Muda o governo, não muda a vontade finlandesa de estar na NATO

A primeira-ministra Sanna Marin perdeu as eleições de domingo, mas o partido de centro-direita que as venceu anda a advogar a adesão à NATO há muito tempo.

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Petteri Orpo, vencedor das eleições do passado domingo e provável novo primeiro-ministro finlandês MIKKO STIG/EPA

A adesão formal da Finlândia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) chegou esta terça-feira, na mesma semana em que a primeira-ministra, Sanna Marin, que tomou a iniciativa de pedir a adesão, perdeu o seu lugar, depois de o Partido Social Democrata ter ficado em terceiro lugar nas eleições do passado domingo, com 19,9% dos votos, mesmo conseguindo mais votos e elegendo mais deputados que no anterior sufrágio.

A um Governo de centro-esquerda, sucede um executivo de direita, liderado pelo Partido da Coligação Nacional (20,8%) de Petteri Orpo, que já admitiu, segundo a Associated Press, poder vir a formar uma coligação com os Finlandeses, partido de extrema-direita que ficou em segundo (20,1%).

A possibilidade de formar governo com o centro-esquerda não está posta de lado, embora a tendência de voto do eleitorado finlandês aconselhe o contrário, tendo em conta que as forças de esquerda perderam a corrida, ficando reduzidas a apenas um terço dos votos. Enquanto o partido da extrema-direita, liderado por Riika Purra desde 2021, conseguiu o seu melhor resultado de sempre, sobretudo através de uma subida entre o eleitorado jovem, fruto de uma grande campanha nas redes sociais, sobretudo no TikTok.

Perante a indefinição sobre o futuro político da Finlândia a curto prazo, não admira que uma das primeiras afirmações de Orpo, logo na noite eleitoral, tenha sido para acalmar os seus agora parceiros na NATO e sublinhar que, em relação ao apoio de Helsínquia ao esforço de guerra ucraniano, nada muda com a saída de Sanna Marin.

“Em primeiro: para a Ucrânia, estamos convosco”, adiantou em declarações à AP. “Não podemos aceitar esta terrível guerra. E faremos tudo o que for preciso para ajudar a Ucrânia, o povo ucraniano, porque lutam por nós.” Ao mesmo tempo que assegurava a continuidade no apoio a Kiev, o antigo ministro das Finanças não se esquecia de enviar uma mensagem clara ao Presidente russo, Vladimir Putin: “Vá embora da Ucrânia porque irá perder.”

No entanto, a evolução política finlandesa é ainda uma indefinição a curto prazo. Orpo fez campanha com acento tónico na recuperação económica e a mensagem defendida é a de que pretende pôr a economia finlandesa “em ordem”. E as ideias para a economia são o que mais aproxima o Partido da Coligação Nacional do partido dos Finlandeses.

A Finlândia aumentou nos últimos anos o seu orçamento da Defesa e já gasta acima dos 2% do PIB estabelecido pela Aliança Atlântica, o que não obriga a novos esforços de acerto e o partido anda a defender a adesão à NATO há duas décadas. “Mas não será fácil” manter esse compromisso, disse à Associated Press Juhana Aunesluoma, professora de história política da Universidade de Helsínquia, uma vez que o executivo pretende introduzir cortes no Estado social para equilibrar o orçamento.

Para lembrar o que espera o novo Estado-membro da NATO do seu vizinho hostil, o site do Parlamento finlandês foi paralisado esta terça-feira por um ataque informático. O grupo de hackers pró-russo NoName057, que no passado atacou os Estados Unidos e outros países ocidentais, reivindicou o ataque, alegadamente em nome do Governo da Rússia.

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