FMI acredita que era dos juros baixos ainda não chegou ao fim

Depois de vencida a inflação, a taxa de juro natural – que baixou durante décadas e que agora está a subir – pode regressar para níveis próximos dos registados antes da pandemia.

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Os bancos centrais liderados por Christine Lagarde e Jerome Powell têm vindo a subir os juros desde o ano passado Reuters/EUROPEAN CENTRAL BANK

O anúncio do fim da era das taxas de juro baixas pode ser precipitado. Assim que os bancos centrais conseguirem dominar a taxa de inflação, a tendência de longo prazo de redução da taxa de juro natural vai estar de volta nos países avançados e este indicador deverá voltar para próximo dos níveis historicamente baixos em que se encontrava antes da pandemia.

A previsão é feita pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) num relatório publicado esta segunda-feira e que tenta responder a uma das questões mais importantes para a definição das economias monetária e orçamental do futuro: o que vai acontecer à taxa de juro natural?

A taxa de juro natural é uma taxa de referência que não é directamente calculável e que não é definida por bancos centrais ou por governos. Resulta, sim, da combinação de fenómenos reais como os progressos tecnológicos, as tendências demográficas ou o nível de aversão ao risco da sociedade. É o nível de taxas de juro que mantém a economia no seu potencial e com uma inflação estável, não estimulando nem contraindo a actividade. Os bancos centrais, consoante o seu objectivo de momento para a inflação, colocam as suas taxas de juro ou acima ou abaixo daquilo que calculam ser a taxa de juro natural. Neste momento, quase todos, incluindo o BCE, estão, para fazer recuar a inflação, a tentar colocar as suas taxas de juro de referência acima da taxa de juro natural.

A questão que se coloca é se esta taxa, depois de várias décadas em que diminuiu, tendo caído para valores mínimos históricos, não se deslocou agora para níveis mais altos, levando a que os bancos centrais, mesmo depois de vencidas as pressões inflacionistas, definam taxas de juro de referência bem mais elevadas do que as que tinham até ao início do ano passado.

Isso teria consequências para bancos centrais (que deixariam de estar tão constrangidos pelo limite zero de taxas de juro que tanto afectou, por exemplo, o BCE na última década), mas também para os Estados, empresas e famílias, que teriam de voltar a viver num mundo em que os custos de financiamento não estão próximo de zero.

O FMI, no entanto, está convencido de que isto não irá acontecer. E alerta que, nos países avançados, o problema pode mesmo ser um regresso aos níveis próximos de zero, que, no passado, retiraram margem de manobra aos bancos centrais para actuarem contra o risco de deflação.

“As forças de longo prazo que influenciam a taxa de juro natural sugerem que esta irá eventualmente convergir para os níveis pré-pandemia nas economias avançadas”, afirma o relatório do FMI, defendendo que “as recentes subidas nas taxas de juro reais serão provavelmente temporárias”. “Quando a inflação ficar de novo sob controlo, os bancos centrais das economias avançadas deverão suavizar a sua política monetária e trazer as taxas de juro reais de volta para os níveis pré-pandemia”, prevê-se.

Os responsáveis do Fundo admitem que chegar exactamente aos níveis do passado dependerá de alguns factores. Por exemplo, a manutenção dos défices orçamentais a níveis persistentemente elevados poderia conduzir a uma taxa de juro natural mais elevada nos respectivos países.

No que diz respeito às economias emergentes, o FMI diz que, mesmo nas projecções mais conservadoras, aquilo que irá acontecer, por força das tendências demográficas e de produtividade, é uma convergência das taxas de juro naturais para os níveis mais baixos que se verificam mesmo actualmente nas economias avançadas.

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