Uma história bem maluca

Reina grande confusão no palácio de D. Reinaldo Pimpão. Esperava-se que o rei resolvesse a barafunda, mas ainda a agravou.

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“Estava na hora de jantar e a história sem terminar, mas chegou D. Raimunda Pimpinha! Deixem-se de notas de rodapés e fujam a sete pés” Sebastião Peixoto
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“D. Reinaldo Pimpão ressonava, ressonava, parecia um foguetão, uma máquina de abrir o chão, as molas de um colchão, um tornado, um furacão, uma rima sem intenção” Sebastião Peixoto
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“O narrador alinhou uma ideia e, depois, agarrou-se à candeia” Sebastião Peixoto
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O narrador não se fez rogado e, ainda que algo amuado, lá lhe fez a vontade para esta história ter um pingo de verdade. Sebastião Peixoto
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Capa do livro Chegou D. Reinaldo Pimpão e Acabou a Confusão, editado pela Paleta de Letras

“Estava na hora de jantar e a história sem terminar. A azáfama era geral, o cozinheiro foi para o estrangeiro, a costureira foi ao festival e o cavaleiro adormeceu na cavalariça, perdeu o chapéu de cortiça, tinha uma peruca postiça, um bigode farfalhudo e esquecia quase tudo”, eis o tom, o ritmo e a substância de uma história que não chega a ser bem uma história, mas que é uma grande maluquice.

Diz ao PÚBLICO o autor, Carlos Nuno Granja, “é a história de uma grande confusão, em que se espera que o rei a resolva, mas afinal ele ajuda a provocar a barafunda”.

O também professor, editor e livreiro de Ovar explica que quis fazer um “exercício metatextual, para confundir e incluir o leitor”. Na narrativa, dá-se um conflito entre autor, narrador e o próprio rei. “Estava na hora de jantar e a história sem terminar. O narrador ficou em apuros com o Sancho Pança a entrar na dança, o Pinóquio a trepar os muros e o lobo só e faminto à espera da vizinhança. Vitória, vitória, ainda não acabou esta história. D. Reinaldo Pimpão acordou com alguma lentidão, mas já avisou: — Deixemo-nos de ladainha, que esta história é minha!”

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“Estava na hora de jantar e a história sem terminar” Sebastião Peixoto

O livro foi lançado no domingo, dia 23 de Abril, no Clic — Festa das Palavras, em Coimbra, integrado nas comemorações do centenário da biblioteca municipal da cidade. Uma iniciativa que contou com a organização de Pedro Seromenho, da Paleta de Letras, que editou este livro. “Gosto muito do Carlos [Nuno] Granja e do Sebastião [Peixoto]. Acho que fazem uma dupla fenomenal. O livro é algo ‘diferente’ e cacofónico. Por isso lhe achei tanta piada”, diz o igualmente escritor e ilustrador de vários livros para a infância e que dirige o encontro anual de ilustração Braga em Risco.

No lançamento, no Ler ao Cubo, do Parque Verde, Carlos Nuno Granja estava “um pouco apreensivo sobre a aceitação do livro no terreno”, recorda. No entanto, conclui: “Correu muito bem.”

Também nos dá conta de ter explorado a obra com uma turma de 1.º ciclo do ensino básico e da resposta de um aluno: “Não percebi nada da história, mas ao mesmo tempo é como se tivesse percebido.” O mesmo terá acontecido com o ilustrador, que contou com a ajuda de Pedro Seromenho para encontrar o caminho, como revelou o editor no lançamento.

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“O narrador ficou irritado, porque achou que D. Reinaldo Pimpão estava a ser um grande intrometido. Às histórias dos outros não pode ele dar sentido. Começou a barafustar, ameaçou um boicote e não queria continuar” Sebastião Peixoto

Carlos Nuno Granja nasceu em Ovar em 1975 é professor do 1.° ciclo de escolaridade há 23 anos e professor bibliotecário há três. Tem pós-graduação em Leitura, Aprendizagem e Integração das Bibliotecas nas Actividades Educativas na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto e está a frequentar o doutoramento em Estudos Literários na Universidade de Aveiro, onde também está a redigir dissertação para o Mestrado em Educação e Formação — ramo de Administração e Políticas Educativas. É o dinamizador do Festival Literário de Ovar e tem um programa de rádio sobre literatura na AV FM há seis anos: A Ler É Que a Gente se Ouve. Dirige uma editora e uma livraria, ambas em Ovar e com o nome Doninha Ternurenta. “A paixão pelos livros, sempre incompleta, é uma forma de acreditar no mundo e nas pessoas, e de duvidar de todas as certezas”, afirma.

Sebastião Peixoto é natural de Braga e licenciou-se em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes do Porto. Trabalha como ilustrador freelancer para várias editoras nacionais e estrangeiras. Em 2014, teve uma Menção Honrosa no 7.º Encontro Internacional de Ilustração de São João da Madeira. Em 2016, foi seleccionado para o Catálogo Ibero-Americano de Ilustração e, em 2017, ganhou um Gold Award, An Illustrated Book of Plants: To sprout, bloom, and fruit, Thesif Award/Seoul Illustration Fair. Em 2021, foi distinguido com um Merit Award pela 3×3, The Magazine of Contemporary Illustration, e venceu o Grande Prémio da 3.ª Bienal de Ilustração de Guimarães. Personagens esguias e com bochechas pintadas são uma das suas imagens de marca.

O resultado da junção dos dois autores (de texto e de imagem) é um livro divertido, de grande dinamismo e que obriga o leitor a pensar sobre a criação das histórias e até a sentir que participa nelas. “É uma história hilariante e delirante”, diz Carlos Nuno Granja. “Quantas histórias há numa história?”, pergunta. As que se quiser.

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