O lobo, as vizeiras e as carrejadas: Fafião torna-se Aldeia de Lobos

Dias 7 e 8 de Julho, uma aldeia da freguesia de Cabril, Montalegre, é a Aldeia de Lobos: um festival único que celebra a vida rural, o pastoreio e o lobo ibérico. E outras tradições.

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Estátua do Lobo de Fafião com barragem de Salamonde em fundo Jose Sergio

O festival comunitário Aldeia de Lobos, que decorre entre 7 e 8 de Julho na aldeia de Fafião, em Montalegre, visa a preservação do lobo ibérico e das tradições seculares como as vezeiras ou as carrejadas, foi hoje anunciado.

A tradição das vezeiras corresponde ao pastorear à vez pela serra, seja com o gado bovino ou com o caprino, e as carrejadas dizem respeito à sementeira do centeio na serra, em locais que se podem localizar a cerca de 1.200 metros de altura e a uma distância que pode atingir os oito a nove quilómetros da aldeia mais próxima.

"São dois pilares que ainda vão subsistindo e que nós temos lutado muito para que se mantenham, uma referente ao gado e outra referente ao centeio e à parte de ainda se poder semear a serra dentro do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG)", afirmou à agência Lusa Júlio Marques, da Associação Vezeira.

Localizada em pleno PNPG, na área do distrito de Vila Real, a aldeia de Fafião, freguesia de Cabril, faz por isso questão de preservar as tradições comunitárias e de celebrar o lobo ibérico.

No comunicado divulgado hoje pela associação refere-se que "na aldeia onde o lobo era levado para morrer, nasceu em 2018 um festival em prol da sua preservação".

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Miradouro de Fafião José Sérgio

Acrescenta que "longe vão os tempos em que esta espécie, hoje em estado ameaçado, era inimiga da população de Fafião".

"Aqui festeja-se o lobo, colocando-o como pilar da importância de uma aldeia", salientou Júlio Marques.

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Cartaz oficial da Aldeia de Lobos dr

O toque das buzinas, cornos usados para chamar o gado, dá o pontapé de saída do festival que se espalha pelas ruas da aldeia e ocupa as cortes onde os animais pernoitam, que se transformam em galerias que vão acolher exposições e instalações artísticas que incluem fotografias sobre o PNPG, bem como o fojo, antiga armadilha para os lobos.

Haverá exposições de escultura, pintura, fotografia e murais de arte urbana, e a música tem também um lugar de destaque neste festival, com grupos locais, concertos e actuações de DJ.

Segundo a organização, "porque a preservação do património de Fafião também merece destaque, durante os dias do festival, os visitantes poderão acompanhar uma exposição biográfica dos santos que compõem o interior da capela da aldeia, a realizar pelo grupo de restauro Dalmática, que se internacionalizou graças ao restauro do retábulo-mor da Catedral do Panamá, visitada e elogiada pelo Papa Francisco e por Marcelo Rebelo de Sousa em 2019".

O programa inclui um workshop sobre técnicas de apicultura, uma aventura por um trilho ancestral, um mercado com produtos produzidos nos campos da aldeia e uma tertúlia onde estarão em destaque os vezeireiros da aldeia.

Em Fafião, ainda se mantém activa a vezeira das vacas, que começam a subir a serra em Maio, onde permanecem até ao final de Setembro, início de Outubro, a cada dia acompanhadas por um criador.

Os animais não são deixados sozinhos também para os proteger dos lobos.

Já a vezeira da rés traduz-se em cada pastor tomar conta das cabras de todos à vez, mas esta tradição conta apenas, actualmente, com dois pastores, um dos quais da Associação Vezeira, que luta pela preservação desta tradição.

Júlio Marques disse que o festival ajuda a movimentar a economia local, nomeadamente os restaurantes e os alojamentos turísticos nesta freguesias e nas vizinhas, algumas pertencentes já a Vieira do Minho e a Terras de Bouro, concelhos do distrito de Braga.

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