Till Lindemann, o arquétipo do rockstar que odeia mulheres

Muitos são os testemunhos de mulheres que foram abusadas por rockstars. Till Lindenmann é o exemplo mais recente. Até quando é que vamos permitir a cultura da violação?

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Megafone P3: Till Lindemann, o arquétipo do rockstar que odeia mulheres EPA/ANTHONY ANEX
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Desde Maio têm surgido várias acusações contra o vocalista da banda Rammstein, Till Lindemann é acusado por diversas mulheres do crime de violação, assédio sexual e distribuição de narcóticos.

Shelby Lynn (@shelbys69666 no Instagram) foi a primeira mulher a relatar nas suas redes sociais a experiência que diz ter tido numa festa e durante o concerto da banda na capital da Lituânia. Após o relato, outras mulheres decidiram partilhar as suas experiências com o vocalista. O cantor negou todas as acusações.

As acusações partem essencialmente de jovens adultas, entre os 18 e os 24 anos. A maioria alega que foram contactadas por Aleena Makeeva, uma antiga groupie da banda, que actualmente é responsável por organizar as festas que existem antes e depois dos concertos e seleccionar as mulheres que terão o “privilégio” de ter a experiência exclusiva do row zero (fila zero, em português), que consiste em assistir ao concerto na fila da frente, e poder frequentar as festas onde poderão conhecer e interagir com os membros e amigos dos mesmos.

Antes de as acusações surgirem, já existiam rumores do que realmente acontecia nestas festas, o abuso de álcool e o envolvimento entre o músico e as suas fãs, tal como o seu comportamento agressivo. Actualmente, Till Lindemann encontra-se formalmente acusado pela prática de crimes sexuais, sendo que as autoridades alemãs já abriram uma investigação oficial.

Não é o primeiro músico a ser acusado de crimes desta natureza, muitas são as histórias ao longo das décadas de mulheres que foram abusadas por rockstars, na maioria dos casos jovens adultas ou adolescentes.

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Manifestação de apoio às vítimas, antes de um concerto da banda em Berna, Suíça EPA/ANTHONY ANEX

A misoginia presente no rock

Elvis Presley tinha 24 anos em 1959. Foi nesse mesmo ano que conheceu Priscilla Beaulieu, com apenas 14 anos. Os dois começaram um relacionamento e acabaram por casar quando Priscilla tinha 17 anos e Elvis 27. É sabido que existia uma acentuada dinâmica de poder na relação, sendo que Elvis controlava todos os aspectos da vida de Priscilla, incluindo a aparência dela.

Em 1972, o guitarrista da banda Led Zeppelin, Jimmy Page, tinha 28 anos. Foi neste ano que conheceu Lori Mattix, que tinha apenas 13 anos. Existem várias fontes que reportam que, quando os dois se conheceram, Lori não tinha interesse no guitarrista, mas, após várias tentativas de coacção, acabaram por se envolver sexualmente e manter uma relação durante três anos.

Axl Rose, vocalista da banda Guns N' Roses, foi acusado de ter violado uma fã com apenas 15 anos num ensaio da banda. Em 1985, a investigação acabou por não avançar por falta de provas. Já em 2021, Marilyn Manson foi acusado de violação, abuso sexual e psicológico e de violência doméstica por várias mulheres, sendo a actriz Evan Rachel Wood uma delas.

O documentário The Phoenix Rising, realizado por Evan Rachel Wood, dá-nos uma visão detalhada e cronológica dos acontecimentos, de acordo com o seu ponto de vista. Marilyn Manson conheceu Evan quando esta tinha apenas 18 anos e o músico 36. Já em Fevereiro deste ano, o músico foi acusado de ter violado uma fã de 16 anos em 1995, no autocarro da banda.

Till Lindemann é mais um artista acusado de utilizar o seu poder e o seu status para aliciar e a manipular as suas fãs. O comportamento abusivo, predatório destes homens que nunca foram tratados como criminosos, e puderam continuar a sua vida, a sua carreira como membros respeitados da comunidade, requer a nossa atenção máxima, para que se possa prevenir novos casos no futuro. Quantos destes artistas foram condenados? Quantos perderam a sua carreira como consequência das suas escolhas?

No entanto, se reflectirmos sobre a forma como a sociedade decide tratar a vítima, o caso já muda de figura. Quantas destas mulheres foram descredibilizadas, perseguidas, receberam o epíteto de “gold diggers”, sofrendo sequelas para o resto da vida e sendo punidas por terem tido a coragem de contar a verdade. Mas este sistema que protege o agressor e descredibiliza as vítimas não é exclusivo da música, é o reflexo de uma sociedade patriarcal.

A poucos dias do concerto em Portugal (actuam no Estádio da Luz, em Lisboa, a 26 de Junho) eu pergunto-me: como é que a organização ainda não cancelou o concerto? Até quando é que vamos permitir esta cultura da violação?

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