCHI
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