Quem foi Tiradentes, homenageado a 21 de Abril e herói para os militares no Brasil

Data é feriado no Brasil desde 1890, declarado pouco depois da Proclamação da República, a 15 de Novembro de 1889.

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Litografia Tiradentes, de Décio Villares (1851-1931) DR/Museu Histórico Nacional

O dia 21 de Abril, Dia de Tiradentes, tornou-se feriado nacional no Brasil em 1890, poucos meses após a Proclamação da República (1889). A data fazia parte de uma lista de dias comemorativos instituídos pelo Governo provisório, chefiado pelo marechal Deodoro da Fonseca.

Na época, após a derrubada da monarquia, os líderes republicanos buscavam a figura de um herói nacional, capaz de atrair o apoio da população à nova forma de governo. O escolhido foi Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

Nascido em Minas Gerais, em 1746, Tiradentes foi tropeiro, vendedor ambulante, dentista (daí o apelido) e militar, chegando ao posto de alferes (subtenente) no Regimento de Cavalaria Regular.

Na tropa, entrou em contacto com os ideais iluministas e da Revolução Americana, os quais inspiraram a Inconfidência Mineira, movimento que pregava o rompimento com Portugal e no qual Tiradentes tomou parte.

A revolta teve como estopim a cobrança de impostos da coroa portuguesa, mas foi delatada por Joaquim Silvério dos Reis e os participantes acabaram presos.

Dos condenados à morte, Tiradentes foi o único que teve a pena executada e acabou enforcado a 21 de Abril de 1792. O seu corpo foi esquartejado e os membros espalhados pelo caminho do Rio de Janeiro a Minas Gerais.

Ícone

A trágica história do alferes tornou-o popular durante o Império (1822-1889), quando sua imagem passou a ser associada à de um mártir cristão. A sua figura foi exaltada por Bernardo Guimarães e Castro Alves (“Ei-lo, o gigante da praça,/ O Cristo da multidão!/ É Tiradentes quem passa…/ Deixem passar o Titão”).

Até mesmo a obra História da Conjuração Mineira (1873), de Joaquim Norberto, que tinha o intuito de desmoralizá-lo, acabou por reforçar o mito. O retrato que o autor fez de um Tiradentes caminhando para a morte, rodeado de misticismo, caiu no gosto popular.

Foi, no entanto, com as artes plásticas que a figura de Tiradentes entrou para o imaginário nacional como uma espécie de Jesus Cristo brasileiro. Contribuíram para isso os retratos de Décio Villares, de 1890, e Pedro Américo, com seu icónico Tiradentes Esquartejado, de 1893.

Apesar de ter sido pintado com barba e cabelos longos, o mais provável é que tenha sido enforcado com a cabeça e o rosto raspados.

Militares

A construção do herói Tiradentes não ficou restrita ao início da República. Ao longo do século XX, os militares novamente o invocariam em momentos de mudança de regime.

Em 1946, logo após a Era Vargas (1930-1945), o Presidente Eurico Gaspar Dutra, oficial do Exército, decretou Tiradentes patrono das polícias civis e militares. Já em 1965, no Governo Castelo Branco, a ditadura militar o alçou a patrono cívico da nação brasileira.


Exclusivo PÚBLICO/Folha de S.Paulo
Nota: o PÚBLICO respeitou a composição do texto original, com excepção de algumas palavras ou expressões não usadas em português de Portugal.

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