Cartas ao director

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Notícias para lá da “espuma dos dias”

Quantas vezes leio um jornal e dele nada aproveito. São mais as notícias que na verdade não são notícias, mas a mera chamada “espuma dos dias”. O PÚBLICO de dia 7 de Junho trouxe-nos um artigo oportuno do presidente da Associação Sindical dos Juízes (ASJ) e uma entrevista a um ex-diretor do Polícia Judiciária (PJ).

O artigo do presidente da ASJ informa-nos que há uma aplicação digital de denúncias à polícia, vem lembrar-nos que não temos o direito de denunciar por tudo e por nada ou até mentir sobre o comportamento de alguém, especialmente quando não somos atingidos por atos de outros que ponham em causa os nossos direitos. Isto é, esta aplicação pode transformar-nos numa sociedade de bufos. Parece uma questão sem interesse, mas não é. Quantos “bem-intencionados” põem em causa a vida de outros sem nada que o justifique?

O ex-diretor da PJ vem pôr em causa a estrutura judicial que me parece interpretar bem. Há justiça igual para todos, desde que não se trate de grandes interesses, e a corrupção é algo que é transversal aos partidos dominantes da estrutura política: PS e PSD.

Mário Pires Miguel, Reboleira

Para os amigos, tudo; para os inimigos nada

O antigo director nacional da PJ, numa entrevista ao PÚBLICO e à Renascença, aponta as perversões que estão na origem da corrupção. Na verdade, “há uma colonização do aparelho de Estado por parte de uma classe que pretende utilizar esse mesmo aparelho em seu proveito.” E acrescenta, há uma lógica dos partidos, que se evidencia claramente nas autarquias, mas também nos governos, que se traduz no seguinte: “Para os amigos, tudo; para os inimigos, nada; par os outros, cumpra-se a lei”.

A entrevista merece reflexão de todos nós e não se percebe por que razão o Presidente da República não força as reformas que dignifiquem a democracia. Se as eleições fossem feitas por voto nominal, os aparelhos partidários já não punham candidatos de conveniência nas listas que apresentam.

Estamos a chegar aos 50 anos do 25 de Abril. Ainda espero que a Associação 25 de Abril, os movimentos cívicos e intelectuais democratas intervenham para obrigar a corrigir esta perversão da democracia que, além de promover a corrupção, tem duas consequências: um chauvinismo partidário (para defesa de interesses) que roça o fascismo e uma crescente indiferença pelo sistema democrático.

João Magalhães, Marco de Canaveses

Baforada legislativa à vista

A concepção da lei como instrumento de protecção das pessoas delas próprias é típica de Estados dominados por concepções colectivistas que, mais cedo ou mais tarde, redundam em ditaduras. Assim, salvo no caso dos incapazes -menores e outras pessoas diminuídas na sua capacidade de decisão ou de acção, a lei deve proteger as pessoas somente umas das outras.

Por isso, quando se discute se o consumo de substâncias classificadas como ilícitas há-de ou não ser despenalizado, é ridículo que se inventem obstáculos à compra de tabaco, o que irá potenciar meios ínvios e ilegais para a sua aquisição e criar uma tensão social que não existe.

Em suma, os não-fumadores devem ser legalmente protegidos dos malefícios do tabaco consumido pelos fumadores mas, por mais cínico ou pouco solidário que isto pareça, estes devem ter a liberdade de apanhar o cancro se quiserem, quando quiserem e como quiserem.

Sérgio Tovar, Lourinhã

Respeito pelos eleitores

Há uns dias, o chefe do Governo pediu respeito pela maioria, quando a mesma já soma demasiadas situações pouco ou nada esclarecedoras, que revelam pouco ou nenhum respeito para com os cidadãos que o elegeram. A falta de respeito não é dos cidadãos para com o Governo, mas deste último para com os cidadãos.

A falta de seriedade espelhada nas declarações dos envolvidos no caso SIS evidencia que alguém poderá não estar a dizer a verdade, o que adensa ainda mais as dúvidas sobre o que na realidade se terá passado, confundindo a opinião pública, ficando apenas a certeza de que haverá muito por esclarecer.

O facto de existir uma maioria não é argumento para o chefe do Governo pedir respeito pela mesma, uma vez que quando questionado sobre determinadas questões, procura contornar as mesmas, numa clara estratégia de desvio das atenções, e na qual subsiste a ideia de que, desviando as atenções dos casos polémicos no governo, é possível omitir a verdade dos factos, sendo esta uma forma dissimulada de faltar ao respeito aos eleitores.

Américo Lourenço, Sines

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