Central solar coloca em risco “área ímpar do Baixo Alentejo”, diz a Zero

Segundo a associação ambientalista, o projecto da nova central solar abrange uma área de 750 hectares numa zona de afloramentos rochosos que mereceu candidatura como Sítio da Rede Natura.

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O projecto da nova central solar abrange uma área de 750 hectares numa zona de afloramentos rochosos dos Gabros de Beja, conhecida como a Serra do Paço REUTERS/Jose Manuel Ribeiro

A associação ambientalista Zero contestou esta segunda-feira a construção de uma central solar fotovoltaica em Ferreira do Alentejo (Beja) por considerar que "põe em causa uma das áreas mais ricas do Baixo Alentejo" para a conservação da natureza.

Em comunicado de imprensa, a Zero salienta que a central, cuja consulta pública relativa ao Estudo de Impacte Ambiental (EIA) termina esta segunda-feira, está projectada para "uma área ímpar do Baixo Alentejo" ao nível da conservação da natureza.

"Esta área crítica para a conservação deveria ser protegida, contribuindo para o cumprimento da meta de protecção de 30% das áreas terrestres da União Europeia até 2030, definida na Estratégia para a Biodiversidade", argumentou.

Segundo a associação ambientalista, o projecto da nova central solar abrange uma área de 750 hectares numa zona de afloramentos rochosos dos Gabros de Beja, conhecida como a Serra do Paço, no limite com o concelho vizinho de Beja.

O projecto da nova central solar é promovido por duas empresas, a IncognitWorld Unipessoal e a Qsun Portugal 4 Unipessoal, que pretendem investir 156,4 milhões de euros na construção desta central solar fotovoltaica.

De acordo com o resumo não técnico do EIA, a central terá uma potência nominal máxima de 187 megavolt-ampere (MVA) e quase 234 quilowatts de potência de pico (kWp) instalados, permitindo produzir, em média, 451 gigawatts hora por ano (GWh/ano).

No comunicado, a Zero vincou que as características geológicas desta área "determinaram a notável heterogeneidade das suas comunidades biológicas", com destaque para a flora e também enquanto habitat que constitui para mamíferos e aves.

"A riqueza desta área em termos de biodiversidade levou a que fosse considerada para a classificação como Sítio da Rede Natura 2000, ao abrigo da Directiva Habitats (Diretiva 92/43/CEE)", realçou, assinalando, porém, que o processo não foi concluído.

Valores únicos e espécies raras

"Só recentemente se começaram a conhecer de forma mais completa os valores botânicos em presença e que hoje se reconhecem como únicos, albergando espécies raras, endémicas, localizadas, ameaçadas ou em perigo de extinção", disse a associação.

A Zero notou que, nos últimos 20 anos, apesar de esta área estar parcialmente fora do perímetro de rega de Alqueva, "tem vindo a pouco e pouco a ser ocupada por olivais e pomares e por uma primeira central solar", instalada recentemente.

Na sua contestação, a associação sustentou que, entre a sua imensa riqueza florística, existem oito núcleos com espécies vulneráveis, criticamente em perigo ou quase ameaçadas que serão "afectadas directamente pela implementação dos painéis, instalação da vedação, caminhos novos e faixa de gestão de combustível".

"Dado o elevado desconhecimento que ainda existe sobre a área e a dinâmica das suas espécies, existe um elevado risco de afectação de valores actualmente não identificados", sublinhou.

Assinalando que a Serra do Paço é uma das zonas mais elevadas da região, com grande exposição visual, os ambientalistas da Zero advertiram que a substituição das áreas naturais "constituirá mais um contributo à crescente artificialização da paisagem".

A associação alega ainda que a área escolhida localiza-se "totalmente fora" das zonas preferenciais de um estudo coordenado pelo Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) para a instalação deste tipo de projectos.

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