Daniel Adrião: “Estamos a perder democratas, não é só votantes do PS”

Ex-candidato a secretário-geral do PS apela a que António Costa retire do Governo os putativos sucessores à liderança do partido.

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Daniel Adrião candidatou-se à liderança do PS em 2016, 2018 e 2021 Rui Gaudencio
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O PS tem de ser ouvido e o primeiro-ministro tem de reestruturar o Governo. É assim que o socialista Daniel Adrião, membro da comissão política nacional do PS que se candidatou contra António Costa ao cargo de secretário-geral do partido, resume aquele que deve ser o desfecho da sucessão de polémicas que têm surgido no executivo e que, alerta, estão a "degradar a democracia".

Em conversa com o PÚBLICO, o militante do PS critica a “situação muitíssimo anómala”, “inconcebível” e "nunca antes vista" que se desenrolou nos últimos dias no ministério das Infra-estruturas devido à TAP, sobretudo, por causa dos “episódios rocambolescos que envolveram agressões”.

Mas censura, de forma mais geral, o acumular de "casos e casinhos" no Governo que, diz, têm levado a uma imagem de "desnorte e desorientação" do executivo e de falta de "acção de comando" por parte do primeiro-ministro, pondo "em causa o regular funcionamento das instituições" e descredibilizando a "democracia".

Embora se mostre preocupado com o facto de a maioria absoluta já não ter "o respaldo da sociedade", como apontam as mais recentes sondagens — a última sondagem da Aximage deu um empate entre PS e PSD — diz que o problema é que "estamos a perder democratas, não é só votantes do PS".

O caso TAP desvendou "níveis de intimidade, ligeireza e informalidade que não são normais", acusa Adrião, sublinhando que "tem de haver institucionalismo" e "transparência", sob pena de se questionar a "autoridade moral" da democracia.

Ao contrário das figuras máximas do PS e do presidente da Assembleia da República, que têm respondido às ameaças do Presidente da República de dissolução do Parlamento com a defesa da estabilidade das instituições democráticas, Daniel Adrião considera que a "estabilidade política não é um valor absoluto" e que foi o primeiro-ministro quem "deu razões ao Presidente para ir alimentando a possibilidade de dissolução". "É o próprio Governo que se está a autodissolver", sustenta, desvalorizando também as ofensivas dos partidos da oposição.

Segundo o ex-candidato a secretário-geral do PS, a responsabilidade deste estado de coisas recai particularmente sobre o primeiro-ministro devido aos “erros de casting” dos governantes, uma vez que António Costa transferiu "para o Governo a luta pela sucessão” à liderança do partido. “Quando se alimenta este clima de luta, está-se a promover a conflitualidade”, avisa.

Defende, por isso, que se retirem os putativos sucessores do Governo, substituindo-os por pessoas com um "perfil profissional" e "fora do circuito fechado da política" e que se crie um cargo de vice-primeiro-ministro, encarregue da "coordenação ministerial".

O socialista entende ainda que “o partido tem de ser ouvido”, algo que, diz, não acontece desde Janeiro, quando se realizou a última reunião da comissão política nacional, embora estatutariamente deva ocorrer de dois em dois meses. “Parece que há medo de ouvir o partido”, acusa.

Ainda que a comissão tenha de ser convocada pelo secretário-geral, os estatutos permitem que um quarto dos membros solicitem uma reunião extraordinária e Daniel Adrião não exclui essa hipótese se António Costa não convocar a reunião em breve.

Para o líder da corrente opositora a António Costa no PS, "a degradação já foi longe de mais" e "não vai ser fácil inverter, mas compete ao primeiro-ministro dar a volta à situação" e Daniel Adrião considera que ainda "há margem" para se ensaiar uma “tentativa última de recuperar a credibilidade”.

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