Israel culpa Hamas por rockets lançados a partir do Líbano

Mais de 30 projécteis foram disparados contra o Norte de Israel. Netanyahu reúne gabinete de segurança pela primeira vez neste mandato.

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Um banco onde aterrou um dos rockets lançados a partir de território libanês AYAL MARGOLIN/EPA

O Exército de Israel apontou o dedo ao movimento islamista palestiniano Hamas pelo lançamento de mais de três dezenas de rockets do Sul do Líbano contra o Norte de Israel.

Foram disparados pelo menos 34 rockets, segundo o Exército israelita. Destes, 25 foram interceptados pelo sistema Iron Dome, quatro caíram ainda no Líbano e cinco em território israelita.

O ataque é o maior vindo do Líbano desde a guerra entre Israel e o movimento xiita libanês Hezbollah em 2006 – e não houve reivindicação nas horas seguintes. Aconteceu depois de um raide israelita na mesquita de Al-Aqsa, onde fiéis muçulmanos se tinham barricado, depois de apelos de grupos judaicos para o sacrifício de um animal na Páscoa judaica no complexo do Pátio das Mesquitas, que pode ser visitado por pessoas de outras fés, desde que não levem a cabo rituais religiosos não muçulmanos.

A explicação é, para o jornalista do diário israelita Haaretz Anshel Pfeffer, simples: “[Benjamin] Netanyahu não quer uma guerra durante a Páscoa judaica, com o seu Governo em queda nas sondagens. [O líder do Hezbollah, Hassan] Nasrallah não quer uma guerra quando o Hezbollah está sob pressão política no Líbano. Os seus interesses coincidem, por isso vão tentar concordar com uma narrativa para baixar a tensão que culpa os palestinianos pelos rockets”, escreveu no Twitter.

Os ataques ocorreram durante uma altura de férias em que muitas pessoas estavam a passear no Norte do país, a fazer caminhadas ou piqueniques, disse ainda Pfeffer.

A resposta ao ataque iria ser definida após uma reunião do gabinete de segurança, que inclui as chefias das Forças Armadas e os ministros das pastas relacionadas – é a primeira vez que o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, reuniu este organismo desde a tomada de posse deste Governo.

E dez dias depois do seu anunciado afastamento, estará presente o ministro da Defesa, Yoav Galant. Netanyahu anunciou que demitia o ministro depois de este ter avisado para os perigos para a defesa de Israel das propostas do Governo de reforma judicial (golpe judicial para os seus críticos e parte da imprensa), o que levou ainda mais pessoas para as ruas em protesto, uma greve geral inédita, e acabou por ditar (junto com pressão dos EUA) a suspensão da reforma.

Mas Netanyahu nunca enviou uma carta formal de demissão e o assunto ficou suspenso. Esta quinta-feira marcou a altura formal em que se mostra que o ministro permanece no cargo.

O porta-voz das Forças Armadas de Israel (IDF), Daniel Hagari, disse num briefing: “O Hamas está por trás do ataque com rockets do Líbano. O Governo libanês é responsável por qualquer ataque desde o seu território. Estamos a verificar se houve envolvimento iraniano”, cita Barak Ravid, correspondente em Telavive do site Axios.

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Eli Cohen, avisou os responsáveis para “não testarem Israel”. Mas é precisamente para essa hipótese que vários analistas militares têm vindo a avisar: que dada a situação interna de divisão da sociedade, com enormes manifestações contra as propostas do Governo, e os protestos de pilotos na reserva e outros militares, a oportunidade e potencial para um “teste” seria grande.

Num artigo no Financial Times, o antigo embaixador dos Estados Unidos em Israel, Martin Indyk, alertava para os riscos da tensão interna e de uma tempestade perfeita na região: Israel não tem conseguido tirar vantagens dos chamados acordos de Abrãao – não houve nenhum convite por exemplo dos Emirados Árabes Unidos, que protestam pelos raides do exército no Norte da Cisjordânia ou pelas acções na mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém – e a Arábia Saudita, que era o país que Netanyahu esperava que se seguisse, está a reconciliar-se com o rival regional Irão – o arqui-inimigo de Israel que está cada vez mais perto de ter urânio enriquecido para poder, quando quiser, fabricar uma bomba atómica.

E enquanto isto acontece, “os decisores políticos estão preocupados com a tensão interna e têm pouco espaço para lidar com as crises externas que se aproximam”.

O líder da oposição, Yair Lapid, disse, citado pelo Haaretz, que “o extremismo e a irresponsabilidade do governo actual prejudicaram muito a dissuasão”.

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