Desafios da educação: reavivar as boas metas

Com estas metas pretende-se desenvolver indivíduos autónomos, intelectualmente ativos e independentes, capazes de estabelecer relações estáveis e eficazes entre as pessoas.

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"O ponto essencial aqui é a educação para a paz" Helena Lopes/Pexels
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Por causa de outros trabalhos que tenho em mãos, li de novo o documento "Educação – um tesouro a descobrir, Relatório para a Unesco da Comissão Internacional para a Educação para o século XXI", liderado por Jacques Delors, em 1996, sobre os quatro grandes pilares do Saber que devem ser tidos em conta em qualquer Projecto Educativo ou pelo menos em quase todas as diversas filosofias educativas.

A atualidade e pertinência de cada uma das prioridades, recentram qualquer um que ande um pouco esquecido do que anda a fazer neste mundo da educação. Transcrevo aqui alguns pontos os quais adaptei um pouco, mas não no essencial.

  1. Aprender a conhecer, para adquirir instrumentos de compreensão;
  2. Aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente;
  3. Aprender a viver juntos, para conseguir cooperar com os outros em todas as actividades humanas;
  4. Aprender a ser, que integra os anteriores de forma holística.

O primeiro, aprender a conhecer, ou "aprender a aprender", conforme na altura, em 1998, era mais facilmente dito, serve não só para aumentar os saberes, mas principalmente para aprender a compreender o mundo que nos rodeia, naquilo em que nos é mais necessário para podermos viver com dignidade, desenvolvendo as nossas capacidades profissionais e de comunicação.

A grande finalidade é mesmo o prazer de aprender, de compreender, facilitando a curiosidade intelectual, o sentido crítico e a aquisição de autonomia na capacidade de discernir.

O segundo, aprender a fazer, tem por objectivo aprender a pôr em prática os conhecimentos e como adaptar a educação ao trabalho futuro. A qualificação técnica é cada vez mais considerada quando em conjunto com as qualificações pessoais, as aptidões pessoais para o trabalho em equipa, o espírito de iniciativa e a capacidade de correr riscos.

O mais relevante deste aprender a fazer é o compromisso de cada um com o seu trabalho, ao ponto de poder ser considerado agente de mudança.

O terceiro, aprender a viver juntos, é talvez o mais desafiante para os educadores, pois atua no campo das atitudes e valores. Visa a compreensão do outro através da sua descoberta em primeira instância. A percepção da interdependência, da necessidade de gerir e resolver conflitos, o respeito pelos valores do outro, de compreensão mútua e de combate ao preconceito e às rivalidades.

O ponto essencial aqui é a educação para a paz. A paz em pequena escala, consigo próprio, em casa, na escola, nos círculos de amigos, no trabalho, até à visão macro de paz. Quem aprende a fazer a paz, investe nela todos os dias, ao longo da vida.

O quarto, aprender a rer, depende directamente dos outros três, incidindo especificamente no desenvolvimento de qualidades inatas ou adquiridas, que contemplem a integralidade do ser: espírito e corpo, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal e espiritualidade.

Pretende-se desenvolver indivíduos autónomos, intelectualmente ativos e independentes, capazes de estabelecer relações estáveis e eficazes entre as pessoas.

Qualquer uma das quatro entradas continuam mais atuais do que nunca, em que o verbo aprender ganha uma dimensão e uma força capaz de interferir com o modo como vimos o conhecimento e a sua pertinência ao longo de toda a vida.

Na realidade, organizações aprendentes são organizações dinâmicas, críticas, imaginativas e inovadoras, na sua grande maioria com relações eficazes e de bem-estar entre os seus colaboradores. Esse bem-estar é a paz ao nível micro. Quem aprende a viver em paz, aprende a ser assertivo, a gerir e resolver conflitos, a aceitar o outro, que é mais do que tolerar.

O saber ser reúne de forma completa todas as dimensões de desenvolvimento do ser, que são sentidas não como uma obrigação, mas como uma necessidade, uma vertente mais sentida por uns, e outras mais sentidas por outros, mas são dimensões do ser humano cujo desenvolvimento é necessário para que este se sinta completo, pleno.

Olhando e pensando cada um na sua realidade escolar, de comunidade educativa e experiência organizacional, como vamos aprender? Qual é o meu grau de implicação nesta causa? Quais podem ser os meus próximos passos?

Boas aprendizagens!


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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