Polícia peruana acusada de usar força letal contra manifestantes

Investigação preliminar da Amnistia Internacional identificou pelo menos 12 casos de pessoas mortas por armas de fogo durante protestos nos últimos dois meses.

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Polícia peruana tem sido acusada de força excessiva para conter manifestações EPA/Stringer

As autoridades peruanas são acusadas pela Amnistia Internacional de terem usado “forças excessiva e letal” contra os manifestantes antigovernamentais que desde Dezembro têm organizado acções de protesto. Segundo os dados preliminares da investigação da organização não governamental (ONG), apresentados esta quinta-feira, a repressão policial visou sobretudo as minorias indígenas e trabalhadores rurais.

Foram identificadas 12 mortes de manifestantes por causa de armas de fogo e 46 casos de possíveis violações de direitos humanos a partir dos testemunhos recolhidos pela Amnistia nas regiões de Ayacucho, Andahuaylas, Chincheros e Lima, entre 29 de Janeiro e 11 de Fevereiro.

Pelo menos 60 pessoas morreram por causa dos protestos que desde o início de Dezembro deixaram o Peru numa situação caótica. A crise foi desencadeada pela destituição e detenção do ex-Presidente Pedro Castillo, a 7 de Dezembro, depois de uma tentativa falhada de dissolução do Parlamento. Desde então, os apoiantes de Castillo, sobretudo nas regiões mais desfavorecidas do Sul do Peru, têm exigido a demissão da Presidente interina, Dina Boluarte, e a marcação de eleições gerais no curto prazo.

“As autoridades peruanas permitiram que o uso de força excessiva e letal fosse a única resposta do Governo perante um clamor de milhares de comunidades que exigem dignidade e um sistema político que lhes garanta os seus direitos humanos”, afirmou a directora para as Américas da Amnistia Internacional, Erika Guevara-Rosas, durante uma conferência de imprensa esta quinta-feira em Lima.

As 12 mortes de manifestantes analisadas pela organização têm em comum o facto de que as vítimas foram atingidas no peito, na barriga ou na cabeça. Em muitas ocasiões, foram mortas pessoas que nem sequer participavam nas acções de protesto, como aconteceu com Jhonathan Arias, de 18 anos, que foi baleado, quando estava no cimo de uma colina na cidade de Andahuaylas a filmar o funeral de um manifestante morto no dia anterior.

As mortes atribuídas à força excessiva das autoridades aconteceram sobretudo em regiões com populações indígenas consideráveis, o que leva a Amnistia Internacional a identificar um “preconceito racial” na actuação da polícia. “O racismo sistémico enraizado na sociedade peruana e nas suas autoridades há décadas foi a força motriz por trás da violência que puniu as comunidades que ergueram as suas vozes”, afirmou Guevara-Rosas.

A Amnistia Internacional deixou vários apelos e recomendações ao Governo e às forças de segurança peruanas para que a violência diminua. A organização quer que a polícia deixe de recorrer a armamento letal para conter manifestações, que o Ministério Público se empenhe nas investigações aos casos de mortes e abusos cometidos durante os últimos dois meses e exige o fim da “estigmatização” dos manifestantes, frequentemente designados como “terroristas” pelo Estado.

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