Adolescente norte-americano morre depois de tomar medicação para um desafio do TikTok

Além de manter os medicamentos longe do alcance das crianças, é importante também monitorizar o comportamento online dos mais novos.

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Os pais devem estar atentos ao comportamento dos filhos e à utilização que fazem da Internet Solen Feyissa/Unsplash

Jacob Stevens tinha 13 anos e morreu na sequência de ter aceitado um desafio do TikTok com Benadryl, um medicamento usado para alergias. O “Benadryl challenge”, como era chamado, incitava os utilizadores a tomar a substância até ficarem com alucinações. Foi fatal para o menino norte-americano e é mais um exemplo dos perigos da Internet.

Aconteceu em Ohio, EUA, e serviu para a Food and Drug Administration (FDA, na sigla original, a agência reguladora do medicamento) emitir um comunicado em que alerta para os perigos do consumo excessivo daquele medicamento, que pode provocar “problemas de coração, convulsões, coma ou até morte”, cita o jornal britânico Independent.

Além disso, lembra ainda a importância não só de manter os medicamentos longe do alcance das crianças, mas também de monitorizar o comportamento online dos mais novos. O que se passou também levou a que o TikTok bloqueasse a pesquisa de “Benadryl” e “benadryl challenge”, como comprovou o PÚBLICO numa rápida procura na aplicação de vídeo.

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Para Jacob Stevens foi fatal. Seis dias depois de aceitar o desafio do TikTok, morreu no hospital. De acordo com o pai da criança, Justin Stevens, em entrevista ao canal de televisão ABC, Jacob terá aceitado o desafio e, enquanto os amigos filmavam, começou a ter convulsões — em vez das alucinações esperadas. “Foi de mais para o corpo dele”, contou Justin Stevens.

A criança foi de imediato levada para o hospital, onde os médicos disseram aos seus pais que Jacob não voltaria a acordar. “Disseram-nos que o podíamos manter sob ventilação e hospitalizado, mas que nunca voltaria a abrir os olhos, a respirar, a sorrir, a andar ou a falar”, prosseguiu o pai enlutado.

Uma tia do menino criou uma página de crowdfunding, para angariar quatro mil dólares para ajudar a família com as despesas do funeral, celebrado nesta quarta-feira. A angariação de fundos rapidamente ultrapassou o objectivo, com oito mil dólares amealhados. “Nenhuma mãe devia ter de se despedir do seu bebé”, pode ler-se na descrição.

No obituário entretanto publicado, Jacob é descrito como “divertido e amoroso”, uma criança que gostava de “ouvir música, jogar futebol e conviver com os amigos”. Na mesma página, especifica-se que o adolescente morreu a 12 de Abril. A 17 de Setembro celebraria o seu 14.º aniversário.

Vítimas da Internet

A história de Jacob Stevens não é um caso isolado nas tragédias que vitimam crianças e adolescentes em resultado de desafios lançados na Internet. Em Agosto do ano passado, o menino inglês Archie Battersbee morreu, depois de vários meses em coma com uma lesão cerebral. A 7 de Abril, a mãe tinha-o encontrado inconsciente em casa, na sequência de um desafio no qual os participantes eram incentivados a asfixiar-se até perderem a consciência.

Em Itália, o TikTok esteve bloqueado temporariamente, depois de uma menina de 10 anos ter morrido por asfixia, em resultado do mesmo desafio, em Palermo, na Sicília. De lembrar que a aplicação está a ser alvo de dois processos judiciais em Portugal que pedem a sua responsabilização e condenação por práticas ilegais.

Em 2017, outro desafio da Internet gerou uma onda de pânico entre os pais, o jogo suicidário Baleia Azul, de origem russa. Era composto por 50 desafios diários, enviados por “um curador”, que pedia provas aos jogadores de como tinham completado as tarefas propostas. Em regra, os jogadores eram adolescentes com problemas de depressão ou isolamento.

Uma das premissas era jogar até ao fim e grande parte dos desafios incluía automutilação. A tarefa final: “Tira a tua própria vida.” O nome Baleia Azul vinha de uma das etapas, em que era pedido ao jogador que se mutilasse e desenhasse uma baleia azul no braço, com base na crença de que as baleias azuis dão à costa voluntariamente com o intuito de perderem a vida.

Em Portugal, uma adolescente de 15 anos esteve internada no Porto com ferimentos provocados pelo desafio da Baleia Azul. Não foi um caso isolado. Em Albufeira, uma jovem atirou-se de um viaduto sobre a linha férrea e ficou ferida.

Sinais a estar alerta

No contexto do desafio da Baleia Azul, a psicóloga Ivone Patrão, especialista em dependência, alertava, em entrevista ao PÚBLICO, para alguns dos sinais a que pais e professores devem estar atentos. Tipicamente são jovens que “ficam mais inquietos e mais agressivos”. Por isso, aconselha: “Os pais podem ver o historial do computador [ou das redes sociais]; fazer uma conversa pela positiva, de interesse e não de crítica.”

Contudo, esse comportamento dos pais deve ser algo a começar desde que são crianças, para que se naturalize o interesse pela vida online dos filhos. “Na adolescência cheira-lhes a intrusão. Aos 16 anos não se lhes pode pedir a password do email.” É preciso não esquecer que “a tecnologia é para o resto da vida” e, como tal, o saber estar na Internet também necessita de ser ensinado.

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