Presidente peruana diz que não irá haver eleições antecipadas

A marcação de novas eleições era uma das principais exigências dos milhares de manifestantes que nos últimos meses organizaram protestos em todo o país.

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Boluarte tem sido altamente contestada desde que chegou ao poder, em Dezembro EPA/Paolo Aguilar
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A Presidente interina do Peru, Dina Boluarte, garantiu que o país não terá eleições antecipadas e que irá cumprir o mandato até 2026, recuando em relação à promessa feita pouco depois de chegar ao poder.

A marcação de eleições antecipadas no Peru é um assunto “fechado”, afirmou Boluarte na quinta-feira após uma sessão do Conselho de Ministros. “Vamos continuar a trabalhar de maneira responsável com respeito ao Estado de direito, à democracia e à Constituição até Julho de 2026”, acrescentou Boluarte, citada pela imprensa local.

Trata-se de um recuo inesperado por parte da Presidente interina que ascendeu ao poder em Dezembro do ano passado, na sequência do afastamento do então chefe de Estado, Pedro Castillo.

A destituição de Castillo – que foi desencadeada pela decisão do Presidente em dissolver unilateralmente a Assembleia Nacional – deu origem a uma onda de protestos que durou vários meses. A repressão das forças de segurança foi responsável por dezenas de mortos e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos chegou a manifestar preocupação com o uso de força excessiva pelas autoridades.

Uma das principais reivindicações dos manifestantes é a marcação de eleições antecipadas tanto para a presidência como para a Assembleia Nacional. Logo nos primeiros dias após tomar posse, Boluarte anunciou que pretendia chegar a acordo com os deputados para marcar eleições para Abril de 2024, uma data que não agradava à generalidade dos manifestantes que queriam ir às urnas o mais rapidamente possível.

Uma sondagem do Instituto de Estudos Peruanos, citada pela BBC, mostrava no início do ano que mais de 75% da população quer eleições o mais rapidamente possível.

Nos meses que se seguiram, todas as tentativas para que a Assembleia aprovasse a antecipação das eleições saíram goradas. A ausência de acordo por parte dos deputados cimentou a percepção geral de que os parlamentares e os líderes partidários temem uma punição generalizada nas urnas e preferem cumprir os seus mandatos até ao fim.

As declarações de Boluarte desta semana são as mais taxativas sobre a impossibilidade de marcação de novas eleições e podem vir a reacender os ânimos da população.

O grande teste poderá acontecer já esta segunda-feira, para quando está marcada uma grande manifestação organizada por várias associações sociais e civis da região Sul do Peru, que pretendem marchar sobre Lima.

A Polícia Nacional do Peru, acusada por várias organizações de defesa dos direitos humanos de usar força excessiva contra os manifestantes nos últimos meses, revelou que pretende mobilizar oito mil agentes em Lima para o dia da marcha.

O director-geral da polícia, Víctor Zanabria, disse que a expectativa das forças de segurança é de que haja um número reduzido de manifestantes na marcha de dia 19, “mas com um elevado nível de violência”.

Desde Dezembro, quando começaram os protestos pela destituição de Boluarte e a marcação de eleições antecipadas, pelo menos 58 pessoas morreram, de acordo com a provedoria do povo peruano.

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